No final da manhã de quinta-feira (17/10), uma deputada do PSL disse – quase gritou: “Bolsonaro está desmoralizado”, quando o atual líder, Delegado Waldir, foi mantido no cargo.
O Bolsonaro a que ela se referia era o derrotado Eduardo Bolsonaro, candidato do pai a substituir Delegado Waldir.
Mas o termo cabe também para Jair Bolsonaro: ninguém achava – ou jamais achou – que Eduardo Bolsonaro tomara a iniciativa de derrubar o líder do PSL (como, aliás, qualquer outra iniciativa política) por conta própria.
Bolsonaro (o pai) ligou para os deputados do PSL para colocar o próprio filho na liderança da bancada na Câmara – algo que pareceu espantoso, em se tratando do Presidente da República, para aqueles velhos jornalistas que nunca viram isso (o país, também não).
Algo próprio dos mafiosos, que só confiam (se é que a palavra é essa) na família – a tal ponto que Eduardo Bolsonaro tornou-se postulante, ao mesmo tempo, a embaixador nos EUA e a líder do PSL na Câmara. Para as duas funções, uma nos EUA e a outra no Brasil, foi indicado pelo pai – e sua única credencial era (ou é) ser filho do capo.
Mas, pouco depois, ocorreu algo mais espantoso. Pelo menos quatro deputados gravaram suas conversas com Bolsonaro, e as gravações apareceram:
“Olha só, nós estamos com 26, falta uma assinatura para a gente tirar o líder, tá certo, e botar o outro e a gente acerta. Entrando o outro agora, dezembro tem eleições para o futuro líder a partir do ano que vem. A maneira como está, que poder tem na mão atualmente o presidente, o líder aí? É o poder de indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, é promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições, é isso que os caras têm. Mas você sabe que o humor desses caras de uma hora para a outra.”
Somente para o encontro de cabeças de bagre que Eduardo promoveu no último fim de semana, os Bolsonaros pegaram R$ 1,6 milhão do fundo partidário (R$ 1,1 milhão para o encontro e R$ 500 mil para um pré-encontro: v. HP 15/10/2019, O encontro da Ku Klux Klan com a mulher da goiabeira).
Além disso, ainda há o “fundo eleitoral” – ao qual Bolsonaro se referiu.
Porém, as coisas espantosas continuaram. Em seguida, apareceram os áudios das conversas de Bolsonaro:
– Áudio 1.
– Áudio 2.
– Áudio 3.
– Áudio 4.
Resumindo: os deputados com quem Bolsonaro articulava a substituição de Delegado Waldir pelo seu filho, divulgaram as conversas de cocheira do presidente da República, por sinal, membro de seu próprio partido.
Será que isso alguma vez existiu? Provavelmente, não, até porque nunca houve nada parecido com Bolsonaro na Presidência (nem Collor) . Nem jamais houve um amontoado tão desclassificado de oportunistas, como o PSL, no papel de partido governista.
Significativamente, quem divulgou os áudios foi a equipe da revista Crusoé, que não pode ser acoimada de comunista, esquerdista, nem mesmo de progressista.
Porém, antes que o leitor seja induzido a erro, não houve votação na bancada para decidir quem era o líder. O que houve foi uma competição de listas de deputados do PSL, enviadas à Mesa da Câmara – duas delas (no que foi anunciado como uma sensacional estratégia bolsonarista) pediam a substituição de Delegado Waldir por Eduardo Bolsonaro; uma outra pedia a manutenção do atual líder do PSL.
Ganhou a última, pois Bolsonaro filho enfiou uma assinatura inválida na sua primeira lista e três assinaturas inválidas na segunda, todas anuladas pela Secretaria Geral da Câmara.
Aí, derrotado Bolsonaro, foi a vez de Delegado Waldir aparecer numa gravação – em um encontro da bancada no gabinete da liderança do PSL – com a seguinte peroração:
“Eu vou implodir o presidente. Não tem conversa. Eu implodo ele. Eu sou o cara mais fiel. Acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu andei no sol em 246 cidades para defender o nome desse vagabundo.”
O deputado diz que vai expulsar todos os que assinaram as listas de Eduardo: “Nós vamos expulsar, e aqueles que fizerem nós vamos expulsar um por um do partido, ok? A situação é essa. Nós vamos expulsar um por um do partido”.
Assim, provavelmente, a parte dos fundos – partidário e eleitoral – dos que ficarem, será mais obesa.
Na mesma gravação, uma deputada descreve uma reunião com Bolsonaro no Palácio do Planalto: “Os meninos chegaram lá e o presidente disse: ‘Assina senão é meu inimigo’”.
Um deputado, concordando com a descrição da colega, acrescenta: “Eu não consegui não assinar”.
O sujeito pretende ser representante do povo com essa pusilanimidade…
Mas somos nós que estamos errados: essa turma jamais pretendeu ser representante nem do povo brasileiro nem do povo marciano. São apenas alguns arrivistas de baixíssima extração.
Mas a primeira expulsão – ou quase isso – veio de Bolsonaro: demitiu a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo, porque ela assinou a lista de apoio ao Delegado Waldir.
A demissão foi anunciada pelo porta-voz de Bolsonaro, Rêgo Barros.
Disse a deputada que ganhou “uma carta de alforria”.
Finalmente uma deputada confessando que o bolsonarismo é um navio negreiro, inclusive para brancos, como é o seu caso.
Porém, é um navio de escravos no qual ela ficou, ficaria – se Bolsonaro não a demitisse – e ficará, pois diz ela que somente apoiou Delegado Waldir contra Bolsonaro “para proteger o presidente”.
Cada um tem o gosto que lhe cabe – e que merece.
C.L.