O município de Araraquara, no interior de São Paulo, tem enfrentado a pandemia do novo coronavírus com um programa de ação que visa centralmente interromper a transmissão do vírus na cidade.
O carro-chefe do programa é a testagem diagnóstica para a busca de casos e o rastreamento de contatos de infectados pela Covid-19. Além disso, a cidade também se preparou com leitos hospitalares suficientes para o atendimento dos pacientes mais graves. Essas ações têm trazido um bom resultado no combate ao coronavírus na cidade.
O coordenador de Atenção Especializada da Prefeitura, Edison Rodrigues Filho, explicou, em entrevista ao HP, que “se o teste da pessoa deu positivo, vamos falar com seus comunicantes, vamos ver onde ela esteve, onde ela trabalha. Fazemos uma vigilância epidemiológica avançada. A gente já dá um atestado de 14 dias para que as pessoas ao redor do paciente fiquem isoladas”.
“Temos que assumir que elas já estão contaminadas para não haver chance das pessoas daquela casa passar a doença para terceiros”, disse Edison.
“Percebemos que nos casos em que fomos mais rápidos, outros funcionários não se contaminaram. Dessa forma, conseguimos conter, fazer nosso trabalho de bloqueio”, contou
Araraquara tem 226 mil habitantes e, até agora, 15 pessoas morreram vítimas da Covid-19, enquanto outras cidades do mesmo porte chegaram a 88 mortes.
Além do alto número de testes, que está em 3.516 para cada 100 mil habitantes – a média brasileira é de 1.518 -, a Prefeitura de Araraquara não descuida do trabalho de acompanhamento do paciente e o rastreio de casos entre as pessoas que tiveram contato com ele para bloquear a transmissão.
Edison Rodrigues explica que “a partir do momento em que sabemos o local de trabalho, fazemos, junto com a vigilância sanitária, um processo de sanitização, de interdição e de comunicar o proprietário para que consigamos conter a propagação do vírus”.
Assista trechos da entrevista
“Percebemos que nos casos em que fomos mais rápidos, outros funcionários não se contaminaram. Dessa forma, conseguimos conter, fazer nosso trabalho de bloqueio”, contou.
O coordenador relatou que a “equipe de bloqueio” fica em contato constante com o paciente que está em casa e com sua família para garantir que a quarentena não seja furada.
“Esse é o pulo do gato”, apontou. “Se sabemos quem está contaminado e não deixamos sair de casa até que isso passe, a disseminação diminui”.
Um Comitê de Solidariedade tem reunido recursos para distribuir cestas básicas e outros produtos essenciais entre as famílias necessitadas a fim de permitir que a quarentena seja respeitada.
“Esse é o pulo do gato”, apontou. “Se sabemos quem está contaminado e não deixamos sair de casa até que isso passe, a disseminação diminui”.
“Se governo federal não dá condições da pessoa ficar em casa enquanto ela precisa sobreviver, acaba saindo para trabalhar. Desse jeito, a contaminação acontece. O isolamento generalizado está fraco em todo lugar, mas Araraquara é a cidade com a pior taxa do estado”, denunciou Edison Rodrigues Filho.
“Criamos um 0800 para as pessoas tirarem dúvidas com médicos. Também fizemos um plantão de atendimento psicológico pelo telefone. Isso ajuda a atender as pessoas durante a quarentena, que é muito difícil”, prosseguiu.
Para que o método do rastreamento seja efetivo é importante ter uma ampla testagem a partir do método RT-PCR, e não do teste rápido. O PCR identifica partículas do vírus na pessoa e é capaz de dizer, com precisão, se ela está infectada naquele momento. O teste rápido, que identifica a presença de anticorpos, é mais recomendado para os inquéritos epidemiológicos, onde se estuda a situação da pandemia em um grupo grande de pessoas.
“Desde o início da pandemia tinha que ser priorizado o PCR ao invés do teste rápido. Foi uma escolha certa que nós fizemos na época”, informou.
O Ministério da Saúde, por outro lado, distribuiu entre os municípios os testes rápidos. “Foi uma merreca e muito atrasado. Recebemos em torno de mil testes rápidos do Ministério, depois de já termos feito por conta própria mil e quinhentos RT-PCR. O Ministério está totalmente fora do eixo”.
Os testes de PCR estão sendo feitos em conjunto com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), no campus de Araraquara. Os resultados têm saído rápidos, o que é fundamental para as atividades de vigilância epidemiológica.
INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO
Os testes rápidos, enviados pelo governo federal ou feitos em conjunto com a Universidade de Araraquara (UNIARA), têm sido utilizados na cidade no inquérito epidemiológico. “O inquérito vê o passado, não vê o presente”, explicou Edison.
A Prefeitura realizou a testagem dirigida em todos os profissionais da saúde, da guarda municipal e dentro dos asilos. “Identificamos alguns idosos contaminados, que já foram isolados na hora. Contivemos uma possível disseminação entre o grupo”.
Depois de todos esses grupos terem passado pelos testes rápidos, foi iniciado um inquérito epidemiológico nos bairros com maior número de idosos. “Vão ser dois mil testes entre os idosos para que tenhamos um retrato de como está a situação na cidade”.
LETALIDADE BAIXA
Até o dia 1º de junho foram feitos mais de 8.300 testes na cidade, sendo a maior parte deles do tipo RT-PCR. Isso dá cerca de 3.516 testes para cada 100 mil habitantes. A média nacional é de 1.518 testes para cada 100 mil habitantes.
Dessa forma, os números da cidade correspondem mais fielmente à realidade do que no restante do país. Até o dia 7 de julho eram 1.109 casos confirmados e 15 mortes. Isso significa uma letalidade de 1,2%.
Dos contaminados, 946 pessoas já saíram da quarentena.
Colabora com a baixa letalidade da doença na cidade a grande capacidade hospitalar instalada em situação de emergência e os protocolos adotados.
“Estamos deixando em observação as pessoas com mais de 45 anos, independente de comorbidade. Nós observamos que mesmo as com menos de 60 anos podem ter uma evolução ruim da doença”, explicou o Coordenador de Atenção Especializada.
Para que isso fosse possível, foram instalados 79 leitos, divididos entre UTI e de enfermagem, em um Hospital de Campanha, uma Unidade de Pronto Atendimento especializada para casos de coronavírus e a Santa Casa.
“Esse processo ainda está nos dando um resultado positivo. Araraquara tem uma das menores taxas de letalidade entre os municípios com mais de 200 mil habitantes”
Mais de 100 profissionais, entre médicos, enfermeiros e agentes de saúde, foram contratados para manter a estrutura emergencial.
“Esse processo ainda está nos dando um resultado positivo. Araraquara tem uma das menores taxas de letalidade entre os municípios com mais de 200 mil habitantes”.
“E é importante dizer: não estamos usando nem cloroquina e muito menos ivermectina, não tem nada disso no nosso protocolo”, enfatizou.
Se comparada com outros municípios do mesmo porte e região, Araraquara apresenta um baixo número de mortos por Covid-19. Limeira tem 88 mortos; Rio Claro tem 42; Araraquara tem 15.
PEDRO BIANCO