Candidato bolsonarista voltou a criticar uso das câmeras nas fardas dos policiais militares, medida que tem reduzido a letalidade em São Paulo
O terceiro debate entre os candidatos ao governo do estado de São Paulo, promovido no último sábado (17) por SBT, Veja, Nova Brasil, Estadão/Rádio Eldorado e Terra, contou com a participação de cinco postulantes e foi marcado pela polarização entre o ex-prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB).
Ao longo do encontro, que contou ainda com os candidatos Vinicius Poit (Novo) e Elvis Cezar (PDT), as críticas ao abandono federal ao Estado e às gestões de Haddad, na prefeitura, e de Rodrigo Garcia, no governo, tiveram grande destaque.
De acordo com a pesquisa Datafolha mais recente, divulgada na última quinta (15), Haddad lidera a corrida com 36% das intenções de voto. Tarcísio vem a seguir, com 22%, Rodrigo tem 19%, Elvis, 1%, e Poit, também 1%.
O debate foi marcado pelo duelo entre Rodrigo e Tarcísio. Ambos disputam uma vaga no segundo turno contra Haddad, conforme as pesquisas de intenção de voto.
Em contra-ataque a Tarcísio, o governador ressaltou o fato de o bolsonarista não ter construído sua carreira política em São Paulo. Naquele momento, o candidato de Jair Bolsonaro (PL) criticava a atual gestão estadual na Educação.
“Duvido de que você conheça algumas escolas do estado. Você chegou agora aqui, está decorando tudo, correndo, estudando para ver se consegue se dar bem em debate”, rebateu Rodrigo. “Você não conhece, não viveu São Paulo. Quem vive São Paulo sabe do esforço que a gente faz aqui para melhorar a educação.”
Os dois também se colocaram em lados opostos ao discutirem o uso de câmeras em uniformes de policiais. Tarcísio defendeu “reavaliar” e “revisar” a instalação dos equipamentos. Segundo ele, a redução de mais de 80% na letalidade policial em batalhões que já adotaram o monitoramento “é um parâmetro complicado”.
“Toda política pública precisa ser reavaliada, precisa ser revista e a gente tem que olhar não só à luz da questão da letalidade, que pra mim é um parâmetro complicado, porque passa a sensação que a gente está colocando a câmera porque desconfia dos policiais. A gente tem que olhar a questão da câmera à luz de outros indicadores”, argumentou.
Rodrigo retrucou, afirmando que “a câmera filma o bandido e protege o policial” e se comprometeu a “ampliar as câmeras nos uniformes da polícia em São Paulo”. Segundo ele, “a experiência é positiva para aumentar a proteção das famílias do estado”.
CUNHA, DOUGLAS GARCIA E COLLOR
Elvis Cezar ressaltou que o candidato bolsonarista “anda com deputado que bate em mulher”, em referência a Douglas Garcia (Republicanos), que hostilizou a jornalista Vera Magalhães no último debate; com deputado que “fala mal do papa”, em referência a Frederico D’Ávila (PL); e “corrupto”, em referência a Eduardo Cunha (PTB).
Douglas foi ao debate passado como convidado de Tarcísio, que depois tentou se desvencilhar de qualquer elo com o deputado.
O candidato do PDT mencionou ainda o apoio de Tarcísio a Fernando Collor (PTB). Ao chegar para o debate, Tarcísio afirmou que não avaliou direito o risco de gravar um vídeo de apoio ao ex-presidente.
“Às vezes isso acaba respingando, gente não reflete no risco. A gente faz de boa-fé. Foi o que fiz”, disse ele.
Também pegando carona no episódio do ataque de Douglas à Vera, mas sem mencioná-lo especificamente, Rodrigo listou suas medidas para as mulheres, público em que Bolsonaro não tem bom resultado.
Questionado sobre o episódio de Douglas, Tarcísio afirmou repudiar ataques às mulheres e prometeu uma secretaria de política para as mulheres, além de estimular o empreendedorismo feminino.
AUMENTO DA MISÉRIA AFLIGE SÃO PAULO
Fernando Haddad considerou que o aumento da miséria e o crescimento da população de rua pelas cidades é uma das questões que mais afligem o estado de São Paulo.
“As famílias não têm renda. O governo do estado congelou por dois anos o piso, o salário mínimo paulista. Durante a pandemia, enquanto o preço dos alimentos subiu, inclusive pelo aumento de ICMS sobre produtos da cesta básica e sobre a carne. Eu vou acabar com o ICMS sobre a carne e sobre os produtos da cesta básica. Vou aumentar o salário mínimo paulista. Repondo todas as perdas do governo Doria/Garcia para R$ 1.580. E vou recuperar o Minha Casa, Minha Vida com o presidente Lula, que foi liquidado durante esse período. Hoje você não tem mais verba nem federal nem estadual. Chegaram a mandar uma lei para a Assembleia Legislativa pedindo autorização para acabar com a CDHU, que é a empresa que faz moradia no estado de São Paulo. Nós estamos vivendo uma situação econômica que pensa pouco na na base da pirâmide. Pensa muito no andar de cima”, sustentou.
O ex-prefeito de São Paulo lembrou a retirada do passe livre para quem tem de 60 a 65 anos durante o governo de João Doria e Rodrigo Garcia. Em sua resposta, Garcia se comprometeu em retomar os benefícios fiscais que foram retirados pela gestão, assim como o passe livre.
Haddad criticou Rodrigo Garcia por esconder seus vínculos com o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), além de citar aumento de impostos durante a pandemia.
“Você andou com Kassab por 20 anos, foi afilhado do Kassab”, disse Haddad. “Você [Garcia] aumentou impostos durante a pandemia”, disse Haddad, citando o aumento dos preços de produtos da cesta básica e a elevação do ICMS para o setor calçadista, que já representou 40% da produção nacional e agora representa 8%.
“Não falta dinheiro. O que falta é investimento”, disse Haddad. “Quantos empregos teríamos se as obras paradas tivessem sido dinamizadas pelo governo. Várias promessas feitas não foram cumpridas. Vamos reestabelecer o modelo econômico que favoreça o mais pobre ”, completou.
FALTA DE MERENDA
Ex-prefeito de Santana de Parnaíba, na região metropolitana de São Paulo, Elvis Cezar destacou, ao ser questionado a respeito da qualidade da merenda escolar em um eventual governo, que “quando prefeito, eu fiz a melhor educação do estado de São Paulo. O maior crescimento do IDEB. E o vetor que constituía todo esse crescimento era justamente a merenda. Merenda de extrema qualidade. Ambiente público com extrema dignidade. Valorização do professor, fazendo a capacitação contínua, salário, melhoria de salário e assim nós fomos zerando a fila da creche, sendo referência no ensino fundamental 1 para o Brasil, sendo referência no ensino fundamental 2 para o Brasil, sendo referência no ensino médio e até com uma política pública de levar jovens para a universidade com o maior crescimento universitário da região metropolitana de São Paulo”, ressaltou.
“É triste saber o que o governo federal deixa de investir no que é mais precioso, no alimento das nossas crianças. E como governador qualquer falta do governo federal eu vou supri-la e vou fazer com que a educação de São Paulo seja a melhor educação do Brasil”, concluiu.