Tarcísio debocha das mortes por metanol: “só vou me preocupar se atingir a Coca-Cola”

Tarcísio e o deboche com metanol (reprodução)

“No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar”, disse o político em desrespeito aos paulistas e brasileiros

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, repetiu o que fez o condenado Jair Bolsonaro, quando ocupava o Palácio do Planalto, durante a tragédia da pandemia de covid-19. Na época Bolsonaro debochou das mortes causadas por covid. O desrespeito de Tarcísio ao povo de São Paulo ocorreu durante coletiva nesta segunda-feira (6) ao comentar a reunião com representantes do setor de bebidas sobre os casos de intoxicação por metanol no estado. Ele fez piada com a Coca-Cola.

“Nós ouvimos uma vontade enorme de colaborar. Quem estava aqui eram os maiores fabricantes de bebidas que são objetos de falsificação. Não vou me aventurar nessa área que não é minha praia. No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar. Ainda bem que não chegaram nesse ponto”, disse o governador, em tom bem-humorado. O estado de São Paulo concentra a maior parte dos 217 casos notificados de intoxicação por metanol no Brasil.

O pânico se generalizou pois qualquer pessoa está sujeita à intoxicação já que os meios de controle foram afrouxados durante a desastrada administração bolsonarista. Neste período todo tipo de fiscalização foi desmontado. O Sistema de Controle de Produção (Sicobe), que monitorava em tempo real a fabricação e registrava a origem de cada produto, foi desativado em 2016 pela Receita Federal. Deste então, não houve substituição ou modernização do mecanismo, que poderia auxiliar na identificação da origem de produtos adulterados.

Metanol encontrado em bebidas adulteradas (reprodução)

Há uma polêmica se Tarcísio riu da situação ou estava sério no momento do deboche. Bolsonaro estava de cara fechada ao cometer uma de suas frases mais famosas durante a pandemia do covid-19, que mataria mais de 700 mil pessoas. A frase: “Eu não sou coveiro”. Antes ao imitar uma pessoa morrendo com falta de ar, ele e seus apoiadores já estavam dando risadas. Tarcísio mostrou desrespeito pelos mortos e sequelados da tragédia atual e revelou descaso com a situação e com os perigos à população.

Do total de casos, 164 são em São Paulo – 15 confirmados e 149 em investigação. Quanto à notificação de mortes, o país tem 12 registros, com dois óbitos confirmados no estado de São Paulo e 10 em investigação. Na atualização desta segunda-feira (6), o estado de São Paulo passou de 192 notificações (14 confirmadas e 178 em investigação) para 179 (15 confirmadas e 164 em investigação). Ou seja, o estado de São Paulo responde por mais de 80% dos registros nacionais.

A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), ligada ao Ministério da Justiça, emitiu alerta sobre a gravidade do cenário. Segundo o órgão, diferentemente de casos anteriores, as intoxicações agora ocorrem em cenas sociais de consumo, o que eleva o risco de surto epidêmico. “A ingestão de metanol provoca intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração exige resposta rápida das autoridades sanitárias e atenção redobrada da população, sobretudo em períodos de maior consumo, como os fins de semana”, destacou a Senad em nota.

O descaso é tamanho que universidades desenvolveram métodos de detecção rápida do metanol em bebidas e foram desprezadas pelas autoridades. Há três anos, por exemplo, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveu pesquisa sobre detecção de metanol, que é capaz de identificar adulterações em bebidas destiladas. O método desenvolvido pelos pesquisadores da universidade foi, inclusive, patenteado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), mas não foi adotado por conta do desmonte dos órgãos de controle.

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