“Quando se preconizava só testar os casos complicados, só os pacientes de hospital, nós sempre testamos todos, todos os suspeitos e todos os contatos”, disse Carlos Alberto Justo, em entrevista ao HP
A chegada do novo coronavírus na cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina, cuja população é de 500 mil habitantes, se deu no mesmo período em que a pandemia atingia outras capitais do país.
O secretário de Saúde do município, Carlos Alberto Justo, afirmou, na segunda-feira (08), que foi fundamental iniciar precocemente as medidas de diagnóstico e de orientação e proteção da população.
“Já no dia 13 de março, a prefeitura publicou o primeiro decreto de isolamento social”, disse o secretário, em entrevista ao HP. O médico cirurgião, que foi diretor do Hospital Universitário da UFSC, destacou que a testagem mais ampla, implantada no município, e a forte estrutura de atenção básica para exercer o controle foram determinantes para os bons resultados obtidos na batalha pelo controle da pandemia.
“Na época do surgimento dos primeiros casos, quando se preconizava só testar os casos complicados, só os pacientes de hospital, nós sempre testamos todos, todos os suspeitos e todos os contatos”, afirmou Alberto Justo.
“Feito isso, nós garantimos, através da atenção básica, das equipes da família e dos agentes de saúde, o isolamento mais rápido das pessoas positivadas. Isso foi fundamental para chegarmos no estágio atual”, destacou o secretário.
“As decisões tomadas nas áreas de vigilância epidemiológica ativa dirigidas a testar os casos suspeitos e os contatos de infectados foram decisivas para diminuir a circulação do vírus na cidade”, argumentou o titular da saúde do município.
As atitudes de vigilância da pasta foram tomadas junto com a decisão geral da prefeitura de instituir o isolamento social, de criar as barreiras sanitárias, de tornar obrigatório o uso de máscaras e outras medidas preconizadas pela Organização Mundial da Saúde.
Uma das primeiras decisões da administração municipal foi implantar a fiscalização no aeroporto internacional da cidade. Para evitar a chegada de novos infectados foram instaladas barreiras sanitárias no local.
Hoje Florianópolis colhe os frutos dessas decisões tomadas precocemente e apresenta um dos melhores resultados do país no controle da pandemia.
Até 4 de maio, apenas sete óbitos foram registrados na cidade que contabilizou pouco mais de 800 casos confirmados.
Passaram-se mais de trinta dias sem nenhuma morte. A última foi registrada no último sábado (06). A vítima era uma mulher de 75 anos que tinha histórico de comorbidades e estava internada no Hospital de Caridade desde a última segunda-feira.
Os servidores da saúde aplicaram testes na população considerada de maior zona de risco, atendendo cerca de 60 mil pessoas.
“Até hoje continuamos na mesma situação”, apontou o secretário.
“Sempre que temos um caso suspeito, ele é encaminhado para teste, e o teste, depende do tempo em que ele se encontra na epidemia. Os casos confirmados, nós entramos em contato também não só com a família, mas também com os contatos deles e aí, entramos em acardo, de acordo com o tempo da doença”, afirmou Carlos Justo.
“Isso tem sido fundamental como estratégia, associada com o isolamento social. Isso é decisivo, manter a quarentena, manter os testes e ter uma atenção primária forte, que possa fazer bem o controle, não basta só testar e isolar. Tem que ter condições de isolamento. Ter a equipe de saúde da família, ter o contato com os pacientes que estão em quarentena ou que estão em isolamento”, prosseguiu o secretário de Floripa.
Ele disse que houve também um esforço para manter o acesso dessas pessoas à saúde. “Por isso a estruturação da atenção primária em todos os seus níveis é fundamental para que você tenha um bom controle”, assinalou Justo.
Segundo o secretário, os dois tipos de teste foram usados, o RT-PCR (que detecta o vírus no organismo), usado nos primeiros sete dias de sintomas, e os testes rápidos (que captam o anticorpo), quando os sintomas tinham mais de sete dias.
“Nós começamos nos primeiros meses com o PCR, depois nós adquirimos os outros testes e passamos a usar associado”, explicou Carlos Alberto Justo. Ele contou que isso “permitiu que a gente, além de identificar a doença de maneira precoce, tratando para não chegar em estado grave, conseguisse testar todos os contatos dos últimos sete dias.”
Ao final de todo este esforço, dos 814 casos confirmados na cidade, 807 foram recuperados.
Especialistas, como o professor Eduardo Costa, da Fundação Osvaldo Cruz, e outros, vêm defendendo que o principal meio para se ter um resultado positivo no controle da pandemia, como está sendo obtido em Florianópolis, diz respeito à maior capacidade de entendimento por parte dos gestores de como a doença está se comportando. Isto, segundo esses especialistas, se obtém com a testagem. Esta medida garante uma maior capacidade de exercer o controle dos focos da doença.
Como destacou o secretário de Florianópolis, esse maior controle foi possível “graças à estratégia de busca ativa de casos através das testagens, ao mesmo tempo em que medidas de isolamento geral eram adotadas”.
Ao todo, a capital ficou paralisada por apenas 30 dias, mas continua mantendo normas de funcionamento e serviços de circulação de pessoas atualmente. A taxa de ocupação de leitos hospitalares na capital catarinense tem girado em torno de 50%.
Em reportagem recente, o prefeito Gean Loureiro (DEM) também explicou que o município procurou se basear na ciência para nortear as ações.
“Nas nossas medidas, levamos em conta um artigo que foi publicado na Universidade de Stanford, que é o The Hammer and the Dance (O Martelo e a Dança), que explica o combate nas cidades que tiveram sucesso”, contou. “Você dá a martelada, que é praticamente uma quarentena geral. Nosso R(0), que é o fator de transmissão, estava em 3,7 e caiu para 1,2. Mantivemos o isolamento. Hoje, é 0,89, com oscilação de 0,2 para cima ou para baixo. Isso significa que uma pessoa transmite para menos de uma pessoa. E a gente controla essa dança (reabertura da cidade)”, disse Loureiro.
Outra proposta que também ajudou muito, segundo as autoridades de Florianópolis, foram as estratégias de comunicação. Os cidadãos estavam recebendo SMS’s da secretaria de saúde, sempre que um novo caso era confirmado a aproximadamente 200 metros de suas casas. A ideia era manter todos cientes da situação e conscientizá-los a permanecer em casa.
Foram disparados mais de 20 mil SMS (mensagens de texto) informando que existiam casos próximos. Isso começou a dar uma demonstração, segundo a prefeitura, de que a doença estava mais próxima da pessoa do que ela imaginava.
SÉRGIO CRUZ
Excelente artigo, claro e objetivo. Experiência bastante positiva de Florianópolis. Parabéns ótimo exemplo de como é possível controlar a doença e sua transmissão na população.