
Continua repercutindo o relatório da Reuters que acusa a gigante farmacêutica e da higiene, Johnson & Johnson, de ocultar, durante décadas, que estava ciente de que seu talco para bebê continha amianto, substância cancerígena, revelação que provocou um solavanco em Wall Street, que apagou US$ 40 bilhões na capitalização de mercado da empresa – 10%.
Em julho, um júri em Saint Louis (Missouri), nos EUA, considerou a J&J culpada em processo movido por 22 mulheres, que a responsabilizaram por desenvolverem câncer após uso do talco para bebê, com a empresa condenada a pagar US$ 4,7 bi de indenização. A multinacional recorreu.
No ano passado, uma corte de Los Angeles chegou a condenar a J&J a pagar 417 milhões de dólares a uma mulher que desenvolveu câncer de ovários após usar o talco em pó durante anos, por considerar que a empresa não alertara adequadamente sobre o risco associado ao uso do produto. Mas, na fase de apelação, a J&J prevaleceu.
Há quase 12 mil processos sobre o amianto no talco para bebê em andamento nos EUA, dos quais milhares são de mulheres com câncer no ovário.
De acordo com a Reuters, desde pelo menos 1971 até o começo dos anos 2000, executivos da empresa, gerentes de minas, cientistas e médicos estavam a par de que o talco estava contaminado com pequenas quantidades de amianto, mas ocultaram o fato das autoridades regulatórias e do público.
O caso veio à tona agora em decorrência da empresa ter sido obrigada a compartilhar milhares de páginas de memorandos, relatórios internos e informações confidenciais com os advogados das milhares de pessoas com câncer que estão processando a J&J e atribuem a doença ao uso do afamado talco de bebê.
Segundo a agência de notícias, relatórios produzidos entre 1957 e 1958 por um laboratório assinalaram a presença de tremolite fibrosa no talco do fornecedor da J&J na Itália. “Esse é um dos seis minerais que, em sua forma fibrosa original, é classificado como amianto”, diz a Reuters. A Organização Mundial para a Saúde (OMS) classificou o amianto como cancerígeno em 1987 e considera que não existe nível seguro de exposição à substância.
A Reuters cita ainda que a presença do amianto no talco para bebê foi identificada, ainda, em testes de 1971 da Mount Sinai Medical Center e, novamente, da Rutgers University em 1991, embora admita que a maioria dos testes em décadas passadas não haja achado nada. Um cientista da Universidade de Minnesota encontrou o que chamou de “amianto incontrovertível” em um teste com o talco em 1972. Esses três testes de três laboratórios diferentes, de 1972 a 1975, que encontraram amianto no talco da empresa, não foram relatados ao FDA, o órgão federal sanitário responsável, acrescentou.
A agência de notícias assevera que os próprios laboratórios da J&J, no início dos anos 2000, periodicamente encontraram “pequenas quantidades de amianto no talco das minas que forneciam o mineral para o pó de talco e outros produtos cosméticos”. Ainda, testes feitos a pedidos de demandantes de processos por câncer também mostraram a presença de traços do amianto.
Como assinalou a Reuters, “embora muitas pessoas expostas (ao amianto) nunca tenham desenvolvido câncer, para algumas, mesmo porções pequenas são o suficiente para desenvolver a doença anos depois”. “Muitos requerentes (pessoas que processam a Johnson & Johnson) alegam que a quantidade ingerida quando eles jogavam o talco contaminado em si mesmos foi o suficiente (para desenvolver a doença).”
A J& J veio a público contestar o relatório da Reuters, que classificou de unilateral e falso, e asseverou que seu talco para bebê é seguro e não contém amianto, como demonstrado por “milhares de testes independentes”.