
Horas após a divulgação de que a geração de empregos nos EUA desacelerou para 35.000 na média dos últimos três meses, o presidente Donald Trump demitiu sumariamente a chefe do Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS, na sigla em inglês) na sexta-feira (1º). A desaceleração ocorre em meio ao tarifaço decretado por Trump em 2 de abril.
Não apenas o crescimento do emprego não atendeu às expectativas do governo Trump em julho, mas as estimativas anteriores para maio e junho foram revisadas significativamente para baixo. Maio foi revisado para baixo em -125.000, de +144.000 para +19.000, e Junho foi revisado para baixo em – 133.000, de +147.000 para +14.000.
Com isso, o emprego em maio e junho combinados é 258.000 menor do que o relatado anteriormente. O que significou que o crescimento do emprego nos últimos 3 meses (maio, junho e julho) foi em média de 35.000, o pior resultado desde a pandemia de covid.
Diante do que, através de sua rede Truth Social, o presidente dos EUA asseverou que “os números de empregos de hoje foram MANIPULADOS para fazer os republicanos e eu parecermos ruins”.
Segundo ele, Erika McEntarfer, comissária de estatísticas do Trabalho, teria “falsificado” números de emprego no período que antecedeu a eleição do ano passado, em um esforço para aumentar as chances de vitória de Kamala Harris.
Alegações para as quais não apresentou qualquer evidência, enquanto insistia que a economia dos EUA estava, de fato, “CRESCENDO” sob seu segundo mandato.
“Precisamos de números precisos de empregos”, escreveu Trump no Truth Social. “Eu instruí minha equipe a demitir este nomeado político de Biden, IMEDIATAMENTE. Ela será substituída por alguém muito mais competente e qualificado.”
Funcionária veterana do governo federal e economista respeitada, McEntarfer trabalhou anteriormente no Bureau do Censo dos EUA sob W. Bush, Obama, Trump e Biden. Ao ser nomeada para o BLS em 2024, ela foi apoiada por quatro ex-comissários do órgão.
A demissão foi confirmada pelo BLS em um breve comunicado. Interinamente, o cargo será ocupado por William Wiatrowski, vice-comissário da agência.
A demissão sumária recebeu intensas críticas. “Trump está demitindo o mensageiro porque não parece gostar de números de empregos que reflitam o quanto ele prejudicou a economia”, disse Lily Roberts, diretora-gerente de crescimento inclusivo do Centro para o Progresso Americano, um think tank.
Paul Schroeder, diretor executivo do Conselho de Associações Profissionais de Estatísticas Federais, descreveu a alegação do presidente como “muito prejudicial e ultrajante”, acrescentando: “Não apenas mina a integridade das estatísticas econômicas federais, mas também politiza os dados que precisam permanecer independentes e confiáveis. Esta ação é um grave erro do governo e que terá ramificações nos próximos anos”.
A decisão de Trump de demitir McEntarfer foi “ultrajante, mas não surpreendente”, disse Julie Su, ex-secretária interina do Trabalho dos EUA sob Biden. “Ele odeia fatos, então culpa os contadores da verdade.” Os EUA “precisam e merecem” dados econômicos confiáveis, ela acrescentou, chamando a demissão de “tentativa patética” de abafar as “consequências das políticas econômicas desastrosas” de Trump.
“Trump demitindo o diretor do BLS por um relatório de empregos ruins é coisa de república das bananas”, observou Jessica Riedl, economista do think tank conservador Manhattan Institute for Policy Research.
“Em vez de ajudar as pessoas a conseguir bons empregos, Donald Trump acabou de demitir o estatístico que relatou dados ruins de empregos que o aspirante a rei não gosta”, disse a senadora democrata Elizabeth Warren. Concordando, o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, resumiu: “O que um mau líder faz quando recebe más notícias? Atira no mensageiro”.
Os dados ruins na geração de empregos são coerentes com os efeitos deletérios sobre a economia dos EUA da guerra tarifária decretada por Trump contra o mundo inteiro e nada têm de surpreendentes. O tarifaço, aliás, ao ser anunciado no início de abril, inclusive provocou um tombo no mercado de títulos do Tesouro, o que obrigou Trump a dar uma marcha-ré, com sua trégua de 90 dias, que está se encerrando agora.
“Eu estava pensando que alguém da equipe econômica de Trump poderia explicar a ele como os dados são compilados, mas percebo que eles não podem nem explicar a ele que suas grandes e belas tarifas são impostos sobre nós”, zombou o economista Dean Baker, do progressista Centro de Pesquisa Econômica e Política.
“Acho que em sua condição mental atual, Trump simplesmente não consegue aprender nada de novo”, ele acrescentou, sugerindo ainda que os conselheiros econômicos do presidente poderiam fazer “um livro ilustrado” para que pudessem explicar a ele “como os dados são coletados”.