
“O modelo da austeridade não deu certo em nenhum país do mundo”, reconheceu o presidente na abertura do encontro anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas, na abertura do encontro anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), neste sexta-feira (4), ao modelo de austeridade imposto por instituições financeiras internacionais aos países da periferia do sistema econômico, inclusive o Brasil. “É preciso que a gente reeduque as instituições de Bretton Woods. Não é possível continuar, com todas as mudanças geopolíticas e climáticas, tratando o financiamento do mesmo jeito”, afirmou o presidente.
“O modelo da austeridade não deu certo em nenhum país do mundo”, declarou o presidente Lula, em meio ao enfrentamento agudo do mesmo problema em sua administração. Lula responsabilizou as exigências de austeridade fiscal pelas crises sociais que estamos assistindo em vários países do mundo.
Para ele, as condicionalidades impostas por instituições financeiras internacionais aprofundam desigualdades. “Toda vez que se fala em austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico fica mais rico”, denunciou o presidente brasileiro. O discurso foi marcado por firmeza e apelos à equidade. Lula reforçou o papel do banco dos BRICS como alternativa concreta às estruturas tradicionais.
“Não é possível que o continente africano deva US$ 900 bilhões e que o pagamento de juros seja muito maior do que qualquer dinheiro que eles têm para fazer investimento”, disse. Para o presidente Lula, é urgente que se façam mudanças substanciais nessas instituições. “Ou discutiremos uma nova forma de financiamento para ajudar os países em vias de desenvolvimento e os países mais pobres, ou esses países vão continuar pobres”, destacou Lula.
Como mais um exemplo de disfuncionalidade e injustiças do sistema financeiro internacional, Lula mencionou ainda o caso da crise do Haiti, que, segundo ele, ilustra o colapso de um Estado abandonado à própria sorte. “Não é possível que um país como o Haiti continue sendo um país semidestruído, em que você não pode nem eleger um presidente porque as gangues tomaram conta do país”, afirmou o presidente.
Em sua fala, Lula destacou que o NDB – criado pelos países do BRICS como alternativa aos organismos tradicionais – tem potencial para liderar essa transformação. “Acho que vocês podem e devem mostrar ao mundo que é possível criar um novo modelo de financiamento, sem condicionalidades”, disse. Para ele, o NDB deve consolidar um novo paradigma, centrado em justiça, desenvolvimento sustentável e respeito à soberania das nações. A crítica às práticas tradicionais se somou a um apelo por coragem e criatividade: “Está dado o recado”, concluiu.
Lula destacou que os problemas atuais são políticos e devem ser enfrentados politicamente. “O problema nosso não é nem econômico, o problema nosso é político. Há muito tempo eu não via o mundo carente de lideranças políticas como vejo hoje. Há muito tempo eu não via a nossa ONU tão insignificante como ela se apresenta hoje. A ONU, que criou o estado de Israel, não é capaz de criar o estado palestino”, denunciou.
Sobre a crise climática, Lula voltou a cobrar os países ricos que, segundo ele, foram os países que mais poluíram o planeta e precisam colaborar com a despoluição. O presidente lembrou que a promessa feita na COP15 em Copenhagen, em 2009, não foi cumprida. Os países ricos deveriam compensar os países pobres com doação de US$ 100 bilhões por ano para enfrentar a emergência climática. “Já estamos em 2025 e até agora esse dinheiro nunca apareceu”, disse o presidente da República.