
Na época, Carlos Bolsonaro, filho metido a espião do presidente, que já montava a “Abin paralela”, culpou Augusto Heleno pelo episódio que acabou levando o sargento para a cadeia na Espanha
Desde que Bolsonaro chegou ao governo, algumas coisas muito estranhas começaram a acontecer no país. Entre elas está a prisão, na Espanha, de um sargento da Força Aérea Brasileira (FAB), Manoel Silva Rodrigues, carregando tranquilamente 37 kg de cocaína no avião presidencial.
Mais grave ainda é que, apesar de estar detido e sem trabalhar desde junho de 2019, o sargento traficante segue recebendo religiosamente os seus salários. Ele já embolsou R$ 97,5 mil até hoje.
Na época da prisão do sargento e da apreensão dos 37 kg de cocaína em sua bagagem de mão, Carlos Bolsonaro, que na época já montava a “Abin paralela”, porque, segundo ele, a oficial não funcionava, culpou o ministro Augusto Heleno pelo episódio. Manoel Rodrigues pediu para ser ouvido em audiência ainda no ano passado, mas só agora ele vai depor.
A prisão do sargento ocorreu em junho de 2019, durante viagem do presidente Jair Bolsonaro à cúpula do G20. A cocaína estava na bagagem do sargento que voou em uma aeronave de apoio da comitiva presidencial.
De acordo com dados levantados no Portal da Transparência pelo Uol, apesar de estar detido e sem trabalhar desde junho de 2019, o militar recebe brutos R$ 8,1 mil mensais, incluindo verbas indenizatórias.
No mês de novembro, o valor bruto chegou a R$ 14,5 mil, devido à gratificação natalina. Nesse período, seus salários somaram cerca de R$ 97,5 mil.
Além do processo que responde na Espanha, Rodrigues, que foi preso em flagrante, também foi acusado na Justiça Militar. Há uma audiência militar marcada para o dia 20 de agosto. O juiz ouvirá testemunhas de acusação indicadas pelo Ministério Público.
Será também necessário ouvir a defesa e testemunhas do sargento antes de o juiz decidir sobre o caso. O magistrado que atua no caso solicitou à Justiça espanhola, via Ministério da Justiça, autorização para que Rodrigues participe da audiência por vídeo conferência.
Outro desses estranhos episódios, ocorridos desde a chegada de Bolsonaro ao governo, foi a concessão monocrática do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, a quem o presidente disse que teve “amor a primeira vista”, de um habeas corpus transformando a decretação da prisão preventiva de uma fugitiva da Justiça em prisão domiciliar.
O episódio, inédito na Justiça brasileira, quiçá na Justiça mundial, envolveu Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz, amigo íntimo de Bolsonaro e ex-assessor de seu filho Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A prisão do casal foi decretada pela Justiça do Rio pelo fato deles estarem ameaçando testemunhas e alterando provas no caso da lavagem de dinheiro montado dentro do gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro.
Poderia citar aqui mais um outro episódio, também altamente inexplicável, que foi o caso do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, um quase “porta-voz do governo”, que circulava solenemente em todo os palácios de Brasília, ter escondido Fabrício Queiroz em sua casa no interior de São Paulo por mais de um ano. Preso Fabrício, Wassef foi afastado do centro do poder e caiu no ostracismo. Diante de tudo isso, não é de se estranhar em nada que Augusto Heleno mantenha o sargento traficante na folha do governo.