No terceiro trimestre do ano passado, ela ficou em 16,6%, a menor taxa desde 2020
A taxa de investimento no Brasil, que mede o quanto as empresas estão investindo em bens de capital para ampliar a produção, ou a relação entre os investimentos (Força Bruta de Capital Fixo e o PIB), deverá fechar o ano de 2023 em torno de 16% a 17%. No terceiro trimestre do ano passado, ela ficou em 16,6%, a menor taxa desde 2020, com uma queda de 6,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Desde 2013, quando a taxa de investimento atingiu a máxima de 21,52%, o país assiste a uma insuficiência sistemática de investimentos por parte do Estado e da iniciativa privada, chegando, atualmente, aos 16,60% do PIB.
A queda nos investimentos é apontada por economistas e empresários como um grave problema na economia brasileira. Houve reduções seguidas nos três primeiros trimestres do ano de 2023 em relação aos índices verificados no ano anterior, que já eram baixos. Com isto, os patamares de investimento do país seguem se mantendo abaixo do que é necessário para o país crescer de forma sustentada.
“A principal razão realmente é a taxa de juros em patamar elevado”, afirmou a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Juliana Trece, ao destacar que o recuo nos investimentos vem sendo puxado principalmente pelo segmento de máquinas. “Por mais que tenhamos iniciado um ciclo de corte [dos juros], demora até isso atingir a atividade econômica. Além disso, o nível dos juros ainda está muito alto, em dois dígitos”, observou Juliana Trece.
A taxa de investimento é formada a partir da relação entre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A FBCF mede o que investe o país em bens de capital, máquinas, equipamentos, material de construção e outros. A taxa de investimento é um bom termômetro para avaliar o potencial de crescimento econômico, já que ela indica a proporção da renda do país que se destina à ampliação da capacidade produtiva. O pico mais alto da taxa de investimento do Brasil, de 26,86%, foi registrado no final dos anos 80.
No início dos anos 2000, principalmente a partir do segundo governo Lula – após o início da recuperação do período mais abertamente neoliberal e submisso de FHC -, a taxa de investimento no Brasil saltou do patamar de 16,5%, em que se encontrava em 2003, para 21,5% em 2013. A intensificação dos investimentos públicos atraiu o investimento privado e o país cresceu 7,5% no último ano do segundo governo Lula.
A partir de 2014, no entanto, fruto da forma débil com que o país reagiu à pressão exercida pelos centros financeiros internacionais contra os países do sul da Europa e da América Latina no ‘pós-crise’ mundial de 2008, houve uma grande redução dos investimentos no país, tanto públicos quanto privados. A taxa de investimento desabou até atingir 14,50% em 2017, já no governo Temer. Esta foi a menor taxa de investimento vista no país nos últimos cinquenta anos.
No decorrer dos últimos 7 anos, a taxa de investimento jamais conseguiu retornar ao patamar dos 20%. Fato grave, pois, para alguns economistas, entre eles José Luís Oreiro, da Universidade de Brasíia (UnB), a taxa mínima, para que haja um crescimento consistente da economia, é de 21% a 22%. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) estima ainda mais para cima esse índice e diz que a taxa de investimentos precisa se aproximar de 25% do PIB para que a economia brasileira volte a crescer entre 4% ou 5% ao ano.
Em julho de 2021, puxada pelo “orçamento de guerra”, que foi aprovado pelo Congresso Nacional com o objetivo de atenuar os efeitos da Covid-19 sobre a economia, e por conta dos investimentos feitos em máquinas e equipamentos no setor agrícola – que se beneficiou dos aumentos de preços das commodities ocorridos durante a crise da pandemia -, a taxa de investimento atingiu 19,2%, mas fechou o ano em 17,9%. E no ano seguinte, ficou em 18,4%.
A pressão do sistema financeiro para que o atual governo mantenha metas fiscais restritivas é o principal problema a ser superado para que se obtenha a urgente elevação das taxas de investimento. Medidas impostas pelos bancos e o Banco Central – particularmente os juros altos – estrangulam a capacidade de investimento do país. A insistência de alguns setores, fora e dentro do governo, de seguir se submetendo ao chamado ‘austericídio fiscal’ também força o país a manter-se preso à perigosa estagnação econômica.
Sem crescer, o governo piora ainda mais a sua capacidade de arrecadação, além de tornar-se refém dos juros altos cobrados pelos bancos. A prática de juros reais escandalosos, os maiores do mundo, impostos pelo Banco Central – com o falso pretexto de combate à inflação – agrava ainda mais a situação pois, além de não ter nada a ver com a queda da inflação – que caiu nos últimos meses por conta da queda dos preços de combustíveis e de commodities – restringe os investimentos públicos e eleva os custos das empresas privadas.
Os dados de 2023, até o terceiro trimestre do ano, revelam que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) manteve-se em queda durante o ano. Com o baixo nível de investimento, o Produto Interno Bruto, que foi puxado pelo bom desempenho do agronegócio, voltou a desacelerar no terceiro trimestre, registrando uma alta de 0,1% em relação ao segundo trimestre (1,0%). No primeiro trimestre de 2023, o PIB havia crescido 1,4%, em relação ao trimestre anterior.
“Os investimentos em máquinas e equipamentos – medidos segundo o conceito de consumo aparente, que corresponde à produção nacional destinada ao mercado interno acrescida das importações – apresentaram um recuo de 0,3% em setembro, encerrando o trimestre móvel com queda de 1,7%”, destacou o Ipea em nota. No acumulado em doze meses, a demanda interna de máquinas e equipamentos recuou 3,8%. Ou seja, os investimentos não estão sendo feitos no ritmo que o país necessita.
“O Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que agrega os investimentos em máquinas e equipamentos, na construção civil e em outros ativos fixos, registra uma queda de 1,4% na comparação entre setembro e agosto na série com ajuste sazonal. O resultado representou a quarta queda consecutiva na margem. Com isso, o trimestre móvel encerrado em setembro registrou retração de 2,5% na comparação dessazonalizada – resultado já ajustado de acordo com as contas nacionais trimestrais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vale notar que o indicador se situa 21,6% abaixo do máximo atingido na série, verificado em abril de 2013”, segundo Indicador Mensal do FBCF do Ipea, divulgado no final do ano.
O governo Lula está às voltas com as chantagens fiscalistas, gestadas pelo sistema financeiro e repercutidas insistentemente por setores da mídia. Para superar essas barreiras, o governo, necessariamente, terá que encontrar outros caminhos para estimular a retomada da economia.
O País apoia a queda nos juros, quer investimentos vigorosos na retomada da produção industrial, nos projetos de infraestrutura e transporte urbano, no saneamento básico, na habitação, na saúde, entre outros setores. O País e os brasileiros demandam também por salários mais robustos para que se amplie o mercado interno e a roda da economia possa efetivamente voltar a girar com força. No entanto, até o momento, os dados, principalmente os referentes às taxas de investimento, não estão apontando nessa direção.