“Muita gente perdendo suas famílias, muitas casas abandonadas. É triste”, diz brasileira
“A gente fica apavorada, é uma insegurança, a gente não sabe o que vai acontecer. Ao mesmo tempo, tem muita criança morrendo, muita gente perdendo suas famílias, muitas casas abandonadas. É triste”.
Isto é o que conta Sarah Kadri, brasileira residente no Líbano há 12 anos, em relato à CNN Brasil. Ela nasceu em São Paulo e atualmente mora no Vale do Bekaa, a aproximadamente uma hora de carro de Beirute.
“A gente não sabe o que vai acontecer num minuto”, prossegue Sarah.
“O Oriente Médio sempre sofre com Israel. Tanto o Líbano, como a Síria, a Palestina, a gente sofre com Israel pelo perigo de bomba”.
Ela diz que os brasileiros residentes no país têm mais sorte porque têm o apoio do consulado brasileiro.
“Nós temos o consulado brasileiro que protege a gente, mas os libaneses que moram aqui, vivem aqui, não têm para onde ir. Dá dó, porque não têm o que fazer. Eles vão ficar na guerra”, lamenta Sarah.
Ela contou que sua cidade ainda não foi bombardeada, mas disse que sua vida está paralisada. Não pode ir à faculdade e para ir no supermercado tem que avaliar muito o perigo. “Está tendo muito bombardeio aqui ao redor da minha cidade. Minha cidade ainda não foi bombardeada, graças a Deus. Mas assim, é um perigo e um medo constante. Todo dia tem uma bomba nova”, afirmou.
“Eu não tenho mais rotina, eu tento ficar perto de casa, perto de algum lugar menos perigoso, mesmo sendo perigoso, porque eu estou no Líbano, a qualquer momento eles podem atacar qualquer cidade aqui”, disse.
As cidades não atacadas, como a de Sarah, estão servindo de refúgio para aqueles que fogem dos bombardeios. “As escolas públicas aqui foram abertas como campo de refúgio. Então todo povo refugiado está vindo, dormindo aqui nas escolas, estão trazendo alimentos para eles, estão tentando trazer colchão”, explicou Kadri.
Ao ser questionada, ela falou que analisa a possibilidade de retornar ao Brasil. “É muito triste deixar o Líbano. O Líbano é um lugar maravilhoso, sim. Fora os perigos da guerra, os conflitos com Israel”, lamentou.
A comunidade brasileira no Líbano, segundo Sarah, está em estado de desespero. “Uns falam que querem ir embora, uns falam que não tem como ir por causa de filho, que não é naturalizado, que é libanês, mas assim, em geral, acho que todo brasileiro quer embora”, relatou.
FÁTIMA
A brasileira Fátima Cheaitou, que mora com a família no Líbano, conseguiu, segundo notícias do portal g1, passagens aéreas para deixar o sul do país em meio aos ataques de Israel à região, que se intensificaram na última segunda-feira (23).
Ela fez publicações no Instagram direto do Aeroporto de Beirute, capital do país, na noite de quarta-feira (25), pelo horário de Brasília.
“A gente conseguiu passagens de última hora, graças a Deus. Estou feliz que a gente vai conseguir sair daqui, mas estou muito triste, porque não quero sair daqui. Não queria que a gente tivesse nessa situação de precisar sair daqui, sair dessa forma, fugindo, sair sem saber quando vai voltar, se vai voltar, se todo mundo vai estar aqui ainda”, disse em vídeo publicado nas redes sociais dela.
Assim como Fátima e a família, milhares de libaneses estão fugindo do país por conta dos bombardeios israelenses. Em pânico, as pessoas têm buscado área segura para se proteger. Assim que os ataques se intensificaram, ela deixou o sul do país e enfrentou longos congestionamentos a caminho da capital.
INCERTEZAS PARA VOLTAR
Com voos sendo cancelados em toda região, ela estava sem saber como conseguiria viajar até o Brasil e pediu ajuda. No vídeo gravado no aeroporto, ela explicou que havia poucos voos saindo de lá. “Aeroporto está vazio, um voo só agora. É muito depressivo”, disse.
Fátima explicou que conseguiu as passagens 2 horas antes de chegar ao aeroporto. “A gente guardou nossas coisas e veio”. A família vai viajar em voos diferentes. Eles vão primeiro para Paris e depois viajarão para o Brasil, pois não havia voo direto.
“Desde que a gente chegou ao aeroporto comecei a chorar. Antes estava no modo ‘preciso sobreviver’ e não estava pensando muito em tudo. Eu sou muito grata por estar viva, por ter a oportunidade de sair daqui. Só que meu coração fica aqui”, afirmou.
Os tios e avós dela ficarão no Líbano. Segundo a brasileira, eles estão mais ao norte do país e seguros até o momento. “Mas tem a preocupação de que a guerra piore, escale e acabe bombardeando lá também. Nesses últimos dias destruíram todas as cidades, minha cidade está destruída. É horrível”, relatou.
Mesmo diante da situação, ela reforçou que não gostaria de ter que deixar o país, mas mantém a fé de que voltará logo. “Vai dar tudo certo”, disse.
“MUITAS BOMBAS” SOBRE O LÍBANO
“Hoje acordamos com muitas, muitas bombas. A gente está fugindo. Bombardearam perto da minha casa, da casa dos meus avós. Então, quem puder marcar, fazer pressão no Instagram do governo para eles fazerem alguma coisa… Sei lá. Por favor”, postou na segunda-feira, e marcou os perfis do presidente Lula e do Itamaraty.
Na última terça-feira, o governo brasileiro anunciou que começou a reunir dados de brasileiros e parentes de primeiro grau que estão no Líbano, seja como turistas ou como residentes, e desejam receber “apoio do governo”.
Os bombardeios de Israel contra os libaneses continuaram na quarta-feira (25) e, nas redes sociais, vários vídeos mostraram a destruição causada pela ofensiva israelense, que já deixou mais de 550 mortos e 1,8 mil feridos, de acordo com o governo libanês.
BEIRUTE SOB ESCOMBROS
As imagens, feitas pela população, no sul do Líbano e também na capital, Beirute — que foi alvo de bombardeios na terça-feira — mostram edifícios, carros e ruas que foram atingidos por mísseis cobertos de escombros e fumaça, além de resgates de moradores que ficaram presos nos escombros.
ATAQUES TERRORISTAS DE ISRAEL
Na semana passada, pagers e walkie-talkies usados por membros do Hezbollah explodiram em ação coordenada por Tel Aviv. O ataque terrorista israelense resultou na morte de quase 40 pessoas e mais de 3,5 mil feridos. Em seguida, Israel anunciou que movia tropas para a região de fronteira com o Líbano.
Israel também lançou série de bombardeios contra o Líbano, a pretexto de atacar supostas estruturas do Hezbollah.
Diante disso, a ONU (Organização das Nações Unidas) levantou preocupações sobre guerra total no Oriente Médio.
“O Líbano está à beira do precipício. O povo do Líbano, o povo de Israel e o povo do mundo não podem permitir que o Líbano se torne outra Gaza”, disse o Secretário-Geral da ONU, António Guterres.