“As empresas médias e pequenas não estão tendo acesso a crédito competitivo nos bancos e muito menos no BNDES”, segundo o presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho
A Taxa de Longo prazo (TJL) considerada para o cálculo das prestações de contratos de financiamento do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atingiu recorde de 3,83% ao ano em novembro, além da correção pela inflação medida pelo IPCA. Em agosto do ano passado a taxa estava em 1,64%.
Desde agosto, os juros vêm aumentando e dificultando o acesso ao crédito, particularmente às pequenas e médias empresas. Segundo o BNDES, a taxa acompanha “o movimento dos títulos públicos”, cujas taxas dispararam nos últimos meses, frente à pressão dos aplicadores em garantir seus ganhos na rolagem desses papéis.
Confirmadas as expectativas de aumento da inflação e da sua permanência acima de dois dígitos, tudo junto e misturado, elevaram os encargos dos financiamentos às alturas, impulsionados pelos juros altos do Banco Central.
“Quem é que vai comprar uma máquina com taxa de 20% em uma perspectiva dessa inflação e juros altos e diminuição de renda da população?”, questiona o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, cujas taxas com os spreads (prêmios) colocados pelos bancos repassadores do BNDES estão levando os juros finais para esse patamar.
“As empresas médias e pequenas não estão tendo acesso a crédito competitivo nos bancos e muito menos no BNDES”, afirma Roriz Coelho. O quadro de encarecimento do crédito do BNDES prejudica principalmente essas empresas, conforme declarou ao Valor. Segundo ele, as empresas de médio e menor porte ainda precisam muito do banco e os custos estão proibitivos.
Quando da implantação da TLP, em substituição a TJLP que aplicava taxas de juros menores do que às praticadas pelos bancos privados, não faltaram vozes entre empresários, com ênfase para os industriais diretamente golpeados, como o do setor de máquinas e equipamentos, economistas, entre outros interessados na matéria, de que era uma mudança contra todo o esforço e razão da própria existência do BNDES, o banco estatal de fomento, criado com o objetivo de apoiar programas e projetos visando o desenvolvimento econômico e social do país.
O professor de economia da Universidade Federal do ABC Fábio Terra, também consultado pelo Valor, disse que a escalada do aumento da TLP é “absolutamente desestimulante ao investimento”.
Com Bolsonaro, o BNDES está se transformando cada vez mais num banco de serviço, como prometeu. A serviço das privatizações e da banca, através da antecipação de recursos ao Tesouro Nacional que são destinados ao pagamento de juros da dívida pública em detrimento do desenvolvimento da atividade econômica.
Segundo o BNDES, a dívida remanescente com a União é de R$ 90,1 bilhões e a direção do banco prevê a devolução antecipada de mais R$ 35,9 bilhões ainda este ano e de R$ 54,2 bilhões em 2022.