A força da greve dos trabalhadores nos Correios, em São Paulo e no Rio, maiores sindicatos da categoria, parece, num cenário nebuloso, ser uma luz no fim do túnel, num quadro de intransigência absoluta nas negociações – a direção da empresa estatal resiste até em repor a inflação dos últimos 5 meses – alegando a crise, o que dá a entender que a responsabilidade é exclusiva dos trabalhadores.
Na verdade, a mobilização dos trabalhadores, em defesa de seus direitos e salários, é a melhor defesa da empresa.
Com a força da mobilização, cresce a esperança que a turma do governo comece se coçar, para evitar o desgaste num período eleitoral e assuma a sua responsabilidade de Estado num serviço que exige o monopólio público em várias atividades, vital para a integração nacional.
A crise nos Correios, que estourou em 2024, vem sendo fabricada há quase 10 anos. A empresa sempre deu vultosos lucros para o país, (mal) utilizados na engorda do superávit primário. Por exemplo, em 2021, o lucro foi de 1,53 bilhão de reais; em 2023, o lucro foi de 3,7 bilhões de reais; em 2016, 1,5 bilhão; em 2018, 1,2 bilhão.
Dinheiro bastante para compensar o prejuízo, em 2024, de 2,6 bilhões.
Os Correios entregam encomendas para todos os 5.570 municípios brasileiros. Somente em 300 municípios a sua atividade é lucrativa. Exercem papel destacado na integração nacional, num país de dimensões continentais, com a maior reserva florestal do planeta, em uma situação de subdesenvolvimento e miséria acentuada. Garantem, entre outros, que cheguem ao seu destino as provas do Enem, os remédios e as vacinas.
Essa possibilidade é garantida pelo sistema de subsídios cruzados, ou seja, o lucro dos grandes centros subsidiam os prejuízos nos recantos isolados.
Possibilidade prejudicada pela ação dos cartéis nos serviços postais. Com a concorrência desleal do serviço de entregas privado, esse equilíbrio foi por água abaixo: fazem dumping, só concorrem nos grandes centros, não devolvem as encomendas com destino não encontrado e, se aproveitando da falta de empregos, desrespeitam a legislação trabalhista, a CLT.
O problema é no mundo todo: nos EUA, o prejuízo é de 9 bilhões de dólares. Na Inglaterra, o serviço postal, de 500 anos, foi multado em 5,6 milhões de libras pelo atraso na entrega das encomendas.
Os governos Temer e Bolsonaro deixaram um pesado passivo trabalhista na justiça, por desrespeitarem os acordos coletivos, na ordem de 2 bilhões de reais.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, Elias Diviza, “ainda no governo Dilma, a empresa, sem condições, repassou 3 bilhões de reais para o governo federal”. Ele denunciou também que “Haddad cortou a chamada taxa das blusinhas, que dava um bom faturamento para empresa – imposto de 20% sobre mercadorias importadas até 50 dólares. O resultado foi um prejuízo bilionário”.
Os governos de Temer e Bolsonaro deixaram de herança 2 bilhões de precatórios trabalhistas.
CARLOS PEREIRA











