O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, confirmou em sua colaboração premiada que o general Estevam Theóphilo, responsável pelo Comando de Operações Terrestres (COTER) do Exército, aceitou participar do golpe e colocar tropas nas ruas assim que Bolsonaro assinasse o decreto instalando a ditadura.
Entre novembro e dezembro de 2022, Jair Bolsonaro pediu o apoio de lideranças militares para o golpe que tramava para manter-se no poder e impedir a posse de Lula.
No dia 28 de novembro daquele ano, Mauro Cid conversou com o coronel Correa Neto sobre a organização de uma reunião em Brasília com militares formados pelas Forças Especiais.
Cid perguntou se o assistente “do Estevão (sic)” estaria no encontro e diz que “ele é o mais importante”.
Correa confirma que sim e diz que o assistente era Cleverson, referindo-se ao coronel Cleverson Ney Magalhães.
O general Estevam Theóphilo, enquanto chefe do Comando de Operações Terrestres (COTER), designava os planos para cada comando do Exército. Por essa atribuição, Jair Bolsonaro enxergou nele um caminho para ter o apoio dos militares mesmo sem a adesão dos comandantes.
Isso porque no dia 7 de dezembro de 2022, Jair Bolsonaro se reuniu com os comandantes do Exército, Aeronáutica e Marinha para pedir apoio para seu golpe. No encontro, apresentou um decreto que pretendia assinar para manter-se no poder e anular as eleições presidenciais.
Os comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Junior, recusaram-se a participar do conluio.
Dois dias depois, em 9 de dezembro de 2022, Jair Bolsonaro chamou Estevam Theóphilo para uma reunião no Palácio da Alvorada, que durou cerca de uma hora.
Nesta reunião, Theóphilo “aceitou cumprir as determinações, relacionadas ao Golpe de Estado, caso o então Presidente da República assinasse o decreto”, relatou a PF.
Essa informação foi dada diretamente por Mauro Cid, que conversou com o general Theóphilo depois da reunião deste com Bolsonaro. O caso consta no relatório de 884 páginas da Polícia Federal que indiciou Jair Bolsonaro e seus aliados, inclusive o general Theóphilo, pela tentativa de golpe de estado.
O relato de Cid é reforçado por uma mensagem enviada por ele, no mesmo dia 9 de dezembro, para Correa Neto, com quem conversava sobre o plano de golpe. Mauro Cid contou que “ele [Theophilo] quer fazer… Desde que o Pr [presidente Bolsonaro] assine”.
Para os investigadores, “o teor dos diálogos evidencia que as medidas para execução da tentativa de Golpe de Estado para impedir que o governo legitimamente eleito assumisse e da mesma forma, restringir o exercício do Poder Judiciário, estavam em execução, inclusive, tendo a concordância do Comandante do Comando de operações Terrestres do Exército brasileiro, elemento preponderante para o êxito da ação”.
A reunião entre Bolsonaro e Theóphilo foi marcada por intermédio do ajudante de ordens, Mauro Cid, que entrou em contato com o assistente do general, o coronel Cleverson, para organizar o encontro.
Por mensagem, Mauro Cid informou o general Freire Gomes sobre a reunião que Theóphilo teve com Jair Bolsonaro.
Freire Gomes contou à PF que “não partiu dele a ordem para que o general Theóphilo fosse até o Palácio da Alvorada se encontrar com o então Presidente da República”.
O ex-comandante do Exército ainda contou ter ficado “desconfortável com o episódio, por desconhecer o teor da convocação e considerando o conteúdo apresentado nas reuniões anteriores”.
Quando foi prestar depoimento sobre o caso, o general Theóphilo ficou em silêncio e não respondeu nenhuma pergunta.