Só no mês de julho foram gastos com pagamento de juros R$ 80,1 bilhões. Em julho de 2023, o montante foi de R$ 46,1 bilhões
Em 12 meses até julho deste ano, o setor público gastou R$ 869,8 bilhões (7,73% do PIB) com pagamento de juros, segundo dados de “Estatísticas fiscais” do Banco Central (BC), divulgados nesta sexta-feira (30). Recursos que foram extraídos de toda sociedade brasileira e transferidos a bancos, especuladores e demais rentistas, por meio do pagamento dos juros da dívida pública.
O montante pago corresponde a R$ 228,5 bilhões a mais do que foi gasto pela União, estados/municípios e estatais para os mesmos 12 meses encerrados em julho de 2023 (R$ 641,3 bilhões).
Ou seja, em um ano, a atuação do BC em manter os juros elevados no Brasil gerou um gasto que é quase 8,8 vezes maior do que o corte de R$ 25,9 bilhões em despesas no Orçamento de 2025, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o objetivo de cumprir a meta fiscal – leia-se, reservar dinheiro para o pagamento dos juros.
Só no mês de julho de 2024, o gasto com os juros somou R$ 80,1 bilhões. Soma essa que é quase 7,8 vezes maior que o valor que a área econômica propõe cortar da Previdência Social, cerca de R$ 10,5 bilhões. Do total de R$ 25,9 bilhões cortados do Orçamento de 2025, além da Previdência (INSS e Reavaliação de Benefícios por Incapacidade), R$ 6,4 bilhões serão retirados do BPC (Benefício de Prestação Continuada) e de recursos de outros programas como Bolsa Família, Seguro Defesa e ProAgro, e demais rubricas que buscam preservar direitos sociais no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2025, que será enviado pelo governo ao Congresso Nacional no dia de hoje.
A farra dos juros deve avançar ainda mais sobre o orçamento público com a possibilidade de um novo aumento da taxa de juros da economia (Selic), pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em sua próxima reunião, que será realizada em setembro.
Em 19 de junho deste ano, o Copom interrompeu o ciclo de corte da Selic, iniciado em agosto de 2023, período em que a taxa base estava em 13,75%. Ao todo, foram seis cortes pingados de 0,5 ponto e um corte de 0,25 p.p, a cada reunião realizada pelo colegiado até março deste ano. Hoje a Selic está em 10,5% ao ano. Cada 1 ponto acrescido na taxa Selic eleva a dívida em R$ 47,9 bilhões, ou vice-versa.
Como a inflação está baixa e controlada no Brasil, os diretores do BC alardeiam agora para a possibilidade de que o “aquecimento” da economia gere uma futura pressão inflacionária no país. Para evitar esse cenário, o BC só vê uma alternativa que é apertar ainda mais a política monetária, via aumento dos juros, para desestimular o consumo, derrubar os investimentos e gerar desemprego.
O próximo presidente do BC, Gabriel Galípolo, já informou ao público que não teme ver sangue e que os diretores do BC estão “coesos” a fazer o que for necessário para perseguir a meta de inflação.
Para Galípolo, “a ideia de ser indicado para o BC sem possibilidade de aumentar juro não faz muito sentido”. “Está claro que todos os diretores estão dispostos a fazer o necessário para perseguir a meta”, disse o economista.
“Para mim, [essa ideia] se assemelha a um sujeito que foi estudar medicina, foi trabalhar no pronto-socorro, mas infelizmente não pode ver sangue, senão desmaia”, declarou Galípolo, no início de agosto”, em participação no 15º Congresso Brasileiro das Cooperativas de Crédito (Concred), em Belo Horizonte (MG).
O atual diretor de Política Monetária do BC é o indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para presidência do BC. O anúncio foi feito na última quarta-feira (28) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Palácio do Planalto.