Nesta quarta-feira (4) foi realizado, no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, o lançamento do livro “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e empresários pela reindustrialização do país”, organizado por Carlos Pereira, redator especial do HP.
O encontro, recebido pelo presidente do Sindicato, Murilo Pinheiro, e mediado pela diretora da Fundação Maurício Grabois, Rosanita Campos, reuniu representantes dos trabalhadores, empresários e economistas, para um debate sobre os caminhos para reverter a atual situação de estagnação na indústria nacional.
“Esse livro teve o objetivo de promover na sociedade, entre lideranças sindicais, empresariais e da sociedade civil, a discussão sobre o desenvolvimento nacional. Mas como consequência, tive o prazer de ver reascender as raízes do pensamento destoante da mesmice burra e acapachada da unanimidade do pensamento econômico atual”, afirmou Carlos Pereira, ao abrir o encontro.
“A economia do ‘consenso’ não admite discussão. É porque é, e pronto. Não é uma ciência, é uma religião. Por isso, precisa fazer tanto barulho. É para abafar as contradições com a realidade. É o Estado mínimo, câmbio livre, metas inflacionárias fora da realidade, privatização selvagem e juros nas nuvens. Não importa se não deu certo em lugar nenhum. Se nos países dependentes só provocou desemprego, desindustrialização, nos desenvolvidos só beneficiou a especulação financeira e os monopólios”. “O Brasil iniciou sua caminhada ao destino de grande potência. Durante 50 anos foi o país que mais cresceu no mundo. De 1930 a 1980, 7% em média”. “Ou retomamos nossa caminhada, ou o Brasil deixará de ser uma nação soberana e desenvolvida”.
CNI: JUROS ELEVADOS PREJUDICAM A ECONOMIA
Em mensagem ao encontro, Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirmou que “nós estamos caminhando para um processo de transição e transformação da economia brasileira buscando exatamente o crescimento econômico, a prosperidade, a elevação da renda, a distribuição da renda. E isso tudo a indústria propicia. Qual é o grande risco desse processo? São a combinação de juros elevados e instabilidade cambial. Isso que tem marcado, nas últimas décadas, a instabilidade econômica que prejudica o setor produtivo, que deprime e empobrece a população brasileira. Nós temos que ficar atentos ao debate porque muitas vezes a repercussão que se tem na mídia está muito assentada aos interesses desse rentismo improdutivo”.
“O Brasil precisa abandonar o fracasso, como as economias centrais fizeram. Elas abandonaram o ideal liberal, o consenso de Washington, e estão buscando o mundo real, a economia real. O Brasil tem que fazer isso”, defendeu o diretor da CNI.
CTB: UNIDADE PELO PROGRESSO DO PAÍS
Para Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), há muitos pontos em comum entra a pauta trabalhadora e o empresariado nacional. “Porque interessa à classe trabalhadora uma política de conteúdo local, de fortalecimento da engenharia nacional. Um mercado produtivo capaz de fabricar os seus navios, as suas aeronaves, as suas plataformas, os seus estaleiros, produzir emprego de qualidade”. “Nós temos condições, já demonstramos isso”, afirmou.
“Acho que a gente precisa sim construir essa possibilidade de somar junto. Defender uma taxa de juros que se aproxime da realidade que hoje é praticada internacionalmente. Não é possível que o Brasil siga um ponto fora da curva, praticando taxa de juros maior do que os países em guerra. Então, temos que pressionar, temos que levantar o nosso povo. Agora somos só nós? Eu acho que não. Eu acho que a gente tem que conversar sim com o empresário nacional, com o empresário comprometido com o progresso social, com o desenvolvimento do país”, afirma Adilson.
BERNARDINI: ELIMINAR O PRIVILÉGIO DO CAPITAL FINANCEIRO
Mário Bernardini, membro do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), destacou que “nós trocamos uma visão de longo prazo, de Brasil potência, de país do futuro – ninguém mais fala em país do futuro – por varejo, por questões de ‘as contas não fecham’, ‘a inflação subiu de 4 para 4,5’. Faz quarenta anos que nós fazemos isso. E deixamos de ter um projeto para esse país”.
O empresário destacou que “o problema do Brasil é que nós temos que voltar a crescer”.
“Falta um projeto para esse país. E um projeto que a sociedade brasileira compre. Não adianta falar em ‘neoindustrialização’. O projeto tem que dizer que nós vamos dobrar a renda per capita em dez anos. E nós vamos reduzir a mortalidade infantil, que nós vamos melhorar os indicadores de educação”, detacou.
“Nós temos que oferecer nesse projeto aquilo que a sociedade espera e não o que nós queremos. E o que ela espera só pode ser conseguido com crescimento e como quase todo mundo sabe, crescimento depende de investimento. Não se cresce sem investir”, completou.
CARLOS LOPES: TIRAR O PAÍS DA ESTAGNAÇÃO
Carlos Lopes, diretor de redação da Hora do Povo, afirmou que “um país que não tem aumento na produtividade industrial está condenado a se estagnar”.
“Não vai ser o agronegócio que vai tirar o Brasil desse buraco que está e não vão ser a taxas de investimento de 16, 17 ou 18% que vai resolver o nosso problema. Até na época da ditadura, nós chegamos a ter uma taxa de 25% de investimento. Então, é evidente que ou a gente vai por esse caminho, ou o nosso caminho vai ser o do rentismo, o da agiotagem, de tudo isso que nós estamos vendo no momento atual”.
O debate contou ainda com a presença de Antonio Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, e do economista Nilson Araújo, que lembrou os dois maiores legados deixados por Getúlio Vargas: “Primeiro, a industrialização, segundo a legislação trabalhista. E o que permitiu o crescimento do país foi isso que temos que retomar, essa aliança fundamental entre trabalhadores, e setor industrial nacional e o estado”.
“Produção versus Rentismo” é uma publicação da Editora Página 8. O livro pode ser adquirido no site da editora:
https://www.editorapagina8.com.br/
JÚLIA CRUZ
ANDRÉ SANTANA