
O programa da TV Globo, “Conversa com Bial”, apresentou na quarta-feira (4) uma entrevista com a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e do senador pelo Amapá, Randolfe Rodrigues, da Rede.
O diagnóstico feito pelos dois sobre o momento político coincidiu em dois pontos fundamentais. O de que a democracia está ameaçada e que é necessária e urgente a união dos democratas brasileiros para defendê-la.
O entrevistador questionou se essa união de forças democráticas, defendida pelos dois entrevistados, não estaria muito longe de ocorrer. Randolfe foi o primeiro a responder, afirmando que já há um trabalho neste sentido. “A oposição está deixando claro que é contra a política de Jair Messias Bolsonaro”, esclareceu o parlamentar. Ele citou o trabalho feito no Senado, por ele, e por “outros valorosos senadores” no sentido de unir as forças democráticas, mas reconheceu que é preciso avançar.
“Esse momento aqui é um momento para isso”, salientou Randolfe, apontando para o encontro dos dois. Ele acrescentou ser “muito importante a oposição conversar com Fernando Henrique, a quem considera mais progressista até do que o PSDB.
GRAVIDADE DO MOMENTO
Fernando Henrique concordou com a avaliação da gravidade do momento vivido pelo Brasil e com a necessidade de união em defesa da democracia. Ele destacou que “o Brasil precisa também de um centro político que dialogue principalmente com o povo e não principalmente com o mercado”. “O Brasil tem que crescer, porque senão não tem o que distribuir, mas tem que melhorar a distribuição de renda no Brasil”, enfatizou FHC.
Os dois entrevistados concordaram também na avaliação de que Jair Bolsonaro, apesar de ter sido eleito, já perde popularidade. Tiveram o mesmo ponto de vista na avaliação de que ele não tem competência para governar. “Ele mesmo admite isso, que não entende nada de economia, tem uma retórica de meio ambiente que é anti meio ambiente e desrespeita qualquer política que diga respeito a direitos humanos”, lembrou Randolfe.
ATAQUES À MICHELLE BACHELET
FHC comentou as declarações de Bolsonaro sobre o pai da ex-presidente chilena Michelle Bachelet e disse que “a situação é preocupante”. “Ela falou como Alta Comissária da ONU sobre Direitos Humanos. Ela tem que ser respeitada como tal. Não estava se metendo no Brasil”, como disseram.
“O presidente não podia falar nada sobre o pai dela”, condenou o ex-presidente. O senador Randolfe e Fernando Henrique lembraram que “o Brasil teve sete conflitos desnecessários neste período de seis meses com diversos países do mundo”.
Descontraído, Randolfe disse que gritou muito “Fora FHC!”, mas que agora “é necessária a união em torno da solução dos grandes problemas que afligem o povo brasileiro”. “Temos que pensar mais no Brasil e menos no ego”, frisou o senador. “Temos que juntar os diferentes neste momento que o Brasil vive. Não se faz oposição em torno de palavras de ordem. Se faz oposição em torno do que a sociedade brasileira está precisando”, defendeu.
SUPERAR O EGO E PENSAR NO BRASIL
“Se faz oposição dando resposta a mais de 13 milhões que estão desempregados e desalentados no Brasil. Dando resposta aos cortes dramáticos que estão ocorrendo no CNPq, na Educação, na Pesquisa e na Ciência no país. Dando resposta às epidemias na Saúde, que estão voltando, e dando resposta ao drama ambiental que nós estamos vivendo”, propôs Randolfe.
“Às vezes”, observou ele, “estão querendo fazer oposição, alguns setores, não todos, baseados em palavra de ordem. Não acho que é o caminho”. “A oposição no Brasil hoje tem que ter a generosidade de construção de um campo amplo, que reúna todos os democratas”, ponderou. O senador admitiu que não se conseguiu fazer ainda uma grande concertação política no país. Ele lembrou que no passado, se ela fosse feita, “poderíamos ter superado o fisiologismo que acabou levando depois à experiência petista”.
Randolfe chamou a atenção para o fato de que hoje as grandes conquistas obtidas pelo Brasil nos últimos tempos estão sob ameaça e destacou entre elas a democracia, “pelo que está acontecendo na atual conjuntura brasileira”. Fernando Henrique destacou o papel da mídia que, segundo ele, “está muito contrária a tudo que está acontecendo”. “A mídia tem mostrado muitos equívocos do governo, e o principal deles é não entender que o mundo é outro. O governo dá a impressão de que vê inimigos por toda a parte e que tem um perigo comunista por todos os lados”, disse FHC.
SÉRGIO MORO
Houve também identidade na avaliação dos dois entrevistados sobre a situação do ex-juiz Sérgio Moro, que, para ambos, está muito desmoralizado. Randolfe avaliou que ele não deveria nem ter assumido o cargo e Fernando Henrique disse se estivesse no lugar dele, pediria demissão. O senador chegou a dizer que “pelos atos, pelos fatos e acontecimentos, Sergio Moro já foi demitido”. “Ele, que estava credenciado para combater a corrupção, hoje está apenas servindo ao presidente da República”, completou.
S. C.