“Me dói um pouco essa narrativa de que estamos dando uma informação para atrapalhar o governo, enquanto que a única coisa que fazemos é ser transparente para que tenhamos credibilidade”
A ex-coordenadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lubia Vinhas, afirmou que o número sobre aumento do desmatamento “não vai ser bonitinho e ele vai aparecer”.
“Acho que uma das coisas difíceis da gente no Inpe engolir é essa narrativa de ‘ah, o dado é ruim para o Brasil e vocês estão divulgando ele na imprensa. Por que não avisa o governo?’”, disse a ex-coordenadora de Observação da Terra, que foi exonerada depois de publicar os dados que mostram o aumento do desmatamento em 2020.
“Me dói um pouco essa narrativa de que estamos jogando contra o governo, dando uma informação para atrapalhar o governo, enquanto que a única coisa que fazemos é ser transparente para que tenhamos credibilidade”, continuou, em transmissão feita pela Associação Nacional de Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema).
Em 2019, o ex-diretor Ricardo Galvão foi demitido logo depois que o Inpe divulgou dados que mostravam o aumento das queimadas. Ele foi acusado por Jair Bolsonaro de estar a serviço de ONGs internacionais.
Lubia foi exonerada do cargo de coordenação nas mesmas condições, quando os dados obtidos pelo Inpe mostraram que o desmatamento da Amazônia entre janeiro e junho de 2020 foi 25% maior do que o do mesmo período de 2019, chegando a 3.069,57 km² desmatados.
O Ministério do Meio Ambiente argumenta que a sua demissão faz parte de uma “reestruturação” do Inpe.
Para o servidor de carreira do Instituto, Antonio Miguel V. Monteiro, essa “reestruturação implica numa verticalização, menos gente participando das decisões, portanto mais dificuldades que você possa se contrapor, que possa haver opiniões dissonantes”.
O ex-coordenador do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, George Porto Ferreira, disse que as críticas feitas por Bolsonaro pintam o Instituto como “uma indústria da multa” e que a “Amazônia é um quintal a ser explorado”.
“Para reduzir desmatamento, é preciso um plano sério e parar de dar sinais de que nada vai acontecer com quem desmatar”, disse.