“Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão”, observou Moro ao se afastar da orgia preparada pelo governo
O ex-ministro Sérgio Moro afirmou, recentemente, em entrevista à revista Veja, que inicialmente acreditou que Bolsonaro falava sério quando afirmava que seu governo iria combater a corrupção. O próprio Moro chegou à conclusão que era tudo engodo.
“Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão”, observou. “Começou com a transferência do Coaf para o Ministério da Economia. O governo não se movimentou para impedir a mudança”, destacou o ex-juiz.
Bolsonaro, por outro lado, cada vez mais isolado e envolto em irregularidades, passou a se socorrer mergulhando de cabeça nos braços dos réus da Lava Jato.
Para dar esse mergulho na parte enlameada do Congresso, Bolsonaro precisava se desvencilhar de Sérgio Moro.
“(…) mais recentemente observei uma aproximação do governo com alguns políticos com histórico não tão positivo. E, por último, teve esse episódio da demissão do diretor da Polícia Federal sem o meu conhecimento. Foi a gota d’água”, contou o ex-ministro.
Enquanto esteve no baixo clero do Congresso as falcatruas de Bolsonaro eram do tipo “baixa potência”. A rachadinha, a lavagem de dinheiro de milícia, os funcionários fantasmas, etc. Agora, com o governo na mão, Bolsonaro mudou de patamar e começa barganhar com cargos do governo que possuem bilhões de orçamento, como são os casos por exemplo do DNOCS e do FNDE.
Os mais novos felizardos da orgia bolsonarista são Ciro Nogueira e Arthur Lira, dois réus da Lava Jato no processo conhecido como “quadrilhão do PP”.
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu no meio de 2019 o julgamento do chamado “Quadrilhão do PP” e tornou réus o senador Ciro Nogueira (PI) e os deputados Aguinaldo Ribeiro (PB), Arthur Lira (AL) e Eduardo da Fonte (PE).
Os quatro políticos do Partido Progressista foram denunciados pelo crime de organização criminosa. As investigações apontaram que eles se envolveram em um esquema de desvios que perdurou por cerca de uma década, causando prejuízo de R$ 29 bilhões à Petrobras.
Eles vão indicar nomes seus para cargos no governo Bolsonaro e se juntarão ao notório Roberto Jefferson, ex-preso do mensalão, que dispensa outras apresentações, para formar um arremedo de tropa de choque de Bolsonaro.
Bolsonaro deu início à mais escandalosa orgia de cargos. Um verdadeiro toma-lá-dá-cá. O mesmo esquema de corrupção que Bolsonaro dizia ser contra. O fato é que, com isso, a máscara da falsa moralidade do bolsonarismo caiu por terra.
Moro efetivamente demorou um pouco, mas acabou percebendo a tempo que embarcara numa canoa furada. Sua saída do governo ajudou a população a perceber que o discurso moralista de Bolsonaro e sua milícia eram pura hipocrisia. As pesquisas já começam a mostrar isso com o aumento acelerado da rejeição a Bolsonaro.
A permanência do ex-juiz da Lava Jato no governo só servia para manter uma fachada fraudulenta de compromisso de sua administração com o combate à corrupção.
Com uma extensa folha corrida de “falcatruas” de seu período da Câmara, Bolsonaro enganou incautos com a demagogia de que representava a “nova política”. Nada mais velho e apodrecido do que as práticas milicianas da família Bolsonaro.
Antes mesmo de assumir o governo, já vieram à tona alguns escândalos envolvendo o círculo mais íntimo do bolsonarismo e até do próprio partido que o elegeu. Foram os casos rachadinha/Queiroz/milícia e o laranjal do PSL. Bolsonaro fez de tudo, e continua fazendo, para abafar esses casos.
Tentando se salvar, o governo escancarou o leilão de cargos. Nomeou Fernando Marcondes de Araújo Leão, ex-chefe do Procon de Pernambuco para dirigir o DNOCS, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, que tem um orçamento de R$ 1 bilhão. O senador Ciro Nogueira e o deputado Arthur Lira, do PP, indicaram o nome dele em troca de apoio a Jair Bolsonaro.
Os primeiros entendimentos de Jair Bolsonaro e ministros com a parte podre do chamado Centrão ocorreram no início de março. Foram pelo menos 17 encontros. Presidentes e líderes do PP, Republicanos e PL, entre outros partidos, estiveram no Palácio do Planalto. Um verdadeiro balcão de negócios foi montado no palácio. Um leilão desavergonhado de cargos em troca de votos, numa tentativa meio desesperada de blindar o desgastado presidente.
Nesta quarta-feira (6), então, o Diário Oficial trouxe a nomeação de Fernando Marcondes para a direção geral do DNOCS, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. A portaria foi assinada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto.
Com um orçamento anual de mais de R$ 1 bilhão, o DNOCS faz parte do Ministério do Desenvolvimento Regional. Toca obras de irrigação, construção de açudes, reservatórios, barragens e perfuração de poços artesianos, principalmente no Nordeste.
No Congresso há o consenso de que a escolha de Fernando Araújo para o DNOCS foi de um dos partidos do Centrão, o Partido Progressista, num acordo com o Partido Avante, ao qual Fernando Araújo é filiado.
O PP quer garantir agora o comando do FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, que tem um orçamento de R$ 50 bilhões. Segundo acordo firmado por Bolsonaro, além do PP, o PL, de Valdemar Costa Neto, o Republicanos, antigo PRB, e o PSD, de Gilberto Kassab – que está de olho no Ministério da Ciência e Tecnologia -, devem ser agraciados com cargos em empresas públicas e autarquias importantes.
Pelos acertos o PL, de Valdemar Costa Neto, ficará com a presidência do Banco do Nordeste e a secretaria de vigilância em saúde no Ministério da Saúde.” Na mesa estão ainda a direção da Funasa, da Codevasf, de inúmeros cargos federais nos estados tais como diretorias do DNIT, assim como a secretaria executiva de diversos ministérios. Agora que Bolsonaro não está mais no baixo clero e ocupa o Planalto, ele vai trocar as de baixa pelas falcatruas de alta potência.
Em vídeo da convenção do PSL em 2018, Augusto Heleno cantarolou: “se gritar pega centrão, não fica um meu irmão”. E agora, Heleno?