Torres e Ramagem são demitidos da PF após condenação por trama golpista

Anderson Torres e Alexandre Ramagem (Fotos: Agência Brasil - Câmara dos Deputados)

Ex-delegados de carreira da PF perdem os respectivos cargos após decisão do STF

As portarias assinadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública oficializaram, nesta quarta-feira (3), a demissão do ex-ministro Anderson Torres e Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin, dos quadros permanentes da PF (Polícia Federal).

O ato cumpre determinação do Supremo Tribunal Federal, que já havia decretado a perda dos cargos após a condenação de ambos pela participação no chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado contra o resultado das eleições de 2022.

A saída de ambos fecha o ciclo de 2 carreiras que, até 2018, eram consideradas promissoras dentro da PF. A guinada ocorreu quando se alinharam politicamente ao bolsonarismo, movimento que, agora, cobra seu preço institucional, jurídico e pessoal.

Para fontes do Ministério da Justiça, a demissão “restaura a integridade institucional” da PF e impede que quadros condenados por atentar contra a ordem constitucional continuem vinculados à corporação.

“A Polícia Federal não pode conviver com servidores que atuaram contra o Estado Democrático de Direito”, afirmou integrante da cúpula sob reserva.

CONDENAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS DIRETAS

Anderson Torres foi condenado a 24 anos de prisão.O ex-ministro da Justiça foi considerado peça central da articulação golpista, inclusive pela chamada “minuta do golpe” encontrada na casa dele.

Documento, que embasou a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) ao STF, que buscava justificar intervenção irregular no processo eleitoral.

Torres cumpre pena no Complexo Penitenciário da Papuda, mais especificamente, na Papudinha, em cela especial.

A decisão do STF determinou também a perda definitiva do cargo de delegado federal.

Alexandre Ramagem. Ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Informação) e ex-deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro foi condenado a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão.

Ao saber do resultado do julgamento, fugiu para os Estados Unidos e tornou-se foragido da Justiça brasileira. O Ministério da Justiça prepara comunicação à Interpol para emitir alerta internacional.

À demissão da PF soma-se à perda do mandato parlamentar, decretada após o trânsito em julgado do processo.

A derrocada de ambos expõe como a adesão ao projeto de poder de Bolsonaro conduziu quadros técnicos ao envolvimento em práticas ilícitas. Ambos, formados para proteger o Estado, acabaram condenados justamente por atentarem contra as instituições que juraram defender.

IMPACTOS

A demissão tem caráter simbólico e pedagógico. Marca não apenas o fim de 2 trajetórias pessoais, mas também o esforço das instituições de delimitar linha clara entre atuação policial profissional e instrumentalização política.

Analistas avaliam que a decisão do governo e do STF reforça a autoridade democrática sobre corpos de segurança. Setores historicamente disputados por grupos políticos.

Para membros do Congresso, a medida também desidrata o discurso bolsonarista de “perseguição”, vez que a punição deriva de processos longos, minuciosos e com amplo direito de defesa e do contraditório.

Ao mesmo tempo, especialistas veem um recado mais amplo: servidores do Estado não podem participar de aventuras golpistas sem consequências. “Quem entrega sua carreira a um projeto autoritário termina como eles: condenados, desempregados e desacreditados”, avaliou um jurista ouvido pela reportagem.

QUEM SÃO

Ambos eram delegados da PF, alçados a posições de destaque durante o governo Bolsonaro e transformados em figuras-chave da articulação política e de segurança do ex-presidente.

O QUE FIZERAM

Foram condenados pelo STF por integrar a cúpula do plano golpista que buscou reverter o resultado das eleições de 2022, envolvendo tentativas de intervenção institucional, manipulação de informações e articulação com setores das Forças Armadas.

O QUE PERDEM

Cargo na PF, estabilidade, aposentadoria, prerrogativas funcionais e, no caso de Ramagem, o mandato de deputado federal. A decisão impede ambos de voltar a exercer funções públicas de segurança.

O QUE PERMANECE

Penas de prisão, processos acessórios, eventual cooperação internacional para captura de Ramagem, e investigações derivadas que seguem em curso no STF e na PF.

O QUE SIGNIFICA

Marco no processo de responsabilização pós-golpe, reforça que a lealdade institucional deve prevalecer sobre projetos de poder. Torres e Ramagem tornam-se exemplos de como escolhas políticas completamente estapafúrdias podem destruir carreiras policiais e profissionais inteiras.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *