Em menos de 24 horas, foram mais de 300 mm de chuvas acumuladas no estado do Rio Grande do Sul. O suficiente para deixar 10 mortos, 11 feridos e 19.110 pessoas afetadas. Dessas, 1.145 estão em abrigos e 1.431 desalojadas, de acordo com atualização feita nesta quarta-feira (1º). Mais de 100 cidades registraram transtornos, como inundações, quedas de barreiras e deslizamentos de terra.
Ainda há 21 pessoas desaparecidas nas cidades de Candelária (8), Encantado (6), Roca Sales (4), Salvador do Sul (1) e São Vendelino (2). No total, 104 municípios foram afetados pelas fortes precipitações no estado. As mortes ocorreram em Paverama (2), Pantano Grande (1), Itaara (1), Encantado (1), Salvador do Sul (2), Segredo (1), Santa Cruz do Sul (1) e Santa Maria (1).
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou em uma live na tarde de terça-feira (30) que, até o momento, o cenário das chuvas se assemelha ao de novembro do ano passado. Na ocasião, as chuvas causaram transtornos de forma esparsa e cinco mortes, diferente das enchentes de setembro, que resultaram em mais de 50 mortes.
O governador determinou a intensificação dos esforços para resgatar famílias ilhadas, com atenção especial ao município de Candelária, que se encontra em estado crítico, segundo a Defesa Civil. Além da Força Aérea, aviões da Brigada Militar e da Polícia Civil também vão atuar nos resgates.
Leite, pediu que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), envie apoio do governo federal para o estado, diante da enchente.
O presidente Lula atendeu ao pedido de Leite e ofereceu a estrutura federal para apoiar o Estado. “Conversei por telefone com o governador gaúcho, Eduardo Leite, e coloquei o governo federal à disposição do Rio Grande do Sul que novamente sofre com as fortes chuvas”, escreveu Lula.
“Falei com os ministérios da Integração, da Defesa e com o ministro Pimenta e, no que for necessário, governo federal irá se somar aos esforços do governo estadual e prefeituras para atravessarmos e superarmos mais esse momento difícil, reflexos das mudanças climáticas que afetam o planeta”, completou o presidente.
Mais cedo, Eduardo Leite disse que era preciso resgatar com urgência moradores de cidades que estão em situação de emergência.
“Presidente Lula, por favor envie IMEDIATAMENTE todo o apoio aéreo possível para o RS. Precisamos resgatar JÁ centenas de pessoas em dezenas de municípios que estão em situação de emergência pelas chuvas intensas já ocorridas e que vão continuar nos próximos dias”, disse o governador.
FAB
A Força Aérea Brasileira (FAB) atuou no resgate de famílias afetadas pelas enchentes que atingem o estado e vai continuar as ações hoje. Na região de Candelária, uma família que estava ilhada em uma casa com risco de desabamento foi socorrida.
O resgate da família foi realizado já no período noturno, com a retirada das pessoas por içamento. Os militares contam com óculos de visão noturna para possibilitar as ações depois de anoitecer.
A FAB foi acionada na noite desta terça e colocou dois helicópteros H-60 Black Hawk, do Quinto Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação (5º/8º GAV), lotado na Base Aérea de Santa Maria (Basm) para realizar as ações.
Imagens do alto mostram uma grande extensão de terra coberta pela água. Apenas as copas de algumas árvores podem ser avistadas. As casas estão rodeadas de água.
Em um dos pontos, o solo foi arrastado, deixando um rasgo no chão. Em outro trecho da gravação, é possível observar a água entrando em uma casa. Ela está do lado de um volumoso curso d’água, que se desloca em velocidade.
Nesse local, os militares realizaram o içamento, com um cesto, de uma senhora do solo até a aeronave.
SEM TRÉGUAS
As próximas horas deverão ser de atenção no Rio Grande do Sul. Há o ingresso de uma nova frente fria no estado. A previsão do tempo inclui praticamente todas as regiões na rota de aviso de chuvas fortes, com queda de granizo, ventos intensos e descargas elétricas.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as tempestades não darão trégua. Especificamente “na ampla faixa central dos vales, encosta da serra e metropolitana”.
“Entre esta quarta (1º) e a quinta-feira (2), uma ampla área de baixa pressão atmosférica deve favorecer a formação de novas áreas de instabilidade, juntamente com a formação e deslocamento de uma frente fria”, afirma o órgão.
Na quinta, esses pontos de instabilidade devem seguir também para Santa Catarina e Paraná (sul e oeste do estado). Isso vai trazer temporais, inclusive de forte intensidade.
O Inmet aponta grandes chances de “ventos fortes com rajadas acima dos 80 km/h, ocorrência de descargas elétricas, queda de granizo e chuvas ainda volumosas, que podem superar os 200 mm entre o Rio Grande do Sul e o sul de Santa Catarina”.
O norte do Rio Grande do Sul, o estado de Santa Catarina e o sul do Paraná também sofreram com queda de temperaturas, após o deslocamento da frente fria mais para o norte. Todos esses fenômenos têm influência do El Niño.
“Muita preocupação nas próximas 24h, 36h. Além dos volumes de chuva e ventos no interior do estado, a gente deve ouvir falar em alguns transtornos, como microburst (ou microexplosão), que são tempestades localizadas, em função do contraste de temperatura”, explica o meteorologista do Inmet Marcelo Schneider.
De acordo com a Climatempo, microexplosão é um fenômeno caracterizado por uma rajada intensa e de curta duração de vento descendente (de cima para baixo) que atinge o solo em áreas relativamente pequenas. A ocorrência pode causar danos significativos, devido à força concentrada e às repentinas mudanças nas condições de vento, esclarece o meteorologista Guilherme Borges.
ESTADO DE EMERGÊNCIA
Mais da metade (57%) dos municípios do Rio Grande do Sul está em estado de emergência reconhecido pelo governo federal por causa das chuvas. A informação consta em um relatório do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC).
Com a medida, as 283 cidades nessa situação estão autorizadas a receber recursos da União para ações de assistência imediata, como compra de alimentos e desobstrução de vias; e para projetos de longo prazo, como a construção de unidades habitacionais.
Desde setembro do ano passado, o estado tem enfrentado problemas em razão de temporais, enchentes, ciclones e outros efeitos naturais. À época, o governo federal anunciou o repasse de R$ 741 milhões para municípios gaúchos.
Em março, mais R$ 134 milhões foram enviados para a região para ações de assistência, reestabelecimento e reconstrução de danos causados pelas chuvas.