O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, afirmou nesta terça-feira (21), em entrevista à Folha de S. Paulo, que “a capital do Amazonas já não vive uma emergência, mas um estado de calamidade”. Virgílio reuniu-se nesta segunda-feira (20) com o vice-presidente, Hamilton Mourão, para apresentar as demandas da cidade na pandemia. Ele disse ter aproveitado o encontro para fazer seu desabafo contra Jair Bolsonaro.
“Não podia deixar de condenar o presidente por participar de um comício, aglomerando, e ainda por cima tecendo loas a essa coisa absurda que foi o AI-5. Cassou meu pai, cassou Mário Covas, pessoas acima de quaisquer suspeitas, e que serviam o país”, diz. “É de extremo mau gosto o presidente participar de um comício, insistentemente contrariando a Organização Mundial de Saúde e os esforços que fazem governadores e prefeitos”, afirma Virgílio. “Bolsonaro toca diariamente nas minhas feridas”, criticou.
Horas depois do desabafo, Bolsonaro voltaria a desrespeitar o prefeito ao dizer que não é coveiro após ter sido perguntado pela Folha sobre o número de mortes por coronavírus. “Queria dizer para ele que tenho muitos coveiros adoecidos. Alguns em estado grave. Tenho muito respeito pelos coveiros. Não sei se ele serviria para ser coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros”, afirma Virgílio, com lágrimas nos olhos.
Em vídeo publicado no Facebook, o prefeito manauara relatou a gravidade da situação e fez um apelo emocionado para que a população respeite a quarentena.
Amazonas pede socorro
O prefeito de Manaus relatou que a situação na cidade é grave e afirmou precisar de apoio para o aparelhos de tomografia, profissionais treinados, equipamentos de proteção individual e remédios. “O Amazonas pede socorro. SOS Amazonas. Aceitamos voluntários, médicos, aparelhos que estejam em bom funcionamento ou novos”, afirmou.
Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana divulgado pelo portal UOL, entre os dias 12 e 19 de abril, 656 corpos foram sepultados nos cemitérios municipais administrados pela Prefeitura de Manaus. Uma média de 82 funerais por dia, frente aos 28 sepultamentos diários registrados em média no ano passado.
O pico de casos em Manaus aconteceu no último domingo (19), quando foram enterrados 122 corpos. Neste dia, o governo do Amazonas registrou oficialmente três mortes oficiais por Covid-19 na capital.
“São números que mostram o colapso. Estamos chegando no ponto muito doloroso, ao qual não precisaríamos ter chegado se tivéssemos praticado a horizontalidade da quarentena, no qual o médico terá que se fazer a pergunta: salvo o jovem ou o velho? “Estamos em ponto de barbárie”, concluiu Virgílio. O estado tem taxa de ocupação de 91% de seus leitos de UTI, cálculo que Virgílio considera exageradamente otimista. No estado, o número de casos confirmados chegou a 2.270, com 193 mortes no total.
Subnotificações
Dados oficiais do Ministério da Saúde mostram que Amazonas tem a mais alta de incidência do coronavírus entre todos os estados do país. A subnotificação dos óbitos foi reconhecida pelo governador Wilson Lima (PSC). Ele disse durante entrevista à Rádio Tiradentes na semana passada que “não há teste para todo mundo”. Ainda segundo Lima, há casos no Amazonas de pessoas que estão falecendo em casa, que os parentes ligam para funerária, sem passar pela Vigilância Sanitária, e esse corpo é levado direto para o enterro”.