
Fugitivo, até há pouco refugiado nos EUA, ex-mandatário foi recepcionado pela Polícia no aeroporto de Lima e passou a ser o novo inquilino do chamado “cárcere dos presidentes”, quase todos vinculados à construtora brasileira
Acusado de “conluio e lavagem de dinheiro” por receptação de suborno da construtora brasileira Odebrecht, o ex-presidente do Peru, Alejandro Toledo (2001-2006) foi extraditado dos Estados Unidos e preso assim que chegou em Lima, na manhã deste domingo (23).
Propagandista da bandeira “contra a corrupção”, Toledo teve sua prisão preventiva decretada quando saiu do país, em janeiro de 2017, tentando fugir das acusações. Agora é o terceiro inquilino do chamado “cárcere dos presidentes”.
A Promotoria acusa o ex-presidente de receber propinas de US$ 35 milhões de dólares (R$ 177 milhões). Apesar de ter três processos judiciais, só foi extraditado neste em que foi comprovado o pagamento da Odebrecht, pelo qual deve responder com 20 anos de prisão. Atualmente com 77 anos, Toledo suplicou à Justiça peruana para que não lhe deixe “morrer atrás das grades”.
Neste momento, o criminoso está na mesma prisão que o ex-ditador fascista Alberto Fujimori, condenado em 2009 a 25 anos por “crimes contra a humanidade”, além de inúmeras acusações de corrupção, e com o ex-presidente Pedro Castillo, que tentou fechar o Congresso e foi destituído por 101 votos a seis em dezembro de 2022. Os três não se encontram na mesma cela.
Outros ex-presidentes, além da atual mandatária, Dina Boluarte – que tomou o poder em dezembro do ano passado e promoveu uma série de assassinatos e prisões ilegais -, podem vir a ser presos.
Ollanta Humala (2011-2006) está sendo processado por receber financiamento oculto da Odebrecht para sua campanha eleitoral, julgamento em que a Promotoria também pediu uma sentença de 20 anos. Humala inclusive já esteve detido em Barbadillo, com prisão preventiva entre julho de 2017 e abril de 2018.
Na mesma folha de pagamentos ilegais da Odebrecht, Pedro Pablo Kuczynski (julho de 2016 a março de 2018) também responde a processo, tendo evitado a prisão preventiva com base nos seus 84 anos, alegando a idade avançada e um suposto “estado de saúde precário”. O mesmo argumento usado por Toledo.
Martín Vizcarra (março de 2018 a novembro de 2020) também é acusado pela promotoria de receber propina do “Cartel da Construção” formado por construtoras, peruanas e estrangeiras, que se dedicavam a ganhar licitações públicas de grandes infraestruturas, muitas delas licitadas pelo Ministério dos Transportes, cujas qualificações para prestar serviços públicos eram seguidas de um dinheiroduto aos que desfrutavam de cargos e poder no Peru.
Alan García (presidente durante dois mandatos – julho de 1985 a julho de 1990 e julho de 2006 a de julho de 2011) não chegou ao presídio de Barbadillo porque se suicidou em abril de 2019, quando seria preso também por se refestela com propina da Odebrecht.
O processo pelo qual Toledo foi extraditado iniciou em novembro de 2016 como um escândalo internacional da Odebrecht. Na oportunidade, um alto funcionário da empresa, Jorge Barata, que dirigiu a Odebrecht no Peru entre 2001 e 2016, assumiu para as autoridades – em troca de benefícios judiciais – ter pago propina de US$ 20 milhões ao então presidente para ganhar a licitação da construção de dois trechos da rodovia Interoceânica Sul, que une o Peru com o Brasil. Logo mais, Barata aumentou o valor do suborno para US$ 31 milhões.
Conforme testemunhou o próprio Barata, o valor foi pago em parcelas, sempre depositado em contas de empresas offshore do empresário peruano-israelense Josef Maiman, amigo íntimo de Toledo. Na confissão à Promotoria, Maiman admitiu ter servido como laranja e sido o receptor dos volumosos subornos. Antes de morrer, em outubro de 2021, entregou documentos com detalhes minuciosos de datas, quantias e montantes dos pagamentos recebidos para o ex-presidente, depoimento que foi considerado fatal para Toledo.