
“Tarifas de Trump só conseguem trazer sofrimento”, alerta a agência de notícias Xinhua
Sob o impacto do tarifaço amplo, geral e irrestrito do governo Trump, as bolsas da Ásia, Europa e Estados Unidos foram à lona, com advertências sobre uma “segunda-feira negra”, apesar de um boato nos EUA, depois desmentido, de que o presidente norte-americano iria proceder a “uma pausa” na histeria das tarifas.
Assim, muita espuma especulativa foi pelo ralo nessa segunda-feira (7), com a bolsa de Tóquio encolhendo 7,8%, a de Seul 5% e Hong Kong 13,2%. Em Frankfurt, a derrubada foi de 4,1% seguida de 4,6% em Paris e Londres. Os circuit breakers foram acionados várias vezes, interrompendo a liquidação.
O preço do barril de petróleo bruto de referência dos EUA caiu abaixo de US$ 63 durante a manhã pela primeira vez desde 2021. Segundo o JP Morgan, o risco de uma recessão subiu de 40 para 60%. Só em dois dias da semana passada, quinta e sexta-feira, US$ 6,6 trilhões viraram fumaça na bolsa de NY.
Em Wall Street, o índice Dow Jones Industrial encolheu 0,9% (-10,8% desde o início do ano), o S&P500 – do qual dependem as contas 401-k de que os norte-americanos dependem para aposentadoria recuou 0,2% (- 13,9% no acumulado do ano), o índice Russel das pequenas empresas contraiu 09,%, enquanto o Nasdaq (alta tecnologia) oscilou positivamente 0,1% (no ano, menos19,2%).
A fake news sobre a “pausa no tarifaço” amorteceu a queda, mas acabou desmentida pelo próprio Trump, que dobrou sua aposta, ameaçando uma sobretarifa de 50% sobre os produtos chineses se Pequim não recuar da espelhada sobretarifa de 34%. Na verdade, incluindo a sobretaxa sob pretexto do fentanyl, a China já está penalizada em 54%.
No comentário da Associated Press, as ações dos EUA “estão oscilando em uma segunda-feira maníaca” depois que Trump dobrou as tarifas, o que atribuiu a “um tapa na cara de Wall Street”, acrescentando que Trump “pode não se comover com sua dor”.
No domingo (6), ele disse a repórteres a bordo do Air Force One que não quer que os mercados caiam. Mas que também não estava preocupado com uma liquidação, dizendo que “às vezes você tem que tomar remédio para consertar alguma coisa”.
Diante da ameaça de que o tarifaço de Trump interrompa cadeias de suprimentos globais, puxe uma alta na inflação e mergulhe os Estados Unidos – e o mundo – numa contração econômica, o banco JP Morgan aumentou de 40% para 60% o risco de recessão nos próximos doze meses.
Como assinalou a agência de notícias Xinhua, “’tarifas recíprocas’ só levam a sofrimento recíproco”. Assim, de acordo com um estudo da Universidade de Yale, as tarifas recíprocas incorrerão nos Estados Unidos em um aumento de nível de preços de 2,1% no mínimo, caso outros países optem por retaliar. Isso equivale a uma perda de milhares de dólares por família, em média. Enquanto isso, o crescimento econômico geral dos EUA cairá um ponto percentual em 2025.
“CHANTAGEM TARIFÁRIA NÃO INTIMIDARÁ A CHINA“
Editorial do Global Times, jornal chinês de língua inglesa que atua como porta-voz informal de Pequim, enfatizou que “a chantagem tarifária não intimidará a China, nem prejudicará a justiça”. A China – acrescenta a publicação – “não provoca problemas, nem se intimida com problemas. Pressionar e ameaçar não é a maneira certa de lidar com a China”.
Após denunciar que Washington usou as tarifas “como uma ferramenta para pressão extrema e para perseguir interesses egoístas”, o GT assinalou que a série de contramedidas anunciada pela China expressam sua determinação de “defender sua soberania, segurança, desenvolvimento e defender a equidade e a justiça internacionais”.
“As contramedidas não são um apelo ao confronto, mas uma declaração para defender a justiça”, sublinhou, destacando que, enquanto os EUA empunham repetidamente o bastão tarifário, “a China respondeu consistentemente com razão, força e contenção”.
“Não importa como os EUA a reprimam ou pressionem, a China permanece firme em seu desenvolvimento e progresso, disse o GT. Mais importante, a China está está disposta a contribuir para o progresso global por meio de seu próprio desenvolvimento. Isso reflete a grande visão da nação chinesa, incorporando a busca de valor de promover a construção de uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade”
Por sua vez o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, citando dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), condenou nesta segunda-feira o tarifaço imposto por Trump contra mais de 180 países e regiões pelo mundo, que chamou de “ato hegemônico”, “em nome da ‘reciprocidade’”, em detrimento dos interesses legítimos de outros países. ”O desenvolvimento é um direito universal de todos os países, não um privilégio exclusivo de alguns”.
Ele advertiu que o tarifaço irá ampliar ainda mais a desigualdade de riqueza entre os países e dificultar tarefas como a erradicação da pobreza e a implementação de uma educação de qualidade. “Os menos desenvolvidos sentirão um golpe mais pesado”, afirmou.
Segundo o alto diplomata, as tarifas distintas aplicadas a cada país evidenciam uma violação dos princípios de não discriminação estabelecidos pela OMC.
Ele convocou os países a “permanecer comprometidos com o verdadeiro multilateralismo”, opor-se conjuntamente ao unilateralismo de todas as formas, “salvaguardar a ordem internacional com a ONU em seu núcleo e defender o sistema comercial multilateral com a OMC em seu centro”.
CONTRAMEDIDAS
Dando início a uma resposta ao tarifaço de Trump, a Comissão Europeia propôs tarifas de 25% sobre uma série de produtos dos EUA nesta segunda-feira (7), que impactarão cerca de US$ 28 bilhões de exportações norte-americanas, em resposta à taxação sobre aço e alumínio, mostra um documento visto pela Reuters. Os produtos sobretaxados vão de diamantes a fio dental e soja. A proposta será votada pelos estados-membro da UE na quarta-feira (9).
Iniciativa do Vietnã, de propor zerar as tarifas, foi rechaçada pelo conselheiro de comércio de Trump, Peter Navarro, que a chamou de “insuficiente”. “Mesmo que eles zerassem nossas tarifas e nós zerássemos as deles, ainda assim teríamos um déficit comercial de cerca de US$ 120 bilhões com o Vietnã”, disse Navarro ao programa Sunday Morning Futures, da Fox News.
Matéria escrita com informações da agência de notícias Xinhua