Ao responder, na Justiça Federal, quais as pessoas que sabiam do esquema de propinas no FI-FGTS, o operador da cúpula do PMDB, Lúcio Funaro, respondeu que “Geddel com certeza, Lúcio (Vieira Lima, irmão de Geddel) com certeza, Henrique (Eduardo Alves), Michel Temer, Moreira Franco”.
Lúcio Funaro foi, até a sua prisão, talvez o principal operador da cúpula do PMDB no mercado (?) de propinas à custa do dinheiro do povo. Sabia (e sabe) tanto do esquema, que, já na prisão, Joesley Batista pagava para que ele e Cunha ficassem calados – e Temer recomendou, em conversa gravada, que Joesley continuasse a suborná-los.
Da mesma forma, Geddel, apavorado com a perspectiva da confissão de Funaro, pressionou diretamente a esposa deste, ou para saber como estavam as coisas – ou para ameaçá-lo.
Por isso, seu depoimento à Justiça Federal atraiu tanta atenção. Aqui, faremos um resumo, já que o depoimento de Funaro se estendeu por vários dias.
Sobre a propina passada pelo Grupo Bertin para conseguir financiamento na Caixa Econômica Federal (CEF), durante a campanha eleitoral de 2010, Funaro afirmou que “Eduardo Cunha ficou com R$ 1 milhão. R$ 2 milhões ou R$ 2,5 milhões foram destinados ao presidente Michel Temer, e um valor, acho que R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão foram para o deputado Cândido Vaccarezza [então do PT-SP e líder do governo Dilma]”.
Segundo Funaro, a propina de Temer foi passada sob a forma de doação oficial ao diretório nacional do PMDB.
Funaro começou seu depoimento sexta-feira, na 10ª Vara Federal de Brasília, perante o juiz Vallisney Oliveira.
O esquema na Caixa Econômica era operado por Fábio Cleto, então vice-presidente de Fundos e Loterias. No interrogatório, a Procuradoria da República indagou sobre quem, no PMDB sabia das propinas. A resposta foi:
“Geddel com certeza, Lúcio (Vieira Lima, irmão de Geddel) com certeza, Henrique (Eduardo Alves), Michel Temer, Moreira Franco, Washington Reis [prefeito de Duque de Caxias, RJ]”.
Na mesma audiência, Fábio Cleto afirmou que foi colocado na Caixa por indicação de Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves – e que Funaro e Cunha cobravam propina para que empresários conseguissem liberar financiamentos na instituição.
O esquema, estourado pela Operação Sépsis, da Polícia Federal, consistia, segundo descreveu Cleto, em extorquir empresas: ele mesmo, Cleto, avisava Funaro e Cunha de quais empresas estavam tentando obter dinheiro do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa. Em seguida, Funaro e Cunha procuravam as empresas para exigir propina em troca da liberação de dinheiro do FI-FGTS. Depois disso, avisavam a Cleto quais as empresas que seriam favorecidas.
“Algum tempo depois eles me comunicavam o porcentual que supostamente tinham conseguido e me pagavam um porcentual disso, pré-aprovado”.
Uma parte dessa propina ia para Temer.
Lúcio Funaro confirmou o conteúdo de sua confissão à força-tarefa da Operação Lava Jato:
“… sobre o apoio político que tinha na Caixa, tem a esclarecer que estava amparado pelo grupo político composto por Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Michel Temer.
“… estes davam apoio à manutenção de Fábio Cleto na Caixa, sendo que foi Eduardo Cunha, com o apoio de Henrique Alves e o aval de Michel Temer quem indicou Fábio Cleto para a Vice-Presidência da Caixa.
“… após a aprovação de um pleito dentro da Caixa, recebia uma comissão das empresas.
“… a operacionalização e divisão das propinas com agentes políticos e públicos funcionavam da seguinte maneira: quando as operações eram feitas pelo colaborador [Funaro], eram emitidas notas contra a empresa pagadora e os valores eram depositados em sua conta. Com os valores já depositados, o colaborador marcava com Eduardo Cunha, para definirem como seria a divisão.
“… Cunha e o colaborador tinham uma conta corrente interna.
“… Cunha não sacava os valores, deixando-os de crédito para compensar operações futuras. Assim, quando Cunha fazia uma operação, ele já tinha um saldo devedor com o colaborador e os valores eram compensados.
“… a parte dos valores destinados a Henrique eram tratados por Cunha.
“… Henrique recebia parte dos valores da comissão pois, pessoas enviadas por ele retiraram dinheiro no escritório do colaborador – um assessor parlamentar dele chamado Wellington ou Norton. Algumas vezes o colaborador mandou entregar valores a Henrique em Brasília ou mandava no seu avião para Natal.
“… sabe que Michel Temer está envolvido em repasses do FI/FGTS.
“… embora nunca tenha tratado de dinheiro com Michel Temer, sabia que ele estava a par de todas as operações, podendo citar, por exemplo, a campanha de 2012, quando arrecadou valores para financiar a campanha do Chalita para a Prefeitura de São Paulo e o colaborador conversou com o Cunha e disse que ‘precisa falar para o Michel ligar para o Henrique Constantino, para o Henrique liberar um adiantamento aí pra campanha do Chalita’, e Michel Temer ligou na hora para o Constantino, na frente do colaborador.
“… Temer estava a par de todos os acertos, sendo que quando o colaborador solicitava a Cunha algum tipo de ação de Temer, este o fazia na sequência.
“… houve algumas entrega de valores em espécie do colaborador para Altair, homem de confiança de Cunha.
“… Altair pegou esses referidos valores e entregou para o pessoal do Temer, que não sabe se foi para o Yunnes ou outro operador.
“… os valores gerados de propina pela operação da LLX junto ao FI/FGTS, foram, de acordo com Eduardo Cunha, totalmente revertidos em favor da campanha de 2014 do PMDB, que o colaborador não participou dessa operação em nenhuma etapa” (cf. Anexo 4 da colaboração premiada de Lúcio Bolonha Funaro).
Temer, aliás, é onipresente nos depoimentos de Funaro. Outro exemplo:
“… pode identificar, em seus documentos, comprovação de pagamento de propina a pedido de Cunha para os seguintes políticos:
“(…) identificou as doações de R$1.500.000,00 para Michel Temer e 700 mil para Candido Vacarezza;
“… tais registros estão na agenda do colaborador abaixo anexada e em cadernos de anotações;
“… os pagamentos de propina foram em doações feitas diretamente para estes dois candidatos pelo GRUPO BERTIM e descontados da contabilidade do colaborador;
“… abaixo constam os documentos e planilhas com a identificação dos pagamentos a esses políticos por Eduardo Cunha. Já identificado no material apreendido pela Policia Federal” (cf. Anexo 7 da colaboração premiada de Lúcio Bolonha Funaro).
CARLOS LOPES
A base do relacionamento de um brasileiro está fortemente pautada na corrupção, qualquer brasileiro, precisamos estudar mais a formação da nossa sociedade
Não, leitor. Brasileiros não são a oligarquia política – PMDB, PT, PSDB e seus satélites. Estão mais para aqueles garis que encontraram uma fortuna (para eles) no lixo e tiveram, como primeira preocupação, encontrar o dono, para devolver o dinheiro. Graças aos céus e a nós mesmos.