A Polícia Federal entende que o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, foi o mentor do plano para impedir que eleitores de Lula conseguissem votar no segundo turno das eleições e vai indiciá-lo.
A participação do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda está sendo investigada.
Os investigadores entendem que existem provas de que Anderson Torres organizou a tentativa de fraudar as eleições, segundo coluna do site Metrópoles. A armação foi derrotada e Lula foi eleito presidente da República.
Uma delas é a ordem que deu para a diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, para que produzisse um mapeamento dos locais onde Lula foi mais bem votado no primeiro turno.
O mapeamento dividia os municípios de acordo com as votações somente de Lula e de Bolsonaro. As cidades em que mais de 75% das pessoas votaram em Lula foram separadas.
Esse documento foi utilizado como base para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) definir onde realizaria as blitze no dia do segundo turno das eleições. Os pontos onde Lula tinha maior vantagem foram escolhidos, a fim de impedir que os eleitores chegassem aos locais de votação.
Anderson Torres ainda tentou combinar uma ação coordenada com a Polícia Federal.
Em outubro, entre o primeiro e o segundo turno, ele viajou até a Bahia para discutir com o superintendente regional da PF a participação da corporação no plano, mas o agente não aceitou.
No dia 8 de maio, Anderson Torres deverá prestar depoimento.
O depoimento, que já deveria ter acontecido, foi prorrogado por conta da alegação de que ele está com “estado de saúde [mental] delicado”.
Ele está preso desde o dia 14 de janeiro por ter participado, enquanto secretário de Segurança Pública do DF, da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro.
CÚPULA DA PRF QUERIA “TOMAR LADO”
Segundo a jornalista Malu Gaspar, do Globo, a cúpula da PRF se reuniu no dia 19 de outubro para discutir o plano “Operação Eleições 2022”, montado por Silvinei Vasques para impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação.
A reunião, convocada às pressas, não consta na agenda oficial do então diretor-geral da PRF e sua ata foi manipulada para não apresentar os pontos levantados por Silvinei Vasques. A reportagem diz que “o principal objetivo do encontro — planejar as blitze que impuseram obstáculos aos eleitores de Lula — não consta do documento”.
Cinco integrantes da PRF, dos três estiveram na reunião, confirmaram que as blitze organizadas por Anderson Torres e Silvinei Vasques foram a pauta da reunião.
Todos que participaram do encontro tiveram que deixar os celulares e relógios do lado de fora da sala. Ninguém pôde participar virtualmente, de forma a impedir que houvesse qualquer registro da reunião.
Os agentes da PRF ouvidos pelo Globo contaram que Silvinei Vasques falou abertamente que “havia chegado a hora da PRF tomar lado na disputa”. Ele disse ainda que se Jair Bolsonaro fosse reeleito todos eles seriam beneficiados.
Vasques queria uma atenção especial para as blitze que ocorreriam na região Nordeste.
“Houve uma votação para chancelar as operações e os contrários concordaram em não manifestar suas divergências publicamente”, completou um dos agentes que esteve na reunião.
A ata falsificada só recebeu assinaturas no dia 10 de dezembro, depois que o jornal O Globo pediu acesso através da Lei de Acesso à Informação.
PAPUDA
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu para a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF) avaliar se Anderson Torres deve ser transferido para um hospital do Complexo Penitenciário da Papuda.
Outra opção seria mantê-lo no 4º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, onde ele se encontra preso desde janeiro.
O despacho de Moraes responde ao pedido da defesa de Torres para que ele fosse transferido para prisão domiciliar. Um laudo psiquiátrico aponta que ele está supostamente deprimido.
Anderson Torres se complicou, no entanto, ao fornecer aos investigadores senhas incorretas para o acesso ao armazenamento online de seu celular. Quando voltou dos Estados Unidos, onde estava durante a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, alegou ter perdido o aparelho.