
Os trabalhadores por conta própria dedicam mais horas ao trabalho, mas recebem menos, é o que revela dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número de trabalhadores por conta própria chegou a 26 milhões de pessoas no país, no trimestre encerrado em dezembro de 2024, o que corresponde a uma alta de 2,5% (mais 633 mil pessoas) ante o trimestre imediatamente anterior. Esse contingente de brasileiros representa 25,1% da população ocupada no país, estimada em 103,8 milhões de pessoas.
Como resultado das crises econômicas que assolam o país há décadas, esses brasileiros na sua maioria foram empurrados para a informalidade do trabalho, não por escolha, mas pela falta de opções no mercado formal, que segue sendo sangrado pelo alto nível da Selic (taxa de juros base) do Banco Central (BC) – hoje 13,25%. Com o crédito mais caro, as empresas reduzem investimentos e cortam custos, o que resulta em menos contratações e demissões.
Além disso, as mudanças nas leis trabalhistas nos últimos anos fragilizaram ainda mais o acesso a empregos de qualidade e salários dignos. E, assim, muitos brasileiros acabam sendo atraídos pelo canto da sereia do “empreendedorismo” – onde a dedicação de horas não necessariamente se traduz em melhores condições financeiras.
Na prática, iludidos pela falsa sensação de autonomia ou de enriquecimento, esses profissionais acabam muitas vezes encontrando-se em situações de trabalho precário, de baixa produtividade, que não só acabam por agravar as condições financeiras, mas prejudicam ou agravam a saúde física e mental destes trabalhadores.
No Brasil, ao todo, são quase 40 milhões de brasileiros exercendo algum tipo de atividade de trabalho informal – sem direitos trabalhistas, vivendo dos chamados bicos: pessoas que são condicionadas a jornadas de trabalho exaustivas e remunerações mensais que não chegam a um salário-mínimo (R$1.518).
Conforme uma sondagem feita pela Agência Brasil, com base em dados da Pnad, os trabalhadores por conta própria são os que mais dedicam horas semanais às suas atividades profissionais. Enquanto a média nacional de horas trabalhadas por semana é de 39,1, os profissionais autônomos trabalham, em média, 45,3 horas.
Dentro do trabalho informal, o conta-própria é definido pelo IBGE como aquele que explora seu próprio empreendimento, sozinho ou com sócio, sem empregados, podendo ou não contar com a ajuda de familiares não remunerados.
Segundo o levantamento, os trabalhadores subordinados a empregadores, mediante salário, são a segunda categoria que mais passa horas nas atividades de trabalho, 39,6 por semana. Em seguida, vem os empregadores, com 37,5 horas, e, por último, com 28 horas semanais, está o familiar auxiliar (pessoa que ajuda a atividade econômica de um parente, mas sem qualquer remuneração).
Os contas-próprias em São Paulo são os que mais passam tempo nas atividades, em média 46,9 horas semanais, ficando bem acima das médias de horas semanais dos empregados e empregadores, com 40,7 e 38,7, respectivamente.
Apesar de trabalharem mais, os profissionais por conta própria recebem menos. O rendimento médio mensal desse grupo foi de R$ 2.682, sendo R$ 533 a menos que o rendimento médio mensal dos brasileiros (R$ 3.215).