
Linha privatizadas administradas pela CCR, que recebem até 10 vezes mais por passageiro, advogam uma “compensação financeira” por supostos prejuízos à ViaQuatro durante a pandemia
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, fará um repasse de R$ 682,6 milhões à empresa privada CCR, que controla as linhas privatizadas do Metrô e da CPTM na região metropolitana de São Paulo por meio das “subsidiárias” ViaQuatro e ViaMobilidade.
Segundo informou a CCR, em um comunicado ao mercado, o dinheiro que engordará os cofres da empresa em detrimento ao transporte paulista se dará como “compensação financeira” por uma suposta perda de receita durante a pandemia para a ViaQuatro, que administra a Linha Amarela do metrô.
A empresa alega que vultuoso recurso será pago como “reconhecimento” do “direito contratual e legal da ViaQuatro de ter o contrato ajustado para que as partes não sejam prejudicadas por acontecimentos inesperados e imprevisíveis. Os valores reequilibrados foram atualizados para data base 2023”.
Tarcísio, que defende a privatização das estatais paulistas Sabesp, CPTM e Metrô, ainda não comentou o assunto. Mas não foram poucos os seus acenos aos seus amigos da CCR.
Durante a greve do transporte ferroviário em repúdio às privatizações, o atual governador teceu elogios às linhas privatizadas, citando-as como exemplo de gestão e funcionamento e ignorando as repetidas panes e descarrilamentos ocorridos nas vias do grupo CCR.
Em maio deste ano, poucos meses após assumir o governo, Tarcísio chegou a defender a entrega imediata das obras da Linha-Prata do Monotrilho, para a CCR, a revelia dos contratos firmados. Segundo ele, como a Viamobilidade já havia vencido a licitação para administrar a linha, seria justo que eles mesmo concluíssem a construção.
PRESENTE
No entanto, o “bolo” de R$ 682,6 milhões que Tarcísio deseja entregar à CCR está longe de ser o único presente para a companhia. As linhas privatizadas, todas elas controladas pela CCR, recebem até 10 vezes mais por passageiro do que as linhas administradas pelas estatais paulistas. Enquanto os passageiros pagam R$ 4,40 de tarifa cheia, a ViaQuatro recebe R$ 4,46 por cada passageiro transportado.
Já o Metrô e a CPTM recebem R$ 0,37 e 0,38 centavos (sim, centavos) por cada passageiro.
Para a presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, o repasse abusivo escancara o absurdo da privatização.
“Quanto mais cálculos a gente faz com os números da arrecadação do sistema de transporte público de SP (ônibus, metrô e trem), mais o ABSURDO PRIVATISTA É ESCANCARADO”, disse.
“A reportagem que demonstrou que as linhas privatizadas ganham 4 X mais que as estatais, mesmo transportando menos, deu uma grande visbilidade ao fato que temos alertado há bastante tempo: Privatização é transferência de dinheiro das linhas estatais para as privatizadas. Ou seja, a privatização do metrô e da CPTM seria o mesmo que você vender seu carro, mas ter que seguir pagando a gasolina pra o novo dono andar no carro. Não há vantagem nenhuma para o estado de São Paulo e nem para a população que sofre com o péssimo serviço prestado. Mas vamos aos números. Thiago Silva, técnico de transporte na CPTM, pegou o valor do repasse das tarifas para as empresas e dividiu pelo número de passageiros transportados. Enquanto a linha 4 privatizada recebeu R$4,46 por passageiro, o metrô estatal recebeu R$ 0,37”, continuou.
“E como a cara de pau de Tarcísio não tem limites. Para justificar esses números absurdos, para não chamar de roubo, Tarcísio coloca culpa no modelo de transporte centrado nas tarifas. Isso é uma cortina de fumaça e eu vou te explicar o por quê. O fato é que em TODO O LUGAR DO MUNDO o sistema de transporte público só funciona com subsídio do estado. Se dependesse só da tarifa, o preço da passagem seria exorbitante e inviável. Só esse fato já justificaria nunca privatizar o transporte público. Porque o dinheiro público, arrecadado pelos impostos, deve ser investido em serviços públicos e não transferidos para empresas privadas lucrarem, como acontece hoje com a CCR”, disse Lisboa.
“Tarcísio ao invés de investir mais no metrô estatal, podendo até baixar a tarifa se parar de dar dinheiro p/ linhas privatizadas, ele diz q vai aumentar a tarifa e as privatizações. Isso só faz sentido para um governo que não se preocupa com a população, mas em agradar bilionários”, afirmou Camila.