“A safra norte-americana está atrasada e o arroz da Ásia não vai chegar aqui mais barato do que o nosso, já que os preços externos também estão altos”, disse o presidente da Câmara, Setorial do Arroz, Daire Paiva Coutinho
O presidente da Câmara Setorial do Arroz do Ministério da Agricultura, Daire Paiva Coutinho Neto, afirmou nesta quinta-feira (10) que o fato de o governo ter zerado a tarifa de importação de arroz para países de fora do Mercosul “não deve alterar muito os preços para o consumidor final”. Daire Neto é produtor de arroz em Camaquã, município situado no Rio Grande do Sul.
“Não é tão significativa e não trará diferença muito grande ao preço do arroz para o consumidor final”, disse Coutinho Neto ao Estadão. “A safra norte-americana está atrasada e o arroz da Ásia não vai chegar aqui mais barato do que o nosso, já que os preços externos também estão altos”, avaliou Coutinho Neto, que defende a criação de políticas públicas para reduzir o custo da lavoura de arroz, que é 100% irrigada no Sul do País, além de ampliar linhas de crédito e mudar a tributação da cultura. “Tínhamos, na década de 1990, 90% das lavouras de arroz financiadas com crédito oficial [a juros subsidiados]. Hoje esse percentual não chega a 25%”.
Na quarta-feira (9), a Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão ligado ao Ministério da Economia, anunciou que zerou a alíquota, que antes era de 12%, do imposto de importação para o arroz até 31 de dezembro deste ano.
A isenção abrange uma cota de 400 mil toneladas e valerá para arroz com casca não parboilizado arroz semibranqueado ou branqueado, não parboilizado. As primeiras cargas de arroz já estão confirmadas por empresas brasileiras nos Estados Unidos e na Índia.
O arroz está mais caro em função principalmente do dólar alto e do preço alto do grão no mercado internacional, que estimulou exportações generalizada do produto para outros países, como a China. Com o dólar, o arroz importado também ficará mais caro.
Com um política que favorece exportações em detrimento do mercado interno e sem estoque reguladores, os preços dos alimentos dispararam, sendo o do arroz a maior expressão disso. Mas, o feijão, dependendo do tipo, subiu mais de 30% no ano, o leite longa vida ficou 30% mais caro e o preço do óleo de soja também disparou nos supermercados.
Nesta semana, as famílias brasileiras que buscaram um pacote de cinco quilos de arroz em supermercados encontraram o produto por R$ 23 a R$ 44, em diversas localidades do país. Tempos atrás, este produto poderia ser encontrado ao custo de R$ 13 a R$ 15.
Segundo Coutinho Neto, a Câmara Setorial do Arroz já havia decidido, na semana passada, por 16 votos a 6, contra a redução da tarifa de importação, por considerar que a medida não seria eficaz para baixar o preço do grão hoje. “Além disso, há o receio de que essa medida interfira nos preços do arroz para a próxima safra, que começa a ser plantada neste mês”.
O empresário destacou que, por falta de estímulos do governo, que ajudem a diminuir os custos da safra, os produtores brasileiros têm optado por diminuir a cultura do arroz para dar espaço à soja, que é um produto mais valorizado no mercado internacional. “Por pelo menos dez anos o produtor vem sofrendo prejuízos significativos; nas últimas cinco safras os preços recebidos vieram abaixo dos custos”. “Isso fez, naturalmente, com que muitos se sentissem desestimulados a continuar com o arroz e partissem para a soja, que remunera mais”.
Neto comenta ainda que, em Camaquã, pelo menos 20% da área de arroz foi convertida para soja nos últimos anos, saindo de 40 mil hectares para cerca de 30 mil hectares atualmente. Ele avalia que para a próxima safra, 2020/21, a área reservada para a cultura do arroz deve ser mantida, em função dos altos preços pagos atualmente pela saca, que giram em torno de R$ 110 para o produtor (em igual período do ano passado, a saca era comprada ao custo de R$ 50).
Segundo Coutinho Neto, o produtor de arroz não está se beneficiando, diretamente, com a alta dos preços do grão. “A maior parte do cereal disponível hoje já está na mão da indústria, que pagou lá atrás para o rizicultor o valor de R$ 50 por saca”. “O produtor sempre tem de antecipar vendas para adquirir insumos e vendeu pelos R$ 50 a saca, ou seja, ficou no prejuízo porque este preço não cobriu custos de produção”.