
Para alegria dos terraplanistas tupiniquins (“Não estamos sós!!!”), uma organização internacional de, digamos, excêntricos, que asseveram que a Terra não é redonda, anunciou, conforme os jornais The Guardian e El País, que fretará um cruzeiro com o propósito de ir até os confins do planeta, ou seja, até à borda da Terra. A organização atende pelo nome de Flat Earth International Conference, ou Conferência Internacional da Terra Plana. O ‘Flat Earth Cruise 2020” será “a maior, mais audaz e melhor aventura até à data”, proclama seu site.
Na narrativa do El País, “existem várias teorias dentro dos que creem que a Terra é plana, ainda que a principal afirme que, depois de “uma extensa experimentação, análise e investigação”, a Terra é um disco gigante com o pólo norte no centro e rodeado de ‘una barreira de parede de gelo: a Antártida’, segundo a sociedade terraplanista”.
Os terraplanistas, inclusive, têm sua própria ‘Wikipedia’, a “Flatpedia”, esclarece o jornal espanhol, que dela transcreve um douto ensinamento: “até onde sabemos, ninguém conseguiu ir muito além do muro de gelo e regressado para contato. O que sabemos é que rodeia a Terra, serve para conter os oceanos e ajuda a nos proteger do que possa haver mais além”.
Os organizadores do cruzeiro advertem, no entanto, que não podem garantir chegar ao muro, mas prometem que os viajantes encontrarão “evidências” suficientes para apreciar a viagem. Além de navegar à beira do precipício, os terraplanistas, registra El País, poderão desfrutar de restaurantes e piscinas com ondas. Apesar de perguntada sobre o custo do afretamento do cruzeiro e o preço dos camarotes pelo Guardian, a FEIC não respondeu.
Nos fóruns terraplanistas, é comum exigir fotos que supostamente demonstrariam a “existência desse muro (de gelo, não o de Trump)”. Para os céticos do El Pais, o que as fotos mostram são grandes lâminas de gelo ártico, “que ao desprenderem-se cada vez mais frequentemente devido ao aquecimento global, deixam grandes cortes verticais que se assemelham a muralhas”.
Para a FEIC, “as agências espaciais do mundo” conspiraram para falsificar “a viagem espacial e a exploração”. Conforme o delírio, “provavelmente começou durante a Guerra Fria”, com EUA e URSS obcecados por serem os melhores “em chegar ao espaço”, até o ponto que “cada um fingia suas conquistas para acompanhar o ritmo das supostas conquistas do rival”.
Como o mundo está cheio de estraga-prazeres, o Guardian ouviu um ex-capitão de navio, Henk Keijer, com 23 anos de experiência em singrar os mares, que relatou ter navegado “dois milhões de milhas” e “jamais” encontrou um só comandante de barco que acreditasse que a Terra seja plana.
Como Keijer assinalou, os barcos “navegam baseando-se no princípio de que a Terra é redonda”, e é assim que as cartas náuticas são desenhadas”. Se a tripulação opina que o planeta não é redondo, a navegação poderia se converter em tarefa “muito complicada”. A própria existência do GPS é outra prova de que a Terra é esférica, ressaltou, e se baseia em 24 satélites que orbitam a Terra. “Se fosse plana, três satélites seriam suficientes para proporcionar os dados”.
A.P.