“Quando Bolsonaro recebeu uma deputada nazista, não houve essa histeria”, afirmou o senador, denunciando a hipocrisia israelense. “Lula não fez referência ao povo judeu”
O senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que é necessário “tipificar o que está acontecendo” na Faixa de Gaza, com as barbaridades cometidas pelo governo fascista israelense na região.
“Lula esteve no Oriente Médio e conversou com muitas lideranças, com relatos das atrocidades que estão acontecendo, e depois deu uma entrevista. É lógico que tem que tipificar o que está acontecendo”, defendeu o senador em entrevista ao UOL News nesta quinta-feira (22).
Na entrevista, o senador expôs a hipocrisia de Israel e seus defensores ao lembrar que quando Jair Bolsonaro recebeu a deputada nazista, não houve “essa histeria”, como estão fazendo agora com as declarações de Lula.
“Não deram essa conotação quando o ex-presidente Bolsonaro recebeu uma deputada nazista. Não havia essa histeria”, assinalou o senador.
Em 2021, Bolsonaro se encontrou com a deputada alemã Beatrix von Storch. Ela é vice-presidente do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha, na sigla em português) e neta de Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Hitler por mais de 12 anos.
Beatrix agradeceu a Bolsonaro pela “amistosa recepção”.
Segundo Aziz, é “fácil embarcar em uma onda criada por algumas pessoas no país”. “Isso já aconteceu, de forma mais evidente, de quem apoia o nazismo no país quando o ex-presidente recebeu uma deputada nazista e tirou fotos, sorrindo. Há uma entrevista dele dizendo que ‘até podemos perdoar o Holocausto’”, lembrou o senador.
Bolsonaristas estão atacando Lula por suas declarações e até protocolaram um ridículo pedido de impeachment do presidente.
Em entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, no domingo (18), Lula afirmou que: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus”.
A ditadura de Israel distorceu a fala de Lula e disse que ele está atacando os judeus e negando o Holocausto, quando pelas palavras acima é notório que está se solidarizando com os judeus pelo que Hitler fez. E não quer uma cópia de Hitler, como Netanyahu, tentando fazer o mesmo contra os palestinos.
Desde o dia 7 de outubro, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, já comandou o assassinato de 30 mil palestinos, sobretudo mulheres e crianças, feriu 70 mil, deslocou 1,5 milhão de pessoas e destruiu as residências e a infraestrutura da faixa de Gaza.
Aziz rechaçou a proposta do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-AM), para que Lula se retrate e peça desculpas ao governo assassino de Israel.
“Lula não deve pedir desculpas, de jeito nenhum, para um governo sionista”, sustentou Aziz.
“Lula é uma pessoa respeitada no mundo inteiro. Não é qualquer um. Em momento algum ele fez qualquer referência ao povo judeu. Lula não tem maldade no coração e é uma pessoa que pensa o bem”, prosseguiu Omar Aziz, acrescentando: “um presidente não pode fazer isso sob pressão”.
Declaração completa do presidente Lula sobre Gaza em resposta à pergunta de uma jornalista da Radio France
“Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente, e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente, que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio, de que não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças.
Olha, se teve algum erro nessa instituição que recolhe dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para um povo que está há quantas décadas – há quantas décadas – tentando construir o seu estado. Brasil não apenas afirmou que vai dar contribuição – não posso dizer quanto, porque não é o presidente que decide, é preciso ver quem é que cuida disso no governo para saber quanto é que vai dar – como o Brasil disse que vai defender na ONU a definição do Estado Palestino ser reconhecido definitivamente como estado pleno e soberano.
É importante lembrar que em 2010, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o Estado Palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando o Hitler resolveu matar os judeus. Então não é possível que a gente possa colocar um tema tão pequeno, você deixar de ter ajuda humanitária. Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai retribuir a vida de 30 mil pessoas que já morreram, 70 mil que estão feridos? Quem vai devolver a vida das crianças que morreram, sem saber porque estavam morrendo? Isso é pouco para mexer com o senso humanitário dos políticos do planeta?
Então, sinceramente, ou os dirigentes políticos mudam o seu comportamento com relação ao ser humano, ou o ser humano vai terminar mudando a classe política. O que está acontecendo no mundo hoje é falta de instância de deliberação. Nós não temos governança. Eu digo todo dia: a invasão do Iraque não passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão da Líbia não passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão da Ucrânia não passou pelo Conselho de Segurança da ONU. E a chacina de Gaza não passou pelo Conselho de Segurança da ONU.
Aliás, as decisões tomadas pelo Conselho não foram cumpridas, e tampouco foi cumprida a decisão penal tomada agora no processo da África do Sul. O que é que nós estamos esperando para humanizar o ser humano? É isso que está faltando no mundo. Então o Brasil continua solidário ao povo palestino. O Brasil condenou o Hamas, mas o Brasil não pode deixar de condenar o que o exército de Israel está fazendo na Faixa de Gaza.”