A revista dos banqueiros se acha no direito de “exigir” que o presidente siga as ordens de sua equipe econômica e meta a tesoura no orçamento da União. Tudo para aumentar os lucros bilionários do financismo
A revista britânica Economist, porta-voz dos banqueiros, publicou na quinta-feira (18) um editorial exigindo que o governo Lula abandone seu programa de governo e aumente os ganhos dos especuladores. Eles querem que o presidente faça cortes maiores nos investimentos públicos e nos programas sociais para garantir “tranquilidade” aos agentes do “mercado”.
É verdade que não se podia esperar outra coisa de uma revista como esta. Afinal, ela é mantida e financiada pelos principais bancos do mundo, mas o descaramento é impressionante. Já estão sangrando o país em 780 bilhões de reais em juros todos os anos – o segundo maior juro real do mundo – e ainda querem extrair mais do Brasil. Mantêm a economia do Brasil estagnada e alardeiam para um inexistente e fantasioso gasto “exagerado” do governo com o povo.
O “gasto exagerado”, a que se refere a revista, efetivamente não é com o povo, não é com a Saúde ou com a Educação, ou mesmo com investimentos no setor produtivo. É com os juros pagos por conta da política nefasta do Banco Central. É com a agiotagem desenfreada que impera no país. Mas, a revista, de forma oportunista, esconde o fato. Diz que o “déficit fiscal geral é de 9% do PIB”. Ora, a quase totalidade deste “déficit fiscal geral” é causado pelos gastos com juros. Mas a revista inglesa nada fala sobre isso.
Os gastos do governo são divididos em dois. Os gastos primários, ou seja, gastos com toda a sociedade, e os gastos totais, que incluem as despesas com pagamentos de juros, amortização e rolagem da dívida.
O gasto total é que leva o déficit a 9% do PIB. Mas, a revista dos banqueiros mistura tudo para confundir os leitores. O gasto gigante é com juros, mas, os espertinhos querem que sejam feitos cortes nos gastos primários, ou seja, na Saúde, Educação, Previdência, etc.
Os editorialistas ingleses estão interessados unicamente em aumentar os ganhos bilionários de seus patrões com os juros da dívida, em detrimento de todo o resto do país. Para isso, não se envergonham em trapacear e mentir em seu editorial.
O cinismo chega a tal ponto que a Economist afirma que o presidente Lula “está gastando como se o país fosse muito mais rico do que é”. Outra vez, mistura gastos sociais e investimentos com gastos financeiros.
Tudo para confundir os incautos e permitir a elevação de seus lucros. Praticamente, metade do orçamento geral do país está sendo desviado para embolsar os agiotas, os ricaços e os banqueiros, mas a revista diz, sem a menor cerimônia, que o governo está esbanjando dinheiro com o povo. Quem está embolsando bilhões em dinheiro público não é o povo, são os bancos.
O correspondente a 1% da população, os chamados “investidores” – também apelidados de “mercado” – está embolsando quase metade do orçamento da União, enquanto o país inteiro fica com a outra metade. Nenhum país do mundo sobrevive à tamanha sangria de suas finanças. Não há limites para a ganância dessa gente da banca internacional. Se deixar, eles destroem a economia nacional.
E o pior é que alguns membros do governo, diferentemente do presidente Lula, que tem denunciado a sanha exagerada dos bancos e a política criminosa do BC, se esforçam em espremer as despesas primárias – despesas com o país e com o setor produtivo –, em busca de zerar o déficit e, até, de obter superávits primários. Tudo para agradar essa gente. Repetem todos os dias o mantra de que “só se pode gastar o que se arrecada”.
No entanto, essa tese mofada, de rigidez fiscal a todo custo, pela qual o país só pode gastar o que arrecada – ao mesmo tempo que comparam famílias com um país – é de uma estupidez sem tamanho. Ela já foi superada há muito tempo. Essa ideia, muito em moda no Brasil oligárquico do século XIX, só serviu para retardar o desenvolvimento industrial brasileiro.
Qualquer estudante de economia sabe que é o crédito que puxa a atividade econômica de um país, pois é o endividamento público – ou a emissão – que cria ativos que vão gerar riquezas e elevar a arrecadação geral.
O próprio presidente Lula tem dito isso frequentemente em seus discursos, mas há quem, dentro do governo, siga insistindo nessa velha tese positivista – que Getúlio Vargas deixou para trás com o Nacional-Desenvolvimentismo – de que um país soberano tem que agir como uma família e só gastar o que arrecada.
A revista tenta, de forma matreira, forçar Lula a aderir à turma mais retrógrada, mais banqueirista e mais neoliberal de seu governo – uma turma que atua só pensando em zerar o déficit público e agradar o “mercado financeiro”. É gente que se esquece que o Brasil precisa crescer urgentemente. The Economist produziu tal editorial, obviamente, para reforçar esses setores atrasados do governo.
“Lula poderia impedir parte disso [gastos], aderindo estritamente à estrutura fiscal que seu governo elaborou para substituir um teto de gastos rígido que quebrou sob o governo Bolsonaro. Em vez disso, ele atirou no Banco Central, confundindo o sintoma de altas taxas de juros com sua causa subjacente: incontinência fiscal”, diz a revista.
Como vem denunciando o economista Paulo Kliass, “o financismo impõe suas exigências – cortar gastos sociais e manter os juros altos – e a área econômica do governo se encarrega de defendê-las e aplicá-las”.
Com maior sensibilidade política, Lula percebe que essa política desastrosa pode inviabilizar o seu programa de governo. Ele também está ciente de que, se isso ocorrer, fatalmente o fascismo se fortalerá e poderá voltar. Por isso, Lula resiste e está certo em resistir. Agora, é preciso agir contra essa gente. A revista sabe dessa disputa e se esforça para “enquadrar” o presidente. Não foi outro o objetivo do editorial.
SÉRGIO CRUZ
Excelente editorial sobre o posicionamento da revista britânica Economist, que defende exageradamente os banqueiros que investem em nosso país e visam sempre lucros estratofericos, precisam aprender que este país não é mais um paraíso fiscal, más um mercado equilibrado onde precisam ter estratégias para sair sempre ganhando. Certo está o governo em não aceitar estas críticas provocativas que visam diretamente beneficiar estes investidores de ganho fácil!