Rocha Loures indicou executivo da Rodrimar para receber propina da JBS
Ao responder as 50 perguntas feitas pela Polícia Federal sobre o recebimento de propinas da empresa Rodrimar, que atua no Porto de Santos, Michel Temer disse que as perguntas estavam sendo “agressivas e desrespeitosas”. O que o delegado quis saber é se Temer havia pedido a Rodrigo Rocha Loures, João Baptista Lima Filho ou José Yunes, todos seus assessores, para receberem recursos em seu nome em retribuição pela edição de normas contidas no novo decreto dos portos, de interesse e mais benéficas para empresas concessionárias de terminais portuários públicos e privados.
Numa das perguntas, o delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pelas investigações, quis saber se Temer autorizou que Rocha Loures fizesse tratativas em seu nome com empresários do setor portuário visando recebimento de valores, em troca de melhores benefícios para o setor, inseridos no decreto 9048/2017? Se sim, explicar as circunstâncias. Temer, é claro, respondeu que não e partiu para o ataque à PF. Esse nervosismo todo com as investigações é comum a todos os corruptos. É só ver o que Lula e seus seguidores estão dizendo daqueles que estão investigando e julgando seus crimes.
Só que escutas telefônicas, divulgadas pelo STF, desmentem Temer e mostram Rocha Loures defendendo interesses de empresas que atuam nos portos brasileiros. Na gravação, Rocha Loures insiste com Gustavo Rocha, chefe para assuntos jurídicos da Casa Civil, homem de confiança de Temer, em uma mudança no decreto sobre portos para beneficiar também quem conseguiu concessões antes de 1993, caso da Rodrimar, que atua no porto de Santos. Segundo Ricardo Saud, da J&F, que controla a JBS, Rocha Loures indicou Ricardo Mesquita, executivo da Rodrimar, para intermediar o pagamento de uma propina que teria sido negociada no Palácio do Jaburu e que seria repassada semanalmente a Loures.
Veja as gravações
Rocha Loures: “Então vamos fazer o seguinte. Eu vou verificar com Edgar, se o Edgar… Tem duas opções: o Edgar ou o teu Xará”.
Ricardo Saud: “Pra mim é mais confortável com o Edgar”.
Rocha Loures: “Você não conhece e ele também não te conhece”.
Em outro momento, a PF questionou o peemedebista sobre um diálogo que manteve com Gustavo Rocha, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, e que é um dos personagens mais influentes do governo Temer.
Gustavo Rocha: “É uma exposição muito grande para o presidente se a gente colocar isso. Já conseguiram coisas demais nesse decreto”.
Rocha Loures: “O importante é ouvi-los.”
Gustavo Rocha: “A minha preocupação é expor o presidente em um ato que é muito sensível. […] Esse negócio vai ser questionado”.
O presidente Temer mantém o controle político do Porto de Santos desde o primeiro mandato de Fernando Henrique. Já em 1995 indicou para presidente da Codesp, estatal encarregada da administração do maior porto do Brasil, Marcelo de Azeredo. Denúncias da ex-esposa de Azeredo, Érika Santos, feitas no ano de 2000, dois anos depois da saída de seu marido do cargo, mostraram que Temer recebia propina em diversas obras do porto. Marcelo Azeredo foi processado por improbidade administrativa ao assinar em 1997 o 9º Aditivo a um contrato de ampliação do Terminal de Containers do Porto de Santos, que só ocorreria no ano seguinte. O Aditivo acrescentou R$ 144 milhões a um contrato de R$ 295 milhões. Azeredo já havia sido substituído por outro indicado de Temer, Paulo Fernandes do Carmo. Até este momento ainda não se sabia das denúncias de Érika Santos, de que Temer recebia propinas.
Em abril de 1999, quando Eliseu Padilha era Ministro dos Transportes de FHC, Temer indicou o ex-deputado Wagner Rossi para ocupar a direção da estatal. Padilha e Temer começaram a substituir oficiais da Marinha dos conselhos de autoridade portuária de Santos, Rio Grande e Paranaguá. Em Santos, o ministro foi obrigado a voltar à trás. Jorge Gerdau chegou a pressionar o Planalto contra as mudanças feitas por Padilha e Temer. Na época Padilha justificou as mudanças pela privatização. A construção do terminal II do Porto de Santos, pela Andrade Gutierrez teve, nesta época, segundo o TCU, um superfaturamento de 141% do preço original.
Érika Santos denunciou, com base em documentos que ela desviou do computador do ex-marido, que a empresa Libra Terminais Ltda, operadora portuária, pagou propina de R$ 640 mil a Temer e uma parte menor para Marcelo Azeredo. Outra figura que recebeu da Libra foi uma pessoa de nome Lima, hoje identificado como o coronel reformado da PM, João Batista Lima, envolvido também em propinas da JBS para Temer. Esta empresa ganhou dois terminais em Santos. Um inquérito conduzido pelo delegado Cássio Luiz Guimarães Nogueira tentou ouvir Temer e não conseguiu. A Rodrimar também teria pago R$ 600 mil para o esquema – metade para Temer e 25% para Azeredo e Lima.
Esta é a terceira denúncia contra Michel Temer. As duas primeiras foram barradas pela Câmara dos Deputados, depois que Temer comprou votos e distribuiu cargos para escapar da justiça. Após a entrega das respostas, feita nestga quinta-feira (18) o inquérito, que está sendo conduzido pelo ministro Luiz Carlos Barroso, do STF, entrará na fase final. A situação de Temer está se complicando cada vez mais já que as provas de que ele assinou o decreto dos portos para beneficiar a Rodrimar em troca de propinas, são irrefutáveis.