
Professora denunciou precarização da Educação pelo governo de São Paulo: “É uma ‘reorganização’ às escondidas, é um enxugamento da rede que resulta na demissão dos professores, na exclusão das matrículas”, disse Flávia Biscain ao HP
A professora Flávia Biscain denunciou o desmonte da Educação pelo Governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) através do fechamento de salas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e também no ensino regular.
“Essa política de fechamento de salas é geral. Ela atinge inclusive noturno, mas também é matutino, é geral aqui na região. Isso é muito grave, está acontecendo por fora da legislação, de maneira escondida. A secretaria (Educação) nega o fechamento, mas para dar um dado, fizemos o levantamento de 20 escolas que foram atingidas só aqui na Diretora de Ensino Norte 1” que tiveram o fechamento de salas no meio do bimestre”, disse Flávia, em entrevista à Hora do Povo.
Flávia é professora de Sociologia em uma escola da rede estadual na região da Brasilândia, zona Norte de São Paulo. Ela preferiu não citar o nome da unidade para evitar possíveis retaliações. Em fevereiro deste ano, a dirigente sindical conseguiu driblar o esquema da segurança e ficou frente a frente com Tarcísio, quando ele visitava as obras da Linha 6-Laranja do Metrô, na região.
“Eu estou aqui hoje porque a gente está muito preocupada. Eu sou moradora aqui da Brasilândia, faz muito tempo que a gente espera a obra do metrô. […] Uma obra que já nasce privatizada, e a gente está tendo o mesmo problema com as escolas”, disse, durante a abordagem.
“Você leiloou as escolas estaduais na Bolsa de Valores, enquanto cortou verbas da Educação. Escolas privatizadas para dar lucro para empresa privada […]. Os professores estão se sentindo abandonados. E sabe o que aconteceu ontem? Nós vimos filas e filas de pais, centenas de pais, que não estão conseguindo matricular seus filhos nas escolas, porque eles dizem nas diretorias que não têm vaga”, continuou.
“As escolas estão perdendo vagas porque você está enxugando a rede, negando educação para os filhos dos trabalhadores e qualidade de trabalho para os professores”, continua o vídeo.
A precarização do ensino pelo governo Tarcísio que afeta direitos, promove exclusão e desemprego, reflete a lógica privatista, principal marca do atual governo paulista.
“A legislação diz que não pode ser feito isso no meio do bimestre porque tem um prejuízo, até para a questão pedagógica, os alunos tão sendo remanejados para outras turmas que estão ficando superlotadas, sem climatização adequada”. “Os professores estão perdendo essas aulas, muitos deles que estão conseguindo emprego agora já estão perdendo (a vaga) porque fecharam as salas, então a situação está insustentável”, alertou Flávia ao HP.
“É uma ‘reorganização’ às escondidas, é um enxugamento da rede que resulta na demissão dos professores, na exclusão das matrículas, porque o aluno que tem 15 faltas mesmo intercaladas, mesmo que trabalhe, que tenha ficado doente, está tendo a vaga dele retirada da escola”, denuncia.
DESTRUIÇÃO DO EJA
Na Educação de Jovens e Adultos (EJA), a situação é ainda mais preocupante, segundo a professora. “Isso está acontecendo todos os dias nas escolas estaduais. E no caso do EJA, é mais grave porque é uma política de acabar com a EJA presencial. Eles (governo) vão fazer um projeto piloto com EJA à distância, que a previsão é começar no segundo semestre de 2026”.
“A minha escola, por exemplo, é uma escola que teve fechamento do EJA. Atualmente o noturno conta com três salas apenas. Primeiro ano do EJA não tem quase nenhuma escola da região e essa é uma política para o estado inteiro, então é um desmonte mesmo da EJA”, reitera a sindicalista.
“O estudante trabalhador está sendo jogado para fora da escola e é uma situação muito grave mesmo, que interfere no direito à educação para quem já teve esse direito negado há tantos anos. E segue tendo esse direito negada agora”, critica.
“A previsão é que fique uma escola como escola-pólo de EJA à distância, mas isso não está regulamentado ainda, só que o fechamento do EJA já está acontecendo”, sustenta Flávia. Ou seja, ao arrepio da lei. Essa informação, de acordo com a professora, foi repassada ao sindicato pela Secretaria de Educação.
A proposta do governo para o ensino de jovens e adultos consiste em que o estudante seja submetido a 80% das aulas via plataforma e os outros 20% em sala, com professor. O governo Tarcísio/Feder (Renato Feder, secretário de Educação) anunciou projeto-piloto em 21 Diretorias de Ensino para a oferta de Educação de Jovens e Adultos de ensino médio na modalidade à distância.
As plataformas não garantem o aprendizado, argumenta a sindicalista. “A outra questão é o próprio programa das plataformas digitais, os alunos não estão aprendendo nada com essas plataformas. É uma cobrança absurda de metas, um assédio moral constante em cima dos professores e até das direções das escolas”, denuncia Flávia.
Durante a conversa com o HP, a professora apontou as contradições do Governo de SP para justificar a privatização de escolas.
“O leilão das escolas vai permitir (abrir) 35 mil vagas a mais nas escolas que vão ser construídas já privatizadas. Mas olha a contradição, né? Ele está querendo privatizar para construir mais vagas, mas ao mesmo tempo tá fechando milhares de salas de aula no estado inteiro nas escolas que já existem”, concluiu a coordenadora da APEOESP.
MOBILIZAÇÃO
No próximo dia 25, às 14h, o sindicato realiza assembleia em frente à Secretaria da Educação, na Praça da República, para organizar a greve aprovada para começar na data, por reajuste salarial, condições de trabalho, privatizações, fechamentos de salas, entre outros pontos.
JOSI SOUSA