São 7,7 milhões de jovens de até 24 anos – ou 77,4% dos jovens empregados no país – no segundo trimestre deste ano. Para 90% deles, a renda mensal varia de R$ 398 a R$ 539, menos da metade do salário mínimo
Mais de dois terços dos trabalhadores jovens têm emprego precário no Brasil, aponta levantamento da consultoria IDados, realizado com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Isso significa que, a cada dez trabalhadores com até 24 anos, quase oito jovens têm empregos que, por um conjunto de fatores, são considerados vulneráveis. Em números, isso representa 7,7 milhões de pessoas – ou 77,4% dos jovens empregados no país no segundo trimestre deste ano.
A IDados considerou aspectos como salário, estabilidade, rede de proteção (INSS, vale transporte e refeição) e condições de trabalho para avaliar o nível de ocupação no país. O emprego precário é um problema de todas as faixas etárias. Entre 25 e 64 anos, o percentual de trabalhadores nesses condições é de 39,6%, por exemplo. Mas, segundo a consultoria responsável pelo levantamento, é mais perverso para os que tem menos de 24 anos: para 90% deles, a renda mensal varia de R$ 398 a R$ 539 – ou seja, menos da metade do salário mínimo, na média. Sobre a estabilidade, 75% têm menos de 36 meses de tempo de trabalho.
“No mundo todo, o jovem tem uma renda menor e maior dificuldade de se colocar no mercado. Mas, no Brasil, os porcentuais indicam uma qualidade do emprego pior por causa da maior rotatividade e da informalidade (no mundo, os porcentuais estão em torno de 60%)”, disse à reportagem do Estadão o economista Bruno Ottoni, responsável pela pesquisa.
Considerando a população total ocupada, o Brasil tem níveis de qualidade do trabalho parecidos ao de países como Honduras (41,6%) e Nicarágua (43,3%) e bem pior do que Costa Rica (18,8%) e Panamá (29%).
No ano de 2019, a precariedade do trabalho dos jovens chegou ao seu pico: 79,1% dos empregados. Ottoni estima que a situação piorou durante a pandemia – apesar do percentual ter recuado para 77,4% este ano.
“Como a qualidade do emprego é calculada com base em quem está empregado, o indicador pode melhorar. Mas vai piorar assim que o trabalhador demitido voltar ao mercado de trabalho, provavelmente em ocupações piores”, afirma.
Segundo o economista, por terem menos experiência e trabalharem muitas vezes sem vínculo empregatício, são os primeiros a serem demitidos em um momento de crise. “Eles também são os que têm mais dificuldade para voltar ao mercado de trabalho”.
Uma outra pesquisa realizada pela FGV Social aponta que as faixas etárias entre 15 e 19 anos e entre 20 e 24 anos foram as que tiveram maior queda na renda entre o primeiro e o segundo trimestre do ano. No primeiro grupo, o recuo foi de 34% e no segundo, de 26%.
“Os jovens já vinham perdendo muito nos últimos anos e perderam mais uma vez (na pandemia). Além da renda, as horas trabalhadas caíram muito e a jornada de estudo também”, afirma Marcelo Neri, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).