Estatal detém 47% do capital da maior empresa petroquímica do país, que recebeu oferta pelo controle da Unipar e de consórcio estrangeiro
O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, afirmou na quarta-feira (14) ao ser questionado sobre a possibilidade de a estatal se tornar controladora da Braskem que “a decisão vai ser tomada no devido momento”. “Temos direito de preferência e estamos confortáveis em relação a essa posição. Vamos analisar tudo o que está acontecendo, mas não podemos dizer nada porque nesse caso, justamente, isso serve como especulação”, disse.
“A gente tem mantido uma posição inerte por enquanto, embora internamente a gente esteja trabalhando”, completou o presidente da Petrobrás.
A Braskem é a maior empresa petroquímica do país. Atualmente a Petrobrás é dona de 47% do capital votante da empresa e de 36,1% de seu capital social. Já Novonor (antiga Odebrecht), grupo privado nacional, possui 50,1% do capital votante e 38,3% do capital social da empresa.
O engenheiro químico e vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Felipe Coutinho, defende que a Petrobrás assuma o controle da Braskem. “Para que exista crescimento da indústria petroquímica brasileira, de maneira competitiva, agregando valor ao petróleo brasileiro, com altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, além de elevados níveis de conteúdo nacional na contratação de bens e serviços, é necessário que a Petrobrás assuma seu papel natural de liderança. Assumir o controle da Braskem é um importante passo para a Petrobrás realizar sua vocação à frente da petroquímica brasileira”, escreveu em artigo publicado na Aepet.
Na semana passada, a empresa brasileira Unipar, maior produtora de cloro e soda cáustica da América do Sul, enviou uma proposta à Novonor para compra do controle da Braskem por R$ 10 bilhões. O anúncio foi feito no sábado (10), quando a companhia brasileira informou que a proposta “contempla o pagamento parcial dos Bancos Credores, bem como novas condições para o saldo da dívida remanescente, e a possibilidade de a Novonor continuar com uma participação minoritária indireta na Braskem”.
Por meio de nota, o presidente do conselho de administração da Unipar, Bruno Uchino, disse que a “proposta prevê um equilíbrio entre os interesses e necessidades da Novonor, Petrobrás, acionistas minoritários e bancos credores da Braskem”. Já o presidente da Unipar, Mauricio Russomanno, destacou que a “a proposta de aquisição da Braskem está consistente e aderente com o direcionamento estratégico comunicado ao mercado”.
Em maio, a Braskem confirmou que o consórcio formado por dois grupos estrangeiros, a Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc), estatal de petróleo de Abu Dhabi nos Emirados Árabes e a gestora americana Apollo Management X, L.P., também enviou proposta para adquirir a participação da Novonor na Braskem.
Caso se concretize o negócio com a Unipar, ela evitaria a desnacionalização e ainda ajudaria no processo de reindustrialização no país, defendida pelo governo Lula – já que com os estrangeiros é certa agenda de cortes de investimentos – para extração rápida de lucros e lançamento destes para fora do país. A desnacionalização da companhia também caminha na contramão aos desejos do presidente Lula, que tem afirmado que o Brasil não está mais interessado em transferir seus ativos prontos para grupos estrangeiros.
Mas é também do interesse do governo Lula o fortalecimento da Petrobrás. A compra da Novonor pela estatal, assumindo o controle da empresa, seria a volta da Petrobrás ao setor petroquímico. Segundo a Petrobrás, em nota, a “atuação no setor petroquímico é um dos elementos estratégicos” de seu Plano Estratégico 2024-2028, no qual define prioridades de investimentos.