A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) divulgou uma nota de repúdio após o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, desqualificou a importância do diploma durante um evento na capital paulista nesta semana. “A CTB-SP manifesta seu veemente repúdio às declarações do governador Tarcísio de Freitas, feitas nesta quinta-feira (13), durante evento de Educação, nas quais afirmou que ‘o diploma tem cada vez menos relevância’”, afirma trecho do manifesto.
A declaração de Tarcísio ocorreu em encontro voltado à expansão do Ensino Médio Técnico no estado, às vésperas do segundo dia de provas do Enem. No evento, o governador argumentou que “o diploma tem cada vez menos importância” e que o mercado de trabalho estaria mais atento às competências individuais do que à formação acadêmica. “O mercado está cada vez mais interessado em saber quais são suas habilidades e menos interessado em onde você se formou. O mercado quer saber cada vez mais: você consegue se comunicar? Você se comunica bem, porque o bom gerente é aquele que se comunica 95% do tempo dele”, disse.
Para a CTB, esse posicionamento desconsidera e desqualifica o papel da educação no país. “Ao desqualificar a formação acadêmica e técnica, o governador ataca frontalmente o papel da educação pública, das universidades, dos institutos federais, das escolas técnicas, dos professores e de todos os trabalhadores e trabalhadoras que dedicam suas vidas ao estudo e ao conhecimento”, continua a nota. A entidade reforça que se trata de uma “visão perigosa, que naturaliza o desmonte das políticas educacionais, fragiliza a valorização profissional e reforça um modelo de sociedade que aprofunda desigualdades”.
O presidente do Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial (UDEMO), Chico Poli, também condenou as declarações. Para ele, um chefe do Executivo estadual não deveria desprezar a formação escolar. “Um governador de Estado, do Estado mais desenvolvido do país, falar um absurdo desse, dizendo claramente o seguinte: ‘diploma não vale nada!’. Ele teria que falar o contrário, ou seja, incentivar todas as crianças, todos os jovens a buscarem realmente as escolas, as universidades, educação superior, além da educação fundamental, do ensino básico, para tentar realmente melhorar a sua qualidade de vida”, afirmou.
Chico classificou a postura como negacionista e reducionista. “Se não for exatamente para aplicação do diploma, [a formação serve] para melhorar a sua qualidade de vida em termos de entender melhor o mundo. Isso aí tem uma influência grande na própria saúde, na segurança. Quer dizer, (Tarcísio) é um negacionista, realmente um ogro, falar um absurdo desse”, criticou. Ele retomou o argumento da CTB ao reforçar que “o mercado de trabalho não se constrói apenas com ‘habilidades práticas’, mas com formação sólida, investimento público em educação e condições dignas de estudo e trabalho”.
As críticas foram reforçadas por Fábio de Moraes, primeiro-presidente da APEOESP, que relacionou o discurso de Tarcísio a uma concepção de educação oriunda do bolsonarismo. Para ele, esse projeto busca restringir o acesso dos jovens trabalhadores ao ensino superior. “Universidade pra quê? Não é para todo mundo. Eles têm um pensamento dessa elite atrasada, de que a escola é só para poucos, os privilegiados. Ele verbalizou isso (Milton Ribeiro, ministro da Educação na gestão bolsonarista). Mas todos eles pensam assim. Lamentável”, disse.
Fábio relembrou declarações de 2021 do então ministro da Educação, Milton Ribeiro, que defendia abertamente que jovens pobres deveriam priorizar cursos técnicos – não a universidade. “Com todo o respeito que tenho aos motoristas, é uma profissão muito digna, mas tem muito engenheiro, muito advogado dirigindo Uber porque não consegue colocação devida. Mas se ele fosse um técnico em informática estaria empregado, porque há uma demanda muito grande”, argumentou Ribeiro, ao justificar que a universidade não seria necessária para a classe trabalhadora.
Na mesma entrevista, o ex-ministro reforçou que “o futuro são os institutos federais, como é na Alemanha”, país onde, afirmou, “são poucos os que fazem universidade”, que “deveria ser para poucos”. Ele também declarou não ver problema em jovens ricos ocuparem vagas nas universidades públicas. Após mencionar a Lei de Cotas, Ribeiro observou que metade das vagas federais é destinada a estudantes da rede pública, enquanto “as outras oportunidades acabam sendo ocupadas por candidatos que tiveram acesso a melhores condições de estudo”. E concluiu: “O que também eu acho justo, considerando que os pais desses meninos, ‘filhinhos de papai’ são aqueles que pagam os impostos no Brasil que sustentam bem ou mal a universidade pública”.
“Profundamente lamentável. Até porque estatisticamente isso daí é totalmente o oposto do que ele está dizendo. Ele bem que fez a dele (universidade)”, criticou o dirigente da APEOESP.
Em sua nota, a CTB reafirma: “O mercado de trabalho não se constrói apenas com ‘habilidades práticas’, mas com formação sólida, investimento público em educação e condições dignas de estudo e trabalho. Desvalorizar diplomas é desvalorizar o futuro do Brasil”.











