Temer quer aproveitar a crise que criou para aumentar os impostos

Motoboys fazem manifestação, na Esplanada dos Ministérios, em apoio à greve dos caminhoneiros e pela redução do preço dos combustíveis.

País está farto de ladrão, arrocho e recessão

Parente acendeu estopim ao pôr diesel 39,9% acima até do preço internacional

A greve dos caminhoneiros chegou ao fim, com a vitória, com a conquista das suas muito justas revindicações (v. matéria na página 5).

Nesse momento, não há nada mais cretino – não apenas porque é mentiroso, mas porque é uma mentira especialmente peçonhenta – que a propalação, pelo governo e por uma mídia algo sem pé (e, talvez, algo sem cabeça), de que, para reduzir o preço do óleo diesel, há necessidade de “subsídio”, do governo ou da Petrobrás, por isso, serão os “contribuintes” que pagarão a vitória dos caminhoneiros.

A redução no preço do diesel não demanda qualquer subsídio, seja do governo, seja da Petrobrás.

Como demonstrou o engenheiro de petróleo Paulo César Ribeiro Lima – consultor da Câmara na área de recursos minerais, hídricos e energéticos -, a política de preços de Pedro Parente, o sujeito que Temer colocou na Petrobrás, elevou de tal forma o preço do diesel, que a redução acordada com os caminhoneiros ainda significa um ganho extorsivo na venda pelas refinarias (v. matéria na página 2).

O preço do diesel, portanto, poderia ter até mesmo uma maior redução, sem causar qualquer prejuízo à Petrobrás.

O que, aliás, é lógico, pois os aumentos do óleo diesel – e também os da gasolina – não tiveram nenhuma relação com os custos de produção. O que Parente fez foi elevar, sistematicamente (e diariamente) o preço do diesel e da gasolina para mantê-los bem acima do preço internacional.

O motivo, como já dissemos, foi possibilitar que a Shell e outras multinacionais aumentassem barbaramente a sua margem de lucro, importando diesel e gasolina para vendê-los a preços muito mais elevados dentro do Brasil.

Então, se a Petrobrás não necessita de qualquer subsídio, nem necessita subsidiar nada para que o preço do diesel seja reduzido, por que essa campanha, segundo a qual a redução foi “às custas dos contribuintes”?

Primeiro, para tentar manter a política de Parente, de aumentos sucessivos no preço do óleo diesel e gasolina.

Por que o governo e certa mídia são a favor de manter essa política?

Porque eles são a favor de beneficiar monopólios petroleiros estrangeiros e contra a Petrobrás, que foi criada para ser um instrumento do nosso desenvolvimento, da nossa independência econômica.

Tornar a Petrobrás uma espécie de leão de chácara das multinacionais, aumentando preços para que estas últimas açambarquem o mercado, é o que eles querem.

O segundo motivo para essa campanha é tentar desmoralizar um movimento que, pela primeira vez em muito tempo, uniu o país.

Há muito não havia tal unanimidade no Brasil: todos contra a extorsão no preço dos combustíveis.

A população identificou-se com os caminhoneiros porque todos sabem que estão sendo, tanto quanto os caminhoneiros, extorquidos.

A política de Parente na Petrobrás é a ponta mais visível, mais escandalosa, do esbulho que é toda a política desse governo, desde que Dilma tomou posse em seu segundo mandato – e Temer a continuou.

Em outra parte desta edição, nos referimos ao início dos aumentos de óleo diesel, ainda no governo Dilma (v. pág. 2).

É preciso ser um hipócrita, um cínico – e um mentiroso – para esquecer que o PT começou essa política, seja em relação aos preços dos combustíveis, seja em relação a atirar a economia em um abismo.

Pois, evidentemente, não foram apenas os aumentos escorchantes nos preços do diesel e da gasolina que começaram no governo Dilma.

A revolta que se viu no país foi tão ampla porque foi uma revolta – ainda que a consciência disso fosse muitas vezes confusa ou difusa – contra o conjunto da política de assalto aos setores produtivos, e de transferência de renda (e de patrimônio) desses setores para o setor improdutivo, estéril, parasitário da economia, ou seja, o setor financeiro, o cartel de bancos e fundos, na maior parte estrangeiros.

Certamente, muitos, a maioria, não o perceberam imediatamente. O importante é que essa consciência se desenvolveu e continua se desenvolvendo.

O principal sinal disso é que não houve, mesmo com certas dificuldades, nenhuma queixa contra os caminhoneiros. Pelo contrário, todos achavam que eles eram um exemplo.

O movimento mostrou que a política desse governo não corresponde a nenhuma necessidade real, exceto à ganância de alguns parasitas financeiros, que não trabalham nem empreendem nada.

Assim, a campanha que quer afirmar que a redução no preço do diesel será um sacrifício para o povo, apenas inverte a realidade – tentando chocar uma parcela do povo brasileiro com outra.

Sacrifício para o povo foi suportar os aumentos de preços do diesel – que, por sinal, não afetam somente os caminhoneiros, mas são um componente do preço de qualquer produto transportado nas rodovias, isto é, quase todos.

Dentro disso, o anúncio, pelo ministro da Fazenda, um certo Guardia, de que o governo pretende aumentar impostos para financiar a redução no preço do óleo diesel, conquistada a muque, mostra que Pedro Parente (v. matéria na página 2) não é o único escroque neoliberal maluco e sem limites na praça.

Porém, mostra, mais ainda, que esse é um governo de vigaristas e de achacadores.

Diz o governo que, para diminuir o preço do diesel, é preciso eliminar a cobrança do PIS/Cofins e da Cide na composição do preço do produto.

Ou seja, tem que diminuir tributos.

Porém, para diminuir tributos no preço do diesel, diz o governo, é preciso aumentar tributos.

Não é uma maravilha?

A diferença é que os tributos eram somente sobre o litro do diesel. Já estes que o governo quer aumentar para que os outros diminuam, são em cima de tudo e de todos.

Portanto, é apenas mais uma variante da farsa anterior: a de que é a população que irá pagar a redução do preço do diesel.

No entanto, a população estava pagando, em cada mercadoria, os aumentos de preço do diesel.

Essa redução apenas diminuirá em pequena medida os ganhos que as multinacionais petroleiras têm às custas da Petrobrás e do povo brasileiro.

É só isto – e, depois do diesel, ainda há todo o país para fazermos o mesmo, só que de modo muito mais amplo e profundo.

Quanto a subsídios, o que o Brasil precisa é afastar do poder – inclusive da Petrobrás – os que subsidiam os espoliadores do país.

CARLOS LOPES

 

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *