A Tailândia e o Camboja concordaram no sábado (27) com um cessar-fogo “imediato” no conflito na fronteira entre os dois países, que deixou pelo menos 47 mortos e mais de 900 mil deslocados em três semanas
O comunicado foi assinado pelos dois países, culminando os esforços pelo fim dos combates da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) – cujos ministros das Relações Exteriores realizaram no dia 22 uma reunião de emergência -, bem como da China e dos EUA. Nessa reunião, as duas partes haviam concordado em iniciar negociações diretas.
De acordo com a declaração conjunta, o cessar-fogo entra em vigor ao meio dia (hora local) e os civis residentes nas áreas fronteiriças afetadas podem retornar às suas casas “o mais rápido possível, sem obstruções e com total segurança e dignidade”.
Assim, as centenas de milhares de deslocados pelo conflito, que vinham sendo forçados a dormir em tendas ou abrigos superlotados, poderão passar o Ano Novo em casa. Dos mortos, 26 são tailandeses e 21, cambojanos.
O acordo inclui o congelamento das posições militares, a libertação, por Bangcoc, de 18 soldados cambojanos após 72 horas de cessar-fogo, a remoção de minas das áreas fronteiriças e a cooperação no combate ao cibercrime. Os 18 soldados cambojanos estavam cativos desde julho.
O cessar-fogo foi assinado pelo ministro cambojano da Defesa, Tea Seiha, e por seu homólogo tailandês, Natthaphon Narkphanit, no Comitê Geral de Fronteiras na província de Chanthaburi, Tailândia.
Uma longa disputa de fronteira, herdada do período colonial francês, que a impôs, é a causa do conflito, que explodira em julho, após acusações mútuas de violações, quando os combates duraram cinco dias. O conflito envolve também antigos templos, inclusive o de Preah Vihear, declarado patrimônio da Humanidade pela Unesco.
O confronto de julho havia sido listado pelo presidente dos EUA Donald Trump como uma das “sete guerras” que ele teria “encerrado”. Neste dia 12, Trump havia chegado a proclamar uma trégua, que gorou.
Segundo a Reuters, o cessar-fogo estava em vigor cerca de duas horas após entrar em vigor ao meio-dia e, “até o momento, não houve relatos de disparos”, citando um porta-voz do Ministério da Defesa tailandês. O lado cambojano também não relatou nenhum confronto.
“Podem confiar na Tailândia. Sempre respeitamos nossos acordos e compromissos. Que esta seja a última assinatura, para que a paz seja restaurada e nosso povo possa voltar para casa”, declarou o primeiro-ministro tailandês, Anutin Charnvirakul. As eleições parlamentares na Tailândia estão marcadas para 8 de fevereiro.
A China acolheu com satisfação o acordo. “Isto demonstra que o diálogo e a consulta são uma forma viável e eficaz de resolver disputas complexas. A China está pronta para continuar a fornecer uma plataforma e a criar condições para que o Camboja e a Tailândia tenham uma comunicação mais completa e detalhada”.
O comunicado de Pequim também instou Camboja e Tailândia a “consolidarem o cessar-fogo, retomarem as trocas comerciais, reconstruírem a confiança política, alcançarem uma recuperação nas relações bilaterais e manterem a paz regional”.
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, saudou o cessar-fogo entre a Tailândia e o Camboja, acrescentando esperar que “abra caminho para o reforço da confiança e da paz”.
O cessar-fogo “reflete um reconhecimento mútuo de que a contenção é necessária, sobretudo no interesse dos civis”, afirmou o premiê da Malásia, Anwar Ibrahim, sob cuja mediação foi alcançado o acordo em julho. “Essas medidas fornecem uma base para a estabilidade e tenho esperança de que ambos os lados as cumpram. Fielmente”.
A China anunciou que, por convite de seu chanceler Wang Yi, o Vice-Primeiro-Ministro e Ministro das Relações Exteriores do Camboja, Prak Sokhonn, e o Ministro das Relações Exteriores da Tailândia, Sihasak Phuangketkeow, liderarão delegações para se reunirão em Yunnan de domingo a segunda-feira. Representantes das forças armadas dos três países também participarão das negociações.











