“O problema é que não tem nenhum programa de crédito ativo e as incertezas daqui para frente causarão temor e devem diminuir a oferta de crédito nos bancos”, segundo o Sebrae
“A conta começa a bater na porta das empresas e muitas não estão preparadas para assumir a dívida”, declarou o analista do Sebrae Rio, Guilherme Reche, diante da enorme quantidade de pequenas empresas que estão endividadas com empréstimos, taxas, aluguel, fornecedores e serviços. Em novembro, segundo pesquisa do Sebrae, eram 68% dos pequenos negócios no país com dívidas e contas atrasadas.
“O problema é que não tem nenhum programa de crédito ativo, e as incertezas daqui para frente causarão temor e devem diminuir a oferta de crédito nos bancos. Com isso, o empresário perde capacidade de pagamento”, declarou Guilherme Reche, em reportagem do jornal O Globo.
O comércio varejista e o setor de serviços, após o tombo da economia no segundo trimestre, auge da pandemia, não conseguiram repor as perdas do período e devem encerrar o ano em queda, segundo o IBGE. Agora, com o recrudescimento da Covid-19 e novas medidas de isolamento sendo necessárias com restrições às atividades econômicas, a situação é dramática para as empresas e trabalhadores que ficaram sem o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm) e para os trabalhadores informais e desempregados que ficaram sem o Auxílio Emergencial – medidas aprovadas pelo Congresso Nacional.
Ouvido pela nossa redação, um pequeno empresário do setor de serviços disse que “com o faturamento ainda deprimido, em torno de 40%, sem a redução dos gastos da folha salarial, que o BEm propiciou, e com o início da amortização de empréstimos em fevereiro, o pagamento das contas terá que ter o prazo dilatado”.
No próximo dia 5 de fevereiro, as micro e pequenas empresas terão que pagar suas folhas de pagamento integralmente, sem poder contar com o BEm que permitiu a redução da jornada de trabalho e salário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho, durante a pandemia.
Nos dois casos o governo federal garantia uma compensação em dinheiro para cobrir total ou parcialmente as perdas dos trabalhadores e ficou estabelecido a garantia do emprego pelo mesmo período em que o funcionário ficou com a jornada reduzida ou com o contrato de trabalho suspenso. O BEm teve início em abril e se encerrou em dezembro.
Para as empresas que conseguiram crédito junto ao Pronampe – MEIs, micro e pequenas empresas, é outra fonte de tensão sobre o caixa que está se conformando. Durante a pandemia, o Congresso Nacional aprovou uma linha de crédito para capital de giro e manutenção dos empregos, com carência de até oito meses, e o prazo está se encerrando neste primeiro trimestre. Além das contas mensais, os tomadores desses financiamentos terão que dar início ao pagamento dos empréstimos numa situação de crise sanitária, queda no faturamento e inflação, com um destaque para a conta de luz e o preço dos aluguéis que dispararam.
Apesar do apelo, tanto de empresários, trabalhadores e parlamentares, à continuidade das linhas de ajuda emergencial para enfrentamento da pandemia, os programas não foram renovadas pelo governo federal. No entanto, as atividades de um grande número de empresas longe de normalizarem continuam com significativas perdas nas suas receitas.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em levantamento realizado entre 24 de dezembro e 4 de janeiro, constatou que 57% dos estabelecimentos não conseguiram pagar em dia alguma ou algumas das despesas com impostos, aluguel, salários e fornecedores. Entre eles, 63% estão em atraso com o Simples Nacional. Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, alerta que o setor caminha para a “insolvência”.
O endividamento também é fator de preocupação para o setor. Apesar de 84% dos empresários de bares e restaurantes afirmarem que estão em dia com o pagamento de empréstimos, 64% fizeram novas dívidas para manter o negócio.
O volume de R$ 1,2 trilhão entregue aos bancos pelo Banco Central para empréstimos às pessoas e empresas logo no início da pandemia, ninguém sabe, ninguém viu, “não chegou na ponta”, denunciaram os empresários. Os bancos mantiveram taxas de juros extorsivas e exigências de garantia que restringiram ao máximo o acesso ao crédito.