Desabamento do teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Centro Histórico de Salvador (BA) causou a morte de Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos
Na última quarta-feira (5), a turista Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos, morreu e outras cinco pessoas ficaram feridas após o desabamento de parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, conhecida como “igreja de ouro”, no Centro Histórico de Salvador. A informação foi confirmada pelo Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM-BA).
A turista foi identificada como Giulia Panchoni Righetto, natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, segundo a delegada titular da Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), Camila Albuquerque. A jovem passeava no local com o namorado e um casal de amigos. Os homens não se feriram, pois estavam em um espaço mais afastado. A amiga da turista sofreu um corte na testa e foi levada para um hospital particular da cidade.
O desabamento será investigado pela Polícia Federal e pela Polícia Civil da Bahia, por meio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Nesta quinta-feira (06), uma perícia foi realizada no local para idenficar as possíveis causas do desabamento.
Na última segunda-feira (3), o frei Pedro Júnior Freitas da Silva, guardião-diretor da igreja, havia alertado o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre uma “dilatação” no forro do teto e pediu uma vistoria. A visita dos técnicos estava agendada para esta quinta-feira (6).
Segundo o presidente do Iphan, Leandro Grass, a solicitação foi feita pelo protocolo normal, que não é o caminho para casos de urgência. “Se foi detectado um problema urgente, a solução é ligar para a Defesa Civil. Se ele comunicou a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros, eu não sei dizer. Se, de fato, ele verificou alguma emergência. Se tivesse algum risco de estrutura, ele deveria comunicar esses órgãos”, afirmou Grass.
O superintendente do Iphan em Salvador, Hermano Guanaes, reforçou a falta de vistoria recente durante entrevista à TV Bahia. “A vistoria não acontece todos os dias. É preciso que haja um problema detectado. Quando há um problema é que nós somos chamados para participar também, porque não é uma questão que envolve só a competência de patrimônio, mas também outros órgãos, que também cuidam. Então, como qualquer tipo de acidente, você não prevê que ele vá acontecer assim, dessa forma”, disse.
O diretor da Defesa Civil de Salvador, Sósthenes Macedo, afirmou que o poder público sabia que havia partes comprometidas na estrutura, mas sem riscos de desabamento, por isso o espaço não estava interditado. “Já tivemos, inclusive, um episódio aqui com o pináculo, que ficou por um tempo gerando risco. Foi feita uma operação em conjunto, foi retirado o pináculo, dando a liberdade do uso. Agora, é claro que todas essas edificações, principalmente as mais antigas, têm que estar em dias com a lei de manutenção predial para que episódios como esse não se repitam”, destacou.
RESPONSABILIDADES
Em nota, o Iphan afirmou que a responsabilidade pela estrutura é da Ordem Primeira de São Francisco, grupo religioso que administra o templo. No entanto, por se tratar de um patrimônio histórico, o órgão faz restaurações e dá auxílio técnico. “O imóvel é de propriedade da Ordem Primeira de São Francisco, responsável direta pela gestão e manutenção da edificação. O Iphan, enquanto órgão de proteção do patrimônio cultural brasileiro, tem atuado na preservação do bem, com ações como o restauro dos painéis de azulejaria portuguesa, concluído em maio de 2023, e a elaboração do projeto de restauração do edifício, atualmente em andamento”, diz trecho da nota.
O responsável pela igreja não se posicionou tecnicamente a respeito. No perfil oficial no Instagram, o templo lamentou o ocorrido “com profundo pesar”, em nome da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil e da Comunidade Franciscana da Bahia. “Neste momento de imensa dor, unimo-nos em oração pela vítima fatal, por seus familiares e por todos os atingidos por essa tragédia. Os feridos estão recebendo os cuidados necessários, e as autoridades competentes já foram acionadas para investigar as causas do ocorrido e adotar as providências cabíveis para garantir a segurança do local”.
A Arquidiocese de Salvador também emitiu uma nota, manifestando “a mais profunda solidariedade” com a Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, Ordem dos Frades Menores (OFM), e com as vítimas e suas famílias. “O patrimônio histórico ora afetado é de valor inestimável para a humanidade – Patrimônio Mundial pela UNESCO, para o Brasil e para a Igreja. Testemunho da fé de um povo e, dos Frades Franciscanos Menores, em particular, que por mais de três séculos se empenham na preservação desta obra nascida da fé”, diz o texto.
IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIM
O templo é considerado uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo. Sua construção começou em 1686 e foi concluída em 1723, com doações de moradores, embora tenha sido aberta ao público em 1713.
O interior da igreja é revestido de intrincados entalhes cobertos de ouro, com florões, arcos, figuras de anjos e pássaros, símbolos do barroco brasileiro. O espaço abriga imagens de mestres santeiros baianos e lusitanos, duas pias de pedra doadas por Dom João V, balaustradas e peças esculpidas em jacarandá, além de pinturas do artista português Bartolomeu Antunes, datadas de 1737.
A sacristia também possui um grande arcaz em madeira entalhada, feito pelo frei Luís de Jesus, conhecido como “Irmão Torneiro”, com pinturas que retratam cenas da vida de São Francisco.