“Alexandre Giordano, o homem que dizia representar interesses da família Bolsonaro em negócios com o gestor do vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, e a Administração Nacional de Eletricidade (ANDE), esteve no Palácio do Planalto um dia após Jair Bolsonaro ter se reunido com o presidente Mario Abdo Benítez em Foz do Iguaçu”. A confirmação foi feita nesta terça-feira, pela repórter investigativa Mabel Rehnfeld, que sustenta – com farta quantidade de fontes e citações – a manchete do principal jornal do país vizinho:
“Está confirmada a proximidade de Bolsonaro com a ‘Léros’”.
Como relatou o ex-presidente da ANDE, Pedro Ferreira, que pediu demissão denunciando a negociata, a contratação da empresa Léros viria acompanhada de uma extorsão a seu país em US$ 200 milhões, o que provocaria o aumento da energia elétrica em 18% para o consumidor paraguaio até 2023.
A riqueza de dados e pormenores daquele dia não deixam lugar a dúvidas, com as respostas oficiais vindo depois de um pedido de acesso à informação feito desde o parlamento brasileiro. “Esse 27 de fevereiro foi uma quarta-feira e, às 8:59 da manhã, Alexandre Giordano ingressou no Planalto, segundo confirmado pelo Gabinete de Segurança Institucional do governo”.
Conforme recorda a repórter, Alexandre Giordano é o homem que vinha a Assunção para se reunir com Joselo Rodríguez (assessor jurídico da vice-Presidência da República do Paraguai), empresários do grupo Léros e diretores da ANDE, para comprar energia. “Dizia ser senador; hoje em dia se sabe que é suplente de senador” e, adianta, “homem do partido de Bolsonaro e chegado ao círculo do presidente brasileiro”.
Questionado pela imprensa, Giordano tentou desconversar, limpar a barra do presidente amigo e se justificar, dizendo que Bolsonaro não estava sequer no Palácio e que, ele próprio, somente foi para se reuniu com o então chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Floriano Amorim, na sua condição de “empresário”. Foi desmentido por Amorim que disse que nunca o recebeu e que nem sequer o conhece. E mais, que no melhor dos casos, o confundiu com outra pessoa do mesmo nome, Floriano Peixoto, ex-ministro da Secretaria Geral. Procurado o “outro” Floriano citado por Giordano também não estava em Brasília neste dia, mas no Rio e, neste mesmo horário. Uma evidente história da carochinha.
O PEIXE MORRE PELA BOCA
Como demonstra a repórter, “foram os whatsapps de Joselo Rodríguez os primeiros que confirmaram que a família presidencial brasileira estava supostamente por detrás do Grupo Léros que vinha ao Paraguai. O nome: Alexandre Luiz Giordano”. Empresas de Giordano ficam, casualmente, no mesmíssimo prédio onde havia funcionado, até o final de julho, a sede do diretório do PSL em São Paulo, atualmente presidido pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Entrevistada pela rádio ABC Cardinal, de Assunção, destaca Mabel, “Joselo foi mais longe”, confirmou a participação de Giordano na reunião de 10 de maio em nome da família Bolsonaro. “Em todas as conversações com este grupo empresarial (Léros), eles o primeiro que fazem é nos afirmar que têm o apoio do alto mando brasileiro para poder conseguir a autorização da importação de energia. Isso não me disseram somente a mim, isso o disseram nesta reunião pública” (sic). Nesta oportunidade, revela a jornalista, foi perguntado a Joselo Rodríguez: “O senador Alexandre Giordano, que forma parte da mesa de negociação da Léros, lhe disse que a empresa está vinculada à família presidencial do Brasil?”. Joselo respondeu: “Não só a mim, mas a todos os demais”.
O tsunami de informações que chegam de todos os cantos fortalecem na repórter a convicção de que, “no Brasil, vai se fechando o círculo que confirma a proximidade de Giordano com a família presidencial brasileira”. “É o homem que vinha no avião ao Paraguai para se reunir em suposto nome dos Bolsonaros junto com empresários do grupo Léros e com Joselo Rodríguez, quem citava o vice-presidente Velázquez”, frisou.
BOLSONARO TORNA SECRETAS VISITAS A PALÁCIO
A data e o local do encontro entre o negociador e Bolsonaro aprofundam a suspeição sobre a trama. Aliás, Bolsonaro já mandou decretar sigilo sobre todas as visitas que ele vai receber nos palácios do Alvorada e do Jaburu. Os registros sobre as visitas serão acessíveis apenas daqui a cinco anos. Ver matéria: https://horadopovo.com.br/laranja-torna-secretas-todas-as-visitas-a-bolsonaro-no-jaburu-e-no-alvorada/
LEONARDO WEXELL SEVERO