Subiu para 83 o número de mortos no grande incêndio em Hong Kong que destruiu um complexo residencial de oito torres de 31 andares e que teve início na tarde de ontem, anunciaram na quinta-feira (27) as autoridades do território, que é parte da China. No início da manhã, a contabilização de corpos estava em 55.
Mais de 250 continuam desaparecidos e 70 estão hospitalizados por queimaduras e inalação de fumaça, no pior desastre em décadas na densamente povoada cidade.
Os bombeiros continuam atuando pelo segundo dia consecutivo, com o fogo já tendo sido extinto em quatro dos oito blocos, enquanto três são considerados sob controle. A oitava torre residencial não foi afetada.
Centenas de pessoas desabrigadas foram atendidas em cinco centros estabelecidos emergencialmente. Nas ruas próximas e em áreas públicas, centenas de moradores acorreram para prestar ajuda aos moradores afetados e aos bombeiros.
ANDAIMES DE BAMBU
Segundo testemunhas, as chamas começaram nos tradicionais andaimes de bambu que cercavam os edifícios de 31 andares do complexo Wang Fuk Court, no distrito de Tai Po, na zona norte, que passava por reformas.
O Departamento de Transportes de Hong Kong informou que, devido ao incêndio, uma seção inteira da rodovia Tai Po foi fechada, e linhas de ônibus foram desviadas. A polícia chegou a isolar dois quarteirões vizinhos ao condomínio de prédios por conta do incêndio, que depois foram liberados.
O presidente chinês, Xi Jinping, expressou condolências às famílias e orientou os órgãos de governo a “fazer todo o possível para extinguir o incêndio e minimizar as vítimas e as perdas”, registrou o canal estatal CCTV.
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, determinou que as causas do incêndio sejam investigadas e anunciou ainda a inspeção imediata de todas as obras importantes da cidade. A agência anticorrupção foi acionada.
Ainda nesta quinta-feira, a polícia de Hong Kong realizou buscas no escritório da Prestige Construction & Engineering Company, que, segundo a Associated Press (AP News), era responsável pelas reformas no complexo de torres. De acordo com a mídia local, a polícia apreendeu caixas de documentos como provas.
TRÊS PRESOS
Três responsáveis pela obra foram presos, acusados de homicídio culposo, quando não há a intenção de matar.
“Temos motivos para acreditar que os responsáveis da empresa foram extremamente negligentes, o que levou a este acidente e fez com que o incêndio se alastrasse descontroladamente, resultando em um grande número de vítimas”, disse o superintendente de polícia Eileen Chung.
As autoridades acreditam que o fogo se espalhou rapidamente por telas de construção verdes e andaimes de bambu que estavam sendo usados em obras de reforma, o que é tradicional em Hong Kong, apesar de facilmente inflamáveis.
Por essa avaliação preliminar, também as telas de proteção nos andaimes não atendiam aos padrões de segurança contra incêndio e contribuíram para a propagação das chamas, assim como o vento.
Segundo uma associação de vítimas de acidentes industriais, este ano já haviam sido pelo menos três incêndios associados ao uso dos andaimes de bambu. Entre 2019 e 2024, houve 22 mortes envolvendo trabalhadores nesse tipo de estrutura. Há três décadas, um incêndio desse tipo com 41 mortos levou a mudanças nas normas de construção e de segurança em prédios altos.
O jornal China Daily denunciou que “alguns dos materiais nas paredes externas dos prédios altos não atendiam aos padrões atuais de resistência ao fogo, permitindo que o incêndio se propagasse de forma excepcionalmente rápida” e pediu uma revisão urgente dos códigos de construção para “garantir que todos os principais materiais usados na construção sejam incombustíveis e resistentes a altas temperaturas.”
“TEMPERATURA MUITO ELEVADA”
Mais de 700 bombeiros, sete caminhões mangueira e uma centena de caminhões de bombeiros foram usados na operação de combate ao incêndio em Tai Po, bem como 57 ambulâncias. Um bombeiro morreu no combate às chamas. Ele foi encontrado com queimaduras no rosto meia hora depois de perder contato com seus colegas. Outros oito ficaram feridos.
Derek Armstrong Chan, vice-diretor de operações dos bombeiros, disse que a temperatura no local era “muito elevada”. “Em alguns andares, não conseguimos chegar às pessoas que pediam ajuda, mas continuamos tentando”, disse Chan.
Vários moradores do complexo Wang Fuk Court disseram à AFP que não ouviram nenhum alarme de incêndio e que seguiram de porta em porta para alertar os vizinhos sobre o perigo.
“Tocar a campainha, bater nas portas, alertar os vizinhos, dizer que deveriam sair… foi assim que aconteceu”, disse um homem que se identificou como Suen. “O fogo se propagou muito rapidamente”, acrescentou.











