Um tribunal militar israelense decidiu na última quarta-feira prorrogar a prisão de Ahed Tamimi, a palestina de 16 anos filmada dando um tapa em um soldado da ocupação que tinha disparado bala de borracha na cabeça de seu primo, de apenas 14 anos. “Vi os mesmos soldados que haviam disparado contra meu primo Muhammad e não pude me conter”, declarou Ahed ao juiz Haim Balilty. O militar a acusou de ser “muito perigosa”, negando a possibilidade de que pagasse fiança e mantendo seu encarceramento até o julgamento.
Até o fechamento desta edição, Muhammad Tamimi, atingido no rosto, havia sido submetido a uma cirurgia para estancar o sangramento interno grave, encontrando-se sedado em um hospital palestino.
Ahed foi presa na madrugada de 19 de dezembro, em sua casa, no povoado de Nabi Saleh, ao norte de Ramala. Logo depois foram detidas sua mãe e uma prima. A jovem responde por 12 acusações, entre elas a de lançar pedras – punível em Israel com até 10 anos de prisão – incitamento e ameaça a soldados fortemente armados, que portavam capacetes e vestimenta militar.
As “rondas” invasoras – e os conflitos – voltaram a se acirrar após o 6 de dezembro, quando Trump anunciou Jerusalém como capital de Israel. Desde então, centenas de jovens palestinos foram presos e mais de uma dezena foram assassinados pelo exército sionista na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
“Os soldados israelenses agiram com crueldade e violência, batendo até mesmo nas crianças”, denunciou Bassem Tamimi, pai de Ahed, frisando que no momento da prisão também “causaram danos materiais, confiscaram celulares, câmaras e outros dispositivos eletrônicos”. Segundo Bassem, que já foi detido nove vezes pelo exército israelense, “Ahed é forte, resistente, crê que a justiça prevalecerá e está disposta a combater a ocupação”.
Conforme a advogada da adolescente, a israelense Gabi Lasky, desde a detenção já mudaram várias vezes Ahed de prisão, sem que sequer tenha podido vestir outra roupa. “Fazem isso para tentar romper sua moral”, denunciou a advogada, frisando que a decisão viola convenções internacionais de bem-estar infantil. “Tenho a certeza de que vão querer mantê-la presa durante o maior período de tempo possível, porque não querem vozes de resistência fora da prisão”, informou.
O grupo israelense de direitos humanos B’Tselem manifestou seu repúdio à decisão do juiz: “A prisão preventiva – mesmo de menores – faz parte da rotina de opressão que Israel emprega contra os palestinos, com o apoio total dos tribunais militares, um sistema em que juízes e procuradores são sempre militares, os réus sempre palestinos e a taxa de condenação é de quase 100%”. “Tais procedimentos revelam a desgraça do regime militar de Israel como um todo, e de seus tribunais militares em particular”, destacou a organização, acrescentando que “o chamado sistema de justiça é um dos mecanismos mais ofensivos empregados no regime de ocupação”. Na verdade, frisou o B’Tselem, “seu objetivo não é servir à verdade e à justiça, mas preservar o controle de Israel sobre o povo palestino. Isso é verdade para a família Tamimi – e de milhares de outros”.
Em entrevista à rádio do exército, o ministro da Educação de Israel, Naftali Bennet, disse que a adolescente palestina “devia acabar os seus dias na prisão”. A idade mínima para um palestino ser preso em Israel é de 12 anos.
Diante das reiteradas atrocidades do regime de Israel, Madla Mandela, neto do histórico líder sul-africano contra o regime de segregação racial, conclamou a comunidade internacional para que se some ao boicote ao estado de Israel, que mantém “o pior regime de apartheid”.