“O estado é deplorável”, alertam os trabalhadores ativos e aposentados organizados na Frente Unida de Trabalhadores do Metrô de Caracas ao denunciarem a deterioração do mais importante meio de transporte da capital venezuelana, além da difícil condição que seus funcionários enfrentam.
Reproduzimos a seguir os principais trechos do comunicado da Frente:
“O Metrô, a grande solução para Caracas’”. Esse era o slogan organizacional de uma das empresas que mais prêmios ganhou por qualidade de serviço na Venezuela, líder em termos de empresas do Estado.
Hoje em dia a falta de peças de reposição e o desmantelamento por roubos internos e externos, além da deterioração natural pelo envelhecimento do sistema, sem a devida manutenção, transforma o Metrô em uma ameaça para a Cidade. Hoje seu slogan seria: “o grande perigo para Caracas”.
Exemplo: Na linha 2, o estado da ferrovia é deplorável. A manutenção mais detalhada dos trilhos nunca se executou em seu justo valor, pelo que as vias se trincam com facilidade causando descarrilamentos contínuos que a mídia não divulga. Antes, nenhum operador de trens se comprometeria a dirigir sob essas condições, porque arriscaria sua própria vida. Colapsaram todos os sistemas de prevenção de incêndio. Todo o sistema de direção automática está inabilitado.
Durante a administração de Diosdado Cabello* como Ministro de Transporte, todos os recursos para a repotenciação da linha 1 foram aprovados, mas desapareceram. Em seu momento este fenômeno foi denunciado, mas ao invés de corrigi-lo, mandaram embora todos os trabalhadores que ventilaram este desvio.
Somente o planejamento inicial excepcional, a construção e seleção tecnológica têm permitido suportar 20 anos de desmandos na manutenção e operação, permitindo que continue funcionando, apesar das condições de abandono e de imperícia do pessoal incapacitado que tem deslocado por sua ascendência política aos especialistas treinados nos melhores centros de profissionalização ferroviária na França, Inglaterra, Japão e América.
Nos momentos atuais, sem treinamento e sob condições degradadas, se operam estações e equipamentos. O novo parque de trens espanhóis denominados “trens vermelhos” não é compatível com os sistemas antigos de sinalização, por isso têm ocorrido acidentes lamentáveis, a exemplo de casos em que tem se arrastado pessoas por ficar presas entre portas.
Nos trens de alumínio isso nunca teria acontecido, porque na operação antiga não se permitia movimento dos trens sem o fechamento das portas. Estes “novos” trens são de gerações obsoletas, tecnologias já em desuso em sistemas ferroviários, uma involução tecnológica no Metrô de Caracas que começou com um sistema feito com padrões excepcionais de exigências, como se falava, para a época, (trens de alumínio, quando na maioria dos países eram de aço; estações enfeitadas com cerâmicas e perfis de alumínio e madeira da melhor qualidade; circuitos fechados de TV e sistemas de ventilação).
O Metrô morre lentamente à velocidade que o faz a Venezuela. As estações abandonadas e sem operadores refletem a crise de uma sociedade que retrocedeu após grandes conquistas. Mas algo não tem desaparecido, nem desaparecerá: o coração e a mística de sua gente. Maduro conduziu ônibus, porém foi maior o tempo em que esteve de repouso do que o que esteve trabalhando, por isso não lhe dói o desmonte do Metrô como dói a qualquer trabalhador.
Frente Unida de Trabalhadores do Metrô de Caracas.
*Atual líder da Assembleia Constituinte, engendro continuísta de Maduro e apoiadores, criado após derrota nas eleições para a Assembleia Nacional