O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) solicitou, nesta quinta-feira (6), que um representante da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) seja ouvido pela CPI da Covid-19 para dar explicações sobre a tal “guerra química” que a China estaria promovendo, segundo foi dito por Bolsonaro ao sugerir que o coronavírus faz parte dessa “guerra”.
“Se nós estamos vivendo uma guerra química, é uma das piores situações mundiais desde a Segunda Guerra Mundial. Se não, nós estamos fazendo uma injúria e uma calúnia contra o nosso maior fornecedor de vacinas nesse momento”, afirmou o senador.
Para o senador, a declaração de Bolsonaro é uma das mais graves e sérias que ele já viu um presidente da República brasileiro fazer.
Na quarta-feira (5), Bolsonaro, em um evento no Palácio do Planalto referente à Semana das Comunicações, que não tinha nada a ver com a pandemia, afirmou que a Covid-19 “é um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou se nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado”.
“Mas está aí”, continuou, “os militares sabem que o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês. O que está acontecendo com o mundo todo, com sua gente e com o nosso Brasil?”.
A declaração insana provocou reações em vários setores. A China é o maior parceiro comercial do Brasil, e garante uma balança superavitária para o governo federal.
E é a maior produtora de insumos para vacinas em todo o mundo, parceira estratégica para o Brasil.
O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), disse que Bolsonaro deve ser interditado por um possível “desvio de personalidade”.
E que Bolsonaro pode ter “uma grave doença mental” que o faria “confundir realidade com ficção”.
A presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senadora Kátia Abreu (PP-TO), avaliou que a fala de Bolsonaro é uma “acusação muito grave” durante audiência com o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, nesta quinta-feira.
Segundo a presidente da CRE, se em 2020 o Brasil teve um superávit na balança comercial que superou U$ 50 bilhões, foi graças à China. “Sem as compras chinesas, o superavit teria sido de U$ 18 bilhões. A China é nosso maior parceiro comercial desde 2009, e o Brasil precisa entender que o crescimento deles nos favorece. Se a China crescer 5% por ano nos próximos 10 anos, o aumento de nossas exportações será ainda mais exponencial”, analisou Kátia Abreu.
O ministro Carlos França, ao mesmo tempo em que garantiu que as relações com a China vão continuar em alta, tentou limpar a barra de Bolsonaro dizendo que ele não se referiu à China quando falou em “guerra química”, o que é mentira, pois todos perceberam de que país o presidente falava.