
Enquanto isso, o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal passeava com a família quando ele estava na Disney, de férias, 6 dias depois de ter sido nomeado para a Secretaria
O ex-ministro da Justiça do então presidente Jair Bolsonaro (PL) e, também, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, na ocasião do 8 de janeiro de 2023, disse em depoimento, nesta terça-feira (10), no STF (Supremo Tribunal Federal) que houve “falha grave” durante os atos golpistas no cumprimento dos protocolos de segurança supostamente deixados por ele, que viajou de férias com a família para a Disney naquela ocasião.
Torres negou ter participado do plano de golpe e defendeu que os posicionamentos públicos dele e aqueles reservados ao governo do ex-presidente Bolsonaro refletiam empenho em fazer com que o ex-chefe do Executivo fosse reeleito.
Ele foi o segundo réu na ação penal da tentativa de golpe de Estado a prestar depoimento à Primeira Turma do STF, nesta terça-feira.
LIVE E REUNIÃO MINISTERIAL
Um dos primeiros pontos questionados por Moraes foi a reunião ministerial realizada, em 5 de julho de 2022, na presença de Bolsonaro. Na ocasião, Torres teria dito que “todos vão se foder” caso o ex-presidente perdesse as eleições.
Sobre o assunto, o ex-ministro afirmou que faltou “com a polidez”. “O que queria era pedir empenho de todos, dentro de suas pastas, [que] pudessem demonstrar todas as entregas, para que a gente se unisse para ganhar a eleição”, disse o ex-subordinado de Bolsonaro.
SEM FRAUDES NAS ELEIÇÕES
Anderson Torres também reconheceu que o Ministério da Justiça não encontrou indícios de fraudes no sistema eleitoral ao falar sobre relatório da PF (Polícia Federal) e a segurança das urnas eletrônicas durante a live em julho de 2022, no Palácio da Alvorada, ao lado do ex-presidente.
“No âmbito do Ministério da Justiça propriamente dito, sem ser através da Polícia Federal, não temos setor, nem área nenhuma que trabalhe com essa questão de urnas eletrônicas. Tecnicamente falando, não temos nada que aponte fraude nas urnas. Nunca chegou essa notícia até mim”, afirmou.
“Quando era questionado pelo presidente [Bolsonaro] e por qualquer autoridade, eu sempre passei isso: não tínhamos tecnicamente nada a dizer sobre as urnas eletrônicas. O material que tive acesso eram sugestões de melhorias às urnas eletrônicas”, declarou o ex-chefe da Justiça. “Eu nunca questionei a lisura do processo eleitoral. Todas as minhas falas foram sugestões técnicas de melhorias.”
MINUTA DO GOLPE
Outro assunto foi a chamada minuta de decreto golpista, encontrada na casa de Anderson Torres. Ele repetiu o depoimento que deu anteriormente à PF. Torres afirmou que o documento foi parar na casa dele por “fatalidade” e que não tratou do assunto com Jair Bolsonaro.
“Eu realmente nem me lembrava dessa minuta. A gente recebia uma série de coisas pelo Whatsapp, papel. Uma outra autoridade recebeu 3 minutas como essa”, disse.
“E isso foi parar na minha casa, onde foi colocado para ser descartado. Eu nunca discuti esse assunto com o presidente. Isso foi uma fatalidade que aconteceu”, acrescentou.
OPERAÇÕES DA PRF
Além de disseminar desinformação sobre o sistema eleitoral e elaborar documentos para o plano golpista, Anderson Torres é acusado de instrumentalizar a PRF (Polícia Rodoviária Federal) para beneficiar Bolsonaro durante o segundo turno das eleições de 2022.
A PF e a PRF são órgãos de segurança pública subordinados ao Ministério da Justiça.
Ele foi questionado sobre mapeamento de inteligência relativo ao resultado do primeiro turno das eleições de 2022, utilizado para fundamentar as operações da PRF no Nordeste no segundo turno.
O documento foi elaborado por Marília Ferreira Alencar, ex-diretora de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF na gestão de Anderson Torres, que também foi denunciada pela PGR, já que era subordinada a Torres, no MJ.
ILEGALIDADE COMANDADA POR TORRES
Dados do Ministério da Justiça apontam que a PRF fiscalizou, entre os dias 28 e 30 de outubro, 2.185 ônibus no Nordeste, 893 no Centro-Oeste, 632 no Sul, 571 no Sudeste e 310 no Norte.
Quanto às diárias pagas no primeiro e no segundo turnos, em 2 de outubro, foram aplicados R$ 500 mil, enquanto no dia 30 do mesmo mês foram cerca de R$ 13 milhões.
Os bloqueios em estradas e rodovias foram feitos a despeito da determinação imposta pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que proibiu a realização de qualquer mobilização que pudesse restringir a locomoção de eleitores no dia de votação do segundo turno.
ORQUESTRAÇÃO DELIBERADA PELO MINISTRO
Segundo a PF, “houve uma atuação orquestrada deliberada pelo ministro da Justiça, empregando recursos materiais e humanos do Ministério da Justiça, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal como força armada para criar óbices e intimidação aos eleitores do Nordeste, com a finalidade de alterar o resultado das eleições presidenciais de 2022 e favorecer a manutenção na Presidência da República de Jair Messias Bolsonaro”.
Durante o depoimento, Anderson Torres negou que as operações foram tentativa de interferir no processo eleitoral. “Sempre pedi o combate aos crimes eleitorais, independente [sic] de partido”, disse.
8 DE JANEIRO
Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, Anderson Torres, que estava de férias nos Estados Unidos no dia, afirmou que não houve omissão, mas sim falha no protocolo de segurança.
Importante frisar, com estranheza, que Torres tomou posse na Secretaria de Segurança Pública do DF, e em seguida tomou 2 decisões. A primeira foi exonerar toda a cúpula do órgão auxiliar do governador, e a outra foi se dar férias, 6 dias depois da nomeação.
CULPOU SUBORDINADOS
“Vejo que houve falha muito grave no cumprimento do protocolo. Esse Protocolo de Ações Integradas é considerado gravoso porque impacta muito a vida do brasiliense. É uma coisa que a gente faz em poucos casos. Houve uma falha grave no cumprimento desse protocolo. Fui surpreendido por isso no domingo”, afirmou.
“Liguei diversas vezes para o comandante da PM, perguntei porque houve a falha, liguei para o governador, para o procurador de Justiça do DF. Fiquei desesperado. Do jeito que eu deixei o DF, era impensável que acontecesse o que aconteceu. Houve uma falha grave”, prosseguiu.
Como em outros momentos, Torres se disse surpreso com a manifestação de bolsonaristas. “Eu vinha fazendo acompanhamento da questão da inteligência no DF. Até o dia 6, a gente não tinha notícias de ônibus chegando. A gente não tinha notícias de que a coisa tomaria o rumo que tomou, a partir dos dias 7 e 8”, declarou.