Especialista em contas públicas, o economista Raul Velloso, ex-secretário de Assuntos Econômicos do antigo Ministério do Planejamento (85-89), defendeu que a receita para enfrentar a crise do coronavírus no país é o governo abrir os cofres.
“A União deveria entrar e fazer exatamente o que eu disse: abrir as burras. Se é que essa expressão ainda existe e as pessoas entendem. Tem que despejar dinheiro, abrir os cofres”, sintetizou em entrevista para a coluna de Chico Alves, do Uol.
Para Velloso, um dos expoentes do neoliberalismo, a ajuda de R$ 600 à trabalhadores informais (hoje calculada em 38 milhões de pessoas) aprovada pelo Congresso – que seria de R$ 200 pela proposta original do governo federal – é insuficiente.
“Os R$ 600, eu tinha imaginado R$ 1 mil. Já que é para fazer, faz algo que se saiba com mais segurança que vai servir para manter aquelas pessoas com o mínimo de liquidez no bolso. O prazo, acho que tem que ser um ano, não dá pra gente errar nisso”, opinou.
Perguntado se o governo tem recursos suficientes para esta ajuda, Velloso foi categórico ao dizer que “o governo não tem esse problema”, defendendo que em momentos de crise, “não tem como pensar que injetar dinheiro vai criar algum problema”.
“Olhamos para uma depressão gigantesca, um precipício à nossa frente, e nós deveríamos querer evitar que todos caíssem nesse buraco gigante. Pode emitir moeda e jogar, jogar, jogar… e nada vai acontecer de ruim. Pelo contrário. Vai permitir que o tamanho do problema não seja tão grande quanto poderia ser”.
O economista demonstrou preocupação especial com estados e municípios, já endividados, e que precisam de ajuda federal “rápida” para sobreviver e atender a população.
“Se há uma briga com a União e não conseguem chegar a um acordo para soltar dinheiro rapidamente, aí é um problema muito grande. Porque eles não vão ter condições de atuar em várias áreas”.
“Boa parte das coisas que estão travando decorre de disputas políticas e coisas do tipo. Isso é um absurdo. Nós tínhamos que estar fortemente unidos em torno de um objetivo, procurando entender o que está em jogo, quando uma opção é melhor que outra, acompanhar diariamente o acontecimento das coisas e procurar resolver onde está pegando mais”, defendeu.