Presidente e a ex nomearam operadores
Auditoria mostra como PMDB e PT saquearam, por anos, banco do povo
O mais difícil, no caso da Caixa Econômica Federal (CEF), é encontrar algo que seja regular ou que não pareça suspeito. Por exemplo, vejamos um trecho do depoimento de Roberto Derziê de Sant’Anna, vice-presidente de Governo da CEF, afastado na terça-feira:
“Roberto Derziê de Sant’’Anna afirmou que não considera a VIGOV [Vice-Presidência de Governo] como um cargo do PMDB e que os Deputados do PMDB não o conhecem, com exceção de Moreira Franco, Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha e Michel Temer.”
Com exceção logo desses?
Ele continua:
“Segundo Roberto Derziê de Sant ‘Anna, Michel Temer percebeu sua utilidade em termos de gestão dos repasses nas emendas parlamentares. Segundo Roberto Derziê de Sant ‘Anna, ele tem uma relação política personalizada, não partidária.”
O sujeito só tem relação, dentro do PMDB, com o quadrilhão. E uma relação “personalizada”, mas “não partidária”.
Esse mesmo Derziê foi contratado por Temer, quando este ocupou a Secretaria de Relações Institucionais do governo Dilma, para ser “ordenador de despesas”. Antes disso, diz a investigação, Derziê “já tinha histórico com Geddel Vieira Lima e Moreira Franco”, além de Eliseu Padilha.
No governo Dilma, Derziê foi vice-presidente da Caixa. Quando Temer rompeu com Dilma, foi demitido. Logo que Temer substituiu Dilma, Derziê voltou à vice-presidência da CEF.
É, portanto, um carrega-malas de Temer e & quadrilha.
Embora realizasse, também, outros negócios (por ex., foi apreendido “e-mail (…) a Roberto Derziê de Sant’Anna para tratar de pagamentos realizados à Gráfica Atitude, apontada pelo Ministério Público como um dos canais usados para distribuir recursos desviados da Petrobras para o PT”).
O relatório do Escritório Pinheiro Neto Advogados, contratado pelo Conselho de Administração da CEF para realizar uma “investigação independente”, tem 941 páginas.
Nelas, além dos já citados, cruzam-se deputados do PT (Marco Maia, André Vargas, Cândido Vaccarezza), do PSC (Pastor Everaldo), do PRB (Marcos Pereira), e, por exemplo, Sandro Mabel, que era assessor especial de Temer. Esse relatório não é uma investigação policial, mas uma auditoria.
ESCROQUERIA
Há uma quase infindável série de escroquerias.
Existem as da dupla Fábio Cleto [vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias, antes de Deusdina dos Reis Pereira] e Eduardo Cunha.
Outras referem-se ao bando Temer, Moreira, Geddel, Derziê e mais um certo Giovanni Alves, que a quadrilha de Temer colocou na SUNGE (Superintendência Nacional de Médias e Grandes Empresas).
Giovanni Alves era intermediário de Temer com a Rodrimar, grupo empresarial que opera no porto de Santos.
Em maio do ano passado, Temer assinou um decreto indecente, ampliando de 25 para 35 anos as concessões do porto de Santos, prorrogáveis por até 70 anos, beneficiando a Rodrimar. Por essa falcatrua, Temer (e, também, Rocha Loures, o homem da mala de R$ 500 mil) estão sendo investigados em inquérito que tramita no STF.
Os investigadores constataram que um diretor da Rodrimar, Ricardo Mesquita, frequentava a sala de Giovanni Alves na sede da CEF. Além disso, “nos e-mails de Giovanni foi detectada mensagem enviada pelo Superintendente Regional e da Baixada Santista contendo informações sobre avaliação de risco de crédito da operação relativa à Rodrimar”.
Como diz a investigação: “a relação de Giovanni Alves com a Rodrimar também pode vir a se tornar objeto de questionamentos judiciais. Isso porque, atualmente, há investigações judiciais em curso para apurar se o presidente Michel Temer possuía alguma relação com essa empresa”.
PT
Por fim, mas não menos importante, existem as façanhas do PT. As principais foram através de André de Souza, um verdadeiro artista em vender facilidades para que empresas obtivessem dinheiro do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS).
O grupo mais beneficiado por essa propinagem tem o nome de Odebrecht.
Em apenas seis operações com o FI-FGTS, a Odebrecht distribuiu, em propina, R$ 28 milhões e 295 mil, mais US$ 8 milhões, 723 mil e 346.
Vejamos alguns outros trechos desse relatório de auditoria:
“… existem indicações de que os valores relacionados à operação Porto Maravilha tenham sido pagos para a liberação dos recursos pela VIFUG [Vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias, cuja titular era Deusdina dos Reis Pereira] em cronograma diferente do inicialmente aprovado. Também existem indicações de que teria sido feito pagamento indevido para a aprovação da operação pela Carteira Administrada Residencial do FGTS (…). A contrapartida por parte de Odebrecht, OAS e Carioca incluiria o pagamento de propina no valor de 1,5%.”
“… a contratação da Artplan foi imposta por João Vaccari Neto, que teria realizado o acerto final em um café da manhã em um hotel, em Brasília, com Francisco José (Franzé), Vice-Presidente da Artplan. Nessa reunião, os participantes teriam acertado a propina”.
“… Giovanni Alves, ex-superintendente da SUNGE [Superintendência Nacional de Médias e Grandes Empresas], trabalhando subordinado a Geddel Vieira Lima enquanto vice-presidente, mantinha planilha com investimentos da CEF (CCB, Rio Corrente, SPA Engenharia, Termaq, Intermarítima, Protex/Dinâmica, etc.) e os respectivos contatos políticos nos partidos PMDB, PT e PSC, fazendo a gestão de interesses políticos nos contratos, entre eles: I) Marco Maia (PT/RS); II) Sandro Mabel (PMDB/GO), ex-assessor especial de Michel Temer (PMDB); III) Pastor Everaldo (PSC); IV) Mauro Lopes (PMDB/MG); e V) Leur Lomanto (PMDB)”.;
“… a maior parte das agências de publicidade é do Paraná. Além do casal Paulo Bernardo e Gleisi Hoffman (prima de Ricardo Hoffman), de André Vargas, Clauir Santos também é do Paraná.”
Ricardo Hoffman, vice-presidente da agência de publicidade Borghi Lowe e parceiro do então deputado petista André Vargas, lavava dinheiro, em troca de contratos no governo.
“… foram encontrados documentos que podem indicar, pelo menos, o atendimento de pedidos ou o fornecimento de informações de operações em trâmite na CEF, por parte de Roberto Derziê de Sant’Anna, a Moreira Franco e a Michel Temer”.
“[Giovanni Alves] confirmou que Roberto Derziê de Sant’Anna pediu informações sobre operações para repassar a Moreira Franco”.
“Giovanni Alves também endereçou a planilha enviada a Geddel Vieira Lima contendo nomes de políticos. Segundo ele, a planilha foi concebida por seus superiores hierárquicos, notadamente Geddel Vieira Lima e Roberto Derziê de Sant’anna, e tinha como propósito facilitar o acompanhamento da tramitação de operações financeiras. A coluna intitulada ‘contato externo’ decorria do fato de Geddel Vieira Lima realizar contatos externos com os clientes. Em suma, ‘contato externo’ seria o político responsável pelo ‘nascimento’ de uma operação, e por isso seu nome era colocado na planilha”.
E, meus amigos, nós poderíamos encher de falcatruas um número de volumes maior que os da Enciclopédia Britannica.
CARLOS LOPES
Formam a família de petralhas: 13-171 + 171-15
Primos siameses.