Michel Temer (PMDB) afirmou ao jornal chileno La Tercera, em entrevista publicada no sábado (10), que foi vítima de uma “montagem” para que fosse retirado do cargo, e que até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconheceu isso.
“O que havia eram denúncias inconsistentes. Foi verificada uma grande montagem contra a Presidência da República e a maioria dos deputados viu isso. A administração do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que arquivou as queixas, foi encerrada com a anulação sumária das acusações usadas para tentar comprometer, em troca da imunidade total aos criminosos que estão agora presos, o mandato presidencial”.
“Hoje, sabemos que a falsa ‘evidência’ foi produzida contra a Constituição, com a participação ilegal de promotores, que estão atualmente sob investigação. Mesmo o ex-presidente Lula recentemente reconheceu que houve uma tentativa de golpe orquestrado contra mim, que tivemos a coragem de enfrentar e vencer”, afirmou Temer.
O “golpe” contra Temer, a que Lula se referiu, foram as denúncias feitas pelo Ministério Público Federal e a Polícia Federal no caso da propina acertada na garagem do Palácio do Jaburu numa conversa cavilosa entre o presidente e o dono da JBS, Joesley Batista (“Tem que manter isso ai, viu?”[a propina para calar Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro]). Todo o processo, como as imagens de Rocha Loures correndo com a mala abarrotada de propinas, as gravações e depoimentos comprometedores contra Michel Temer, etc, foram caracterizados por Lula como uma tentativa de golpe que, ‘felizmente’, Temer teria vencido.
O plano de Lula na entrevista à “Folha” foi consolidar o acordão contra a Lava Jato que vem sendo costurado desde que Romero Jucá, presidente nacional do PMDB, disse que tinham que “estancar a sangria”, referindo-se às investigações da Polícia Federal e do Ministério Público contra a corrupção.
A “vitória” de Temer, elogiada por Lula, foi à base de suborno dos deputados para evitar ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo levantamento do jornal “Estado de S. Paulo”, para barrar o prosseguimento das duas denúncias (a primeira por corrupção passiva, em junho, e a segunda, por organização criminosa e obstrução da Justiça, em outubro) da Procuradoria Geral da República, Temer prometeu torrar em torno de R$ 36,3 bilhões – entre diversas concessões, benesses e medidas negociadas com parlamentares.
A entrevista foi dada ao jornal chileno por conta da viagem que Michel Temer fez ao país vizinho para participar da posse de Sebastián Piñera na Presidência daquele país.